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Quénia

Oposição boicota eleições presidenciais

27 Oct. 2017 Valor Económico Mundo

Os quenianos votavam nesta quinta-feira (26), em um tensa eleição presidencial, boicotada pela oposição e já marcada pela morte de quatro pessoas em violentos confrontos com a Polícia.

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Convocados após a anulação das eleições presidenciais de Agosto, esperava-se que nestas eleições fosse reeleito com ampla vantagem o presidente Uhuru Kenyatta, de 56 anos, diante do boicote de seu principal opositor, Raila Odinga, de 72 anos. Kenyatta esperava contar com a participação para ter uma certa legitimidade democrática, mas os eleitores evitaram as urnas em grande medida.

Às 17 horas a participação era de 48%, uma forte queda com relação aos 79% das eleições de Agosto - invalidados pela justiça por "irregularidades" -, anunciou o presidente da comissão eleitoral (IEBC), Wafula Chebukati. Quase 19,6 milhões de eleitores estavam em tese convocados às urnas em 40 mil 883 secções de votação em todo o país.

O líder opositor, Raila Odinga, que em 10 de Outubro retirou sua candidatura, chamou seus partidários a boicotar as eleições "ficando em casa", avaliando que as condições para uma consulta transparente e justa não estavam reunidas.

Mas nem todos os partidários seguiram a orientação. E ao contrário da votação de Agosto, que transcorreu em calma, nesta quinta-feira houve vários confrontos violentos entre opositores e a Polícia. Ao menos quatro pessoas morreram atingidas por tiro e dezenas ficaram feridas, segundo fontes policiais e hospitalares. Três homens morreram na comunidade de Mathare em Nairobi e nas cidades de Kisumu e Homa Bay, no oeste.

A Polícia informou à noite que outra pessoa morreu devido a um ferimento em uma perna em Kisumu. Segundo o chefe do IEBC, ao menos 87 % das secções eleitorais abriram. Mas no oeste, a maioria permaneceu fechada, já que o material para a campanha não tinha chegado e os agentes eleitorais temiam por sua segurança. Isso levou a Comissão Eleitoral a adiar a votação até o sábado em quatro comarcas do país."É uma loucura, estão atirando em nós.

Nos manifestamos e atiram em nós. Que tipo de país é este?", declarou à AFP Samuel Okot, de 20 anos, que estava em um hospital de Kisumu com um amigo ferido a bala em um joelho. "Não queremos esta eleição, não gostamos de Kenyatta, o que queremos é a mudança. Que a IEBC faça reformas e depois eleições verdadeiras", disse à AFP Joseph Ochyeng, um manifestante de 26 anos em Kisumu. Diante de novas eleições, a IEBC fez algumas reformas, mas a oposição avalia que a instância é parcial e maioritariamente controlada pelo governo.

Mais de 40 pessoas morreram desde 8 de Agosto, a maioria pela repressão policial, segundo as ONGs. Em 8 de Agosto, Kenyatta venceu com 54,27 % dos votos contra 44,74 porcento para Odinga.

Mas as eleições foram invalidadas pela Suprema Corte, que detectou irregularidades na transmissão de resultados, responsabilizando a IEBC. Odinga, candidato às presidenciais em 1997, 2007 e 2013, pressionou para que a Comissão Eleitoral fizesse reformas, que considerou tímidas. Ele anunciou que retirava sua candidatura, mas seu nome foi mantido nas cédulas eleitorais, junto com os de outros candidatos.

Antes desta quinta-feira, o próprio presidente da Comissão, Wafula Chebukati, admitiu que a instância não podia garantir eleições confiáveis. Kenyatta, líder da etnia kikuyu, maioritária no país e filho do pai da independência, Jomo Kenyatta, seria reeleito, embora não de forma imediata pela quantidade de recursos que a oposição poderia interpor. É a pior crise política da última década.

As profundas divisões sociais e étnicas do Quénia, um país com 48 milhões de habitantes, ressurgiram. Teme-se que se reproduzam os incidentes desatados depois das presidenciais de 2007, que mergulhou o país na pior violência política e étnica desde sua independência em 1963, que deixou mil 100 mortos.