Seja bem-vindo, querido leitor, a este seu espaço onde perguntar não ofende depois de uma semana marcada a nível internacional pela eleição no estado americano de Nova Iorque de um imigrante nascido em Kampala, no Uganda, um jovem, 34 anos apenas, muçulmano e de esquerda, a quem Trump apelida de comunista. Zohran Mamdani ganhou o Estado que viu nascer Donald Trump, que leva assim a primeira grande derrota desde que assumiu a presidência dos EUA, ele que apoiou fervorosamente o opositor de Mamdani nas eleições.

A razão pela qual essa eleição marca não só a actualidade americana, mas a mundial, é para além de serem exemplo do poder e necessidade de autárquicas que continuamos a ver de longe, o facto do pleito servir de exemplo, de case study, para o resto do mundo, particularmente para África, onde as eleições são tão frequentemente marejadas de dúvidas, senão completa e abertamente questionáveis. Como a última que o presidente da União Africana e de Angola, reconheceu recentemente ao dar os parabéns a Samia Hassan. Um reconhecimento que veio mesmo apesar da SADC, a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, de que Angola também é estado-membro, que foi observadora do pleito, num raro rasgo de intervencionismo útil, comunicar que “as eleições na Tanzânia “ficaram aquém dos princípios e diretrizes da SADC que regem as eleições democráticas.” Que foram “fraudulentas e não cumpriram a vontade popular”. Uma desfeita ao legado democrático de um país que era exemplo de democracia no continente, mas que leva a questionar — e agora pergunto eu — porque é que o presidente da União Africana e de Angola se apressou a validar uma eleição que a missão observadora da SADC declara claramente fraudulenta? Sem surpresa, outro que lhe seguiu à batuta foi o presidente moçambicano… porque será?

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