E agora pergunto eu...
Seja bem-vindo, querido leitor, a este seu espaço onde perguntar não ofende, o último de 2025, e que começa pelo importante, por lhe desejar a si, querido leitor, bom Natal, bom Ano Novo, ou boas festas, dependendo da sua condição, finanças ou credos, mas sempre na companhia dos seus.
O fim do ano é quase sempre um período de balanços, de sopesar escolhas, de avaliar resultados, de retroespectivas úteis para pavimentar as promessas de renovação, de novos projectos, de novas respostas, de aperfeiçoamento. Um exercício que tem utilidade a nível pessoal, mas teria ainda mais a nível macro, pois multiplicaria os efeitos positivos para as nações e, consequentemente, para a humanidade.
A nível internacional, 2025 para não fugir à regra, teve a actualidade marcada pelos acontecimentos nos EUA porque o principal competidor pela liderança geopolítica, a China, é mais discreta em termos de headlines, tem maior controle sobre o que se diz do país pelo mundo fora, e Xi Jinping é também a antítese de Trump em termos de mediatismo - a imagem da serenidade versus a da confusão personificada.
A principal busca online de 2025 foi por exemplo o encontro na Casa Branca em que Donald Trump recebeu Volodomir Zelensky, que foi maltratado e humilhado a cores e ao vivo. Até com o uniforme do ucraniano criaram uma implicação que seria impensável com outros líderes que não usam fato na Casa Branca (como o saudita, por exemplo), uma deselegância pespegada que aliás foi marcando a presidência do retornado à Casa Branca em janeiro.
Trump marcou o ano também com o anúncio das tarifas para todos, que depois foi renegociando de acordo com as suas prioridades em diferentes encontros, e marcou o ano com as suas tentativas de paz e de guerra aqui e ali. Declarou uma guerra surda à NATO onde foi dizer que os outros deviam pagar seguranças aos EUA, às Nações Unidas onde disse novamente que os temas do clima são para enganar a opinião pública, contra a União Europeia - deixando zonzos os europeus que estão acostumados a seguir cegamente a batuta americana - contra a Venezuela, que marcou a actualidade mundial da semana com um episódio de confisco de petróleo venezuelano e ameaças de acção militar americana em terra. Tudo enquanto simultaneamente se assume merecedor do Nobel da Paz pela paz tentada, mas mal-sucedida nos conflitos Rússia/Ucrânia, depois mais ambicioso com Israel contra Gaza e depois ainda com o Ruanda versus RDC – nenhum dos acordos vigou verdadeiramente. O Ruanda nem tão pouco tinha cessado hostilidades ou presença na RDC quando foi assinar o tal acordo e não há notícias ou perspectivas de que o venha a fazer. A guerra em Gaza e a guerra na Ucrânia, bem como a guerra a que o mundo não liga porque são “só africanos a sofrer” - a do Sudão, continuam todas a arrastar-se até 2026.
África de resto continuou igual a si própria em termos de lideranças surdas, com golpes administrativos, autogolpes, golpes de Estado, eleições tornadas irrelevantes, ignoradas com jovens silenciados à bala por protestarem contra o que à vista de todos está mal. Moçambique, Tanzânia, Madagáscar, Guiné-Bissau, Togo... Um desassossego de lés a lés que vai solidificando a teoria de que África e democracia juntas são iguais à utopia. Que vem bem propósito pela época de fim de ano e por relembrar a geração da utopia de Pepetela, e todo aquele trago a desilusão, a traição de ideais trocados pela ambição, mas que começa com o portanto do meio da história e termina com o portanto da história inacabada e que por isso continua e que por continuar contém em si mesma o elixir da esperança.
O exercício costumeiro do balanço anual, que encerra o ano para que o próximo corrija erros e seja melhor, com o passar dos anos, vai parecendo cada vez mais estranho, pouco familiar ao nosso executivo. Pelo menos, a avaliar pela mesmice desinspirada em que anda mergulhada a governação, que não parece trazer promessas de dias melhores no que iria interessar e beneficiar a maioria, dias objectivamente melhores a nível socioeconómico, melhores condições de vida e qualidade de vida.
Apesar de todas as festas de todos os eventos, das conferências internacionais, da vinda do Messi, o messias do futebol, apesar de dois carnavais, de novas instalações inauguradas - esta semana a marcar a actualidade esteve a inauguração da nova sede do partido no poder - e agora pergunto eu, quem terá pagado a conta? O partido ou o Estado que continuam a ser tratados como um só?
Apesar de todas as luzes, holofotes, corta-fitas e demais eventos para assinalar os 50 anos de Independência, foi mais um ano como os anteriores, em que a vida da maioria andou focada na sobrevivência dura, no procurar o pão diário num contexto de desemprego elevado, de muita informalidade na economia, de muita incerteza. Foi mais um ano de saúde doente, de cólera de falta de saneamento a proliferar doenças, mais um ano de transportes perto da inexistência, mais um ano de escolas de pau a pique inundadas, de milhões de crianças fora do sistema de ensino e em escolas sem latrinas. Mais um ano de justiça da Disney em que somos todos obrigados a assistir à manipulação dos tribunais (ao “queres ser candidato, PGR agarraaaa que é bandido” – vale lembrar que a mentalidade da liderança é a de olhar para a oposição como bandidos e isso mesmo expressou ainda enquanto candidato numa visita a Moçambique em que disse que a oposição eram “uns malandros”).
Mas 2025 foi mais um ano de aprovação de leis sem utilidade pública, apenas para o cumprimento de agendas políticas, de manifestações em que angolanos foram mortos pelo poder com total impunidade, mais um ano sem combate verdadeiro à pobreza, em que os angolanos continuaram a fugir do país como ‘o diabo da cruz’ a qualquer oportunidade. Mais um ano sem segurança social de braço dado com os despesismos acéfalos a que o poder voador já nos habituou. Mesmice desinspirada. 2026 entretanto está à porta e cheio de perguntas para acompanhar. Como vai evoluir a alergia do chefe à oposição interna e externa? Até onde os militontos vão permitir ser tratados como tontos de facto? Que soluções a equipa económica trará para o período pré-eleitoral – provavelmente mais dívida cada vez mais cara... a ver vamos o que tiram da cartola porque o investimento estrangeiro continua a não vir no desejável porque Angola continua a não ser um país bom para os seus... Quando tivermos condições de vida, capacidade de aquisição colectiva, educação, saúde, qualidade de vida, o investimento naturalmente se seguirá. Portanto, ao jeito de Pepetela, — querido leitor, é sempre com esperança que marcamos encontro até 2026, aqui e na sua Rádio Essencial.




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