M AGNATA DO ALIBABA ‘DESAPARECEU’ APÓS CRÍTICAS AO REGULADOR CHINÊS

Onde anda Jack Ma?

12 Jan. 2021 Valor Económico Gestão

BILIONÁRIO. Segundo homem mais rico da China e o 20.º mais rico do mundo anda desaparecido dos holofotes depois de criticar o sistema financeiro que acredita caduco.

Onde anda Jack Ma?
D.R

Desde 24 de outubro de 2020 que o vigésimo homem mais rico do mundo não é visto em público, facto surpreendente para quem acompanha Jack Ma e que o vê como uma das personalidades mais extrovertidas de entre o top dos multibilionários mundiais.

O desaparecimento dos holofotes aconteceu depois de um ainda mais surpreendente discurso, na cimeira Bund em Shangai, em que o dono da Alibaba e da Alipay, reconhecido comunicador exímio, leu de um papel nas mãos (coisa rara para quem normalmente discursa de improviso), críticas acintosas ao sistema financeiro da banca clássica, governada em grande parte pelo partido comunista chinês, pelo que descreveu como “mentalidade de loja de penhores”.

A critica ao sistema financeiro, em particular ao chinês, que classificou como anacrónico e desfasado ao ponto de não se coadunar com a revolução tecnológica que o mundo atravessa, valeu-lhe, acto contínuo, a suspensão do IPO (oferta pública inicial) da Ant, o seu conglomerado tecnológico. A operação estava estimada em 35 mil milhões de dólares e seria a maior operação de financiamento em bolsa de toda a História.

O Financial Times reporta que o discurso de 20 minutos, a que muitos já chamam “uma catastrófica provocação” ou “um momento caro de loucura”, custou cerca de 12,8 mil milhões de dólares de prejuízo por cada minuto. Mas as acções da Alibaba em bolsa não têm parado de perder valor à medida que os investidores se vão afastando do que entendem ser agora o alvo de uma verdadeira lição do governo de Xi Jinping ao atrevimento da iniciativa privada que perde a noção do ‘seu devido lugar’. Desde que o IPO foi suspenso não há qualquer indicação de nova data e foi instaurada uma investigação à Alipay empresa derivada da Ant, que controla a grande maioria das trasacções monetárias actualmente na China e à própria Alibaba, por práticas monopolistas e excesso de poder. A Alibaba, que se foca em comércio online como a Amazon, tornou-se mais poderosa por causa dos serviços financeiros que estendeu à população mais pobre que passou a poder fazer pequenos pagamentos via telemóvel. Foi tão bem sucedida que praticamente erradicou as trasacções em dinheiro em território chinês. Especula-se mesmo que a Alipay vá ser desmontada pelo Estado que se terá apercebido do quão poderosa se tornou nas mãos de alguém que pelos vistos quer confrontar o sistema.

Enquanto muitos analistas financeiros criticam a loucura momentânea de Ma, os mais liberais apontam o perigo do peso do Estado para a estabilidade da iniciativa privada na segunda maior economia do mundo e que pode atrapalhar a atractividade do gigante asiático para os empresários não alinhados com o sistema governativo.

O também ex-professor de inglês tornado multibilionário por iniciativa própria pode estar longe dos holofotes, sendo que já falhou duas marcações previas em que era suposto discursar em público, para deixar acalmar os ânimos e poder encetar contactos de bastidores que acalmem a fúria que provocou às autoridades chinesas. Há também especulação sobre se terá sido o próprio governo a limitar-lhe os movimentos e espera-se que em breve haja algum esclarecimento da situação.