Geralda Embaló

Geralda Embaló

Directora-geral adjunta do Valor Económico

Seja bem vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende, no final de uma semana em que a actualidade foi tomada pelos acontecimentos no aeroporto 4 de Fevereiro, quando uma delegação de cerca de 60 pessoas, com vários ex-presidentes e outras figuras da política internacional, como Venâncio Mondlane, ficaram várias horas retidas no aeroporto, algumas foram mandadas para trás, num show de musculação, deselegância e autoritarismo que é típico dos regimes que, como descrevia na semana passada neste espaço, ‘insistem em vestir o fato bonito da democracia que lhes fica pequeno e apertado demais’. “Vergonha” foi a palavra de ordem que se tornou cartão de visita nacional e que abafou outros acontecimentos que marcaram a actualidade como a queda de outro governo em Portugal o governo, desta vez por causa de uma avença mensal de 4500 euros a uma empresa do primeiro-ministro.

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende depois de uma semana em que entre nós se desenha mais um episódio da novela de mau gosto “oposição só a que eu permito”, um que mete ataques terroristas contra o presidente da nação mais poderosa do mundo em solo angolano, muita acção com uns pobres diabos alegadamente em posse de explosivos que, a avaliar pelo que foi apresentado, são meia dúzia de relíquias de guerra e que se quer fazer parecer perigosíssimos, e muito drama para continuar o combate a oponentes políticos prometido a Adalberto da Costa Júnior, com a assinatura dos nossos mais medíocres guionistas ao serviço da máquina política que comanda há cinquenta anos.

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde, vale sempre relembrar, perguntar não ofende, depois de uma semana em que o país chegou a duas centenas de mortos por cólera, 35 dos quais crianças. Com mais de cinco mil infectados até final da semana que passou, são 13 as regiões afetadas pelo surto, depois da chegada à província do Cubango que já não é Kuando. Angola figura, segundo o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças entre os cinco países do mundo com mais casos de cólera. Mais grave, Angola é o único país entre esses cinco que lideram este ranking de miséria e morte, em paz há muito tempo. 

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana em que o Trumpismo impactou directamente a actualidade nacional e em que celebrou um mês de rebuliço mundial anunciado como “um mês histórico pela administração americana". Nesse mês a administração Trump está a celebrar o fim das politicas de promoção da diversidade e espalhando o racismo e o pânico entre a comunidade gay como se a orientação sexual fosse simples escolha, o renomear do Golfo do México para Golfo da América para exaltação nacionalista (e meios de comunicação que não alinham são expulsos), de cortes de gastos do tesouro americano que levaram Elon Musk a girar num palco com uma serra eléctrica nas mãos em sinal dos cortes que tem feito. Celebra também o atirar de deportados para a prisão de Guantánamo Bay, a restauração da pena de morte em estados que já a tinham abolido, o abandono da Europa no apoio à guerra entre a Rússia e a Ucrânia (que foram os EUA a impulsionar), Trump fez questão de dizer que o presidente ucranianio “destruiu o seu pais e que fez um trabalho péssimo”, um mês que celebra o lançamento do caos entre todos os programas com algum patrocínio do EUA que são muitos pelo mundo fora, porque não é por acaso que os EUA são o país mais influente do mundo. Enfim um mês de terror e incerteza para milhões de pessoas que de alguma forma directa ou indirecta são afectadas pelas novas políticas.   

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana marcada entre nós pelas discussões em torno das condecorações que a Assembleia Nacional vai atribuir por conta da comemoração dos 50 anos da Independência - uma discussão com o patrocínio e promoção evidente do partido no poder... “discutam este assunto, falem deste em vez de da corrupção, que era bandeira de combate, mas que enferma cada vez mais o sistema de modo que os escândalos, uns atrás uns dos outros são imparáveis...” Falem das condecorações e de que Holden Roberto merece mais do que Eduardo dos Santos, em vez de falarem sobre o valor absurdo dos relógios do representante máximo de um povo que, ao contrário da representatividade, definha na miséria e passa fome. Falem das condecorações e de quem as merece mais ou merece menos, em vez de falarem nos roubos na instituição cobradora de impostos que devia ser da mais absoluta seriedade