ENSAIO SOBRE A MENTIRA
Apesar das razoáveis diferenças semânticas, em termos de substância, a contradição e a mentira muitas vezes são indiscrimináveis na política. Assim como se confundem, em quase todos os casos, a irresponsabilidade e a tolice.

Em Abril do ano passado, a directora do Hospital Materno Infantil Azancot de Menezes verbalizou o que lhe pareceu a solução para acabar-se com a prática dos familiares dos doentes que dormem às portas dos hospitais. Para Maria Manuela Mendes, os investidores privados tinham de fazer a sua parte, construindo pensões (hospe-darias) nas cercanias dos hospitais. Julgando-se esclarecida, até fez questão de sublinhar que era assim que se fazia em todo o mundo. Passado quase um ano, é fácil apostar que muitos angolanos que a ouviram andarão até hoje a perguntar-se se a gestora do hospital fez aquela afirmação por leviandade ou por ingenuidade. Mais do que isso, se o mundo a que ele se referiu é exactamente o mesmo em que habitam os seres humanos do século vinte e um. Seja qual for a resposta, a questão essencial é desastrosa. Precipita inevitavelmente a conclusão de que uma gestora de uma instituição tão importante não tem a menor ideia do país em que está e das razões de fundo dos problemas que gere. Ainda assim, por muito demolidoras que se estimam, a inconsciência e a inocência serão provavelmente mais toleradas na política. Pelo menos do ponto de vista moral e ético. Até porque, com lupa e lanterna, será mais fácil perceber-se em cada caso concreto onde houve irreflexão e onde triunfou a estupidez. Pelo menos em teoria.
Mais difícil será dizer-se o mesmo em relação à mentira e à contradição. Ao contrário da leviandade e da tolice, a mentira e a contradição, igualmente indistinguíveis na política, alertam quase que instintivamente para questões de carácter. Justamente por essa razão tendem a provocar mais repulsa. Porque se parte do princípio de que o político que faz da contradição uma espécie de estilo de vida está conscientemente mais propenso para servir-se da mentira de forma descarada. Ou seja, salvo na presença de algum diagnóstico médico, o político mente de forma consciente e propositada, invariavelmente quando se vê confrontando entre a espada e a parede.
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