Por que e quando um Presidente pode ser vaiado? Um Presidente pode e deve ser vaiado quando recebe um país com ciclos eleitorais estáveis, mas, ao ver aproximar-se o fim do seu tempo, alimenta o caos político total. Ora insinuando, por omissão, que não sai de jeito nenhum. Ora determinando, por palavras, que cabe a ele e apenas a ele decidir a escolha do Presidente que se segue, ignorando as eleições gerais consagradas na Constituição e as múltiplas candidaturas cristalizadas no estatuto do seu partido.

Um Presidente pode e deve ser vaiado quando, ao chegar ao poder, promete, de viva voz, o aprofundamento do Estado Democrático de Direito, mas, num piscar de olhos, arregimenta as instituições do Estado e aperfeiçoa-as como instrumentos cruciais do combate pessoal à oposição útil e de silenciamento das vozes contestatárias dentro do seu partido.

Um Presidente pode e deve ser vaiado quando, por meses a fio, se entreteve a diabolizar o reinado do seu antecessor de castração das liberdades, mas, quando menos esperava, o país começou a assistir ao desterro de activistas, de jornalistas, de críticos, enquanto outros permanecem acossados pela sombra da chantagem, da intimidação e do medo. 

Um Presidente pode e deve ser vaiado quando a Polícia, respondendo a desacatos de populares com pedras e paus, atira a matar contra pessoas, como quem caça veados em floresta aberta, e, no fim da caçada, o próprio Presidente exalta as execuções sumárias e declara vitória contra o povo. 

Um Presidente pode e deve ser vaiado quando, na presença de dados oficiais que espelham a tragédia económica e social, traduzida na subida pornográfica da pobreza e da miséria, nos níveis altíssimos do desemprego, no sufocante aumento do custo de vida e no êxodo sem precedentes no pós-guerra de jovens e de famílias inteiras, afirma alto e bom som que não percebe as razões para tanta emigração e que a fome até é relativa.   

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