ZUNGUEIRA
Geralda Embaló

Geralda Embaló

Directora-geral adjunta do Valor Económico

Seja bem-vindo, querido leitor, a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana marcada por mais protestos de governados contra governantes em África. Na Tanzânia, milhares de jovens invadiram as ruas em protesto contra a exclusão de candidatos que abriu o caminho para a vitória de Samia Hassan… O poder embriaga  e embriaga completamente… Nem a primeira mulher presidente do país consegue resistir e fazer diferente. As forças de segurança mataram protestantes que deviam defender; a internet foi cortada; os hospitais foram proibidos de divulgar informação a jornalistas sobre mortos e feridos; enfim, o guião ditatorial do costume que tudo faz para tirar o poder de escolha das mãos do povo.

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana marcada a nível internacional pelo pequeno Muhammad al Hallaq que estava a jogar futebol depois de vir da escola, como porventura fazia ao longo de grande parte dos seus apenas 10 aninhos, quando foi abatido a tiro por um soldado israelita que disparou indiscriminadamente a partir de um carro e o matou. Muhamad, cujo crime foi nascer no sítio errado, junta-se a mais de 20 mil crianças mortas e aos pelo menos 67 mil novecentos e sessenta e sete mortos contabilizados desde que Israel deu início ao genocídio que leva a cabo aos olhos do mundo com a complacência de muitos líderes mundiais com raras e corajosas excepções.

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana que terminou com a atribuição do Prémio Nobel a Maria Corina Machado, uma opositora de maduro na Venezuela (talvez o factor mais relevante) para irritação da Casa Branca que até um acordo entre o Hamas e Israel conseguiu tirar da cartola ao último minuto antes do anúncio, tal era a insistência da candidatura de Trump ao prémio Nobel. O Comité de Protecção dos Jornalistas estava entre os candidatos com outras instituições de apoio social e à democracia pelo trabalho em defesa dos jornalistas particularmente relevante no ano que passou em Gaza. Mas Maria Corina Machado, é uma mulher que faz política num contexto em que a democracia e o respeito pelos direitos humanos também se fazem escassos e em que a pobreza é o dia a dia de cerca de 90% da população. Uma taxa superior à de Angola com os seus mais de 80% e que vive igualmente um contexto de democracia “faz de conta que respeitamos a vontade do povo nos pleitos”.

Seja bem-vindo, querido leitor, a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana marcada a nível internacional por notícias de condenações à pena de morte.

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde, já sabe, perguntar não ofende, no final de uma semana marcada a nível mundial pela cimeira da ONU, actualidade internacional de resto intersecional porque marca também a actualidade interna devido à presença do chefe de Estado e do estado de coisas na mesma tribuna onde Lula da Silva disse que “o mundo vive a consolidação de uma desordem internacional marcada por concessões à politica do poder”, onde Donald Trump disse que a conversa sobre as alterações climáticas é uma vigarice”, e onde Benjamim Netanyahu, descrito pelo presidente colombiano como Nazi, e procurado pelo TPI por crimes de guerra, falou para uma sala com muitos lugares vazios de onde ostensivamente grande parte dos participantes saiu para não o ouvir em sinal de nojo pelo genocídio que o seu governo leva a cabo em Gaza.