Cantina
Geralda Embaló

Geralda Embaló

Directora-geral adjunta do Valor Económico

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana em que a actualidade internacional foi marcada pelas comemorações do Dia da Vitória, que assinala o fim da segunda grande guerra há 80 anos, em Beijing, na China, que só não receberam mais cobertura mediática por causa das caras nas fotografias... ao lado de Xi Jinping, um sorridente Vladimir Putin, e outro sorridente Kim Jong Um - muita aversão à democracia junta num click. Segundo alguma media o presidente chinês e o russo discutiram animadamente os avanços tecnológicos na área do transplante de órgãos que, segundo a conversa, são de tal ordem que permitem a imortalidade. Líderes eternos, só a sugestão já entra na esfera do terrorismo, imagina-se que o ditador que se quer tornar eterno tem a competência do nosso, em vez da de um Xi Jinping?

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana em que a actualidade internacional seguiu marcada pelas ameaças de nova guerra por parte do candidato a Nobel da Paz Donald Trump ou pelo menos do que se parece com um preparar de narrativa para justificar uma guerra ou intervenção militar na Venezuela com acusações sérias e algo desacompanhadas de provas.

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende numa semana em que o jornalismo esteve e está sob ataque aqui e em outras partes do mundo. Soa sempre algo umbiguista quando um jornalista fala de ataques ao jornalismo porque para a audiência há sempre problemas maiores, problemas com escala comunitária ou nacional, problemas mais graves que afectam continentes inteiros... No entanto, quando o mensageiro é atacado, não é apenas a mensagem que se perde, são frequentemente os olhos e os ouvidos das nações dos seus povos, governos e do mundo que se fecham e se fecham frequentemente para a realidade dos mais vulneráveis. É pelo perigo de nos tornarmos cegos, surdos e, por consequência, mudos, que a liberdade de imprensa, o acesso à informação e a liberdade de expressão são direitos humanos inalienáveis.

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana em que a actualidade entre nós esteve tão densa que nem animava olhar para a actualidade do resto do mundo. Depois da semana anterior termos assistido ao caos em Luanda e outras capitais de província pelo país fora, de termos assistido ao assassinato de cidadãos desarmados pelas forças da ordem, de termos visto o presidente ler um comunicado que, para evitar os seus desaires do costume terá sido mais provavelmente escrito por outrem presumivelmente até à parte em que ‘os autores saíram derrotados’ - essa passagem já soa mais característica do chefe. 

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana em que a nossa actualidade andou marcada por protestos violentos e que se tornaram sangrentos e em que, ao contrário de muitas vozes que cobravam uma intervenção pública do chefe de Estado e do estado de coisas, pessoalmente, e a avaliar pela qualidade das intervenções públicas que o chefe faz frequentemente, eu não tinha qualquer pressa em ouvir o que teria para dizer.