‘A geração nem… nem…’
Se ainda não conhece o conceito de ‘geração nem… nem…’, com certeza, conhece alguém que se enquadra nele. O conceito de ‘geração nem… nem…’ já tem sido utilizado em alguns países como o Brasil e Portugal. Serve para classificar os jovens que não trabalham e não estudam, ou seja, jovens que “nem trabalham, nem estudam”. Trazendo a expressão para a realidade angolana, seria pertinente perceber qual a verdadeira dimensão da ‘geração nem… nem…’ no nosso país. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística de Angola (2014), último censo realizado, a taxa de desemprego em Angola rondava os 24%, atingindo sobretudo a população jovem. Relativamente à educação, os dados do referido censo indicam que a percentagem dos jovens angolanos, entre os 18 e os 24 anos, que completaram o ensino secundário rondava apenas os 13%. Estes dados são reveladores de uma realidade bastante preocupante e merecem a devida atenção. A questão da ‘geração nem… nem…’ é uma responsabilidade e, ao mesmo tempo, um problema a vários níveis: a nível macro (sociedade), a nível intermédio (Estado) e a nível micro (indivíduo).
Quanto à responsabilidade da sociedade perante tal fenómeno, cabe-lhe edificar-se sobre valores que promovam a integração profissional e académica – mas estes valores não se constroem sem políticas e padrões culturais que os suportem. Relativamente ao Estado, cabe-lhe desenvolver políticas que visem o aumento da empregabilidade e da escolaridade, conjuntamente com os seus parceiros sociais. Por fim, o indivíduo que deve ser responsável por desenvolver as suas competências profissionais, através da educação e da formação, de forma a potenciar a sua empregabilidade, que deve procurar de forma activa.
Numa perspectiva de integração na sociedade, os jovens enquadráveis na ‘geração nem… nem…’ correm, por um lado, o risco de serem marginalizados por outros grupos sociais, que os vêem como um peso para a sociedade, para a qual todos devíamos contribuir. Por outro, podem esses mesmos jovens sentir-se à margem da sociedade, por não trabalharem e não estudarem. Esta marginalização é um factor que acaba por retroalimentar o estado de ‘nem… nem…’.
Um dos principais problemas do Estado perante este fenómeno prende-se com a situação contributiva destes jovens. Uma vez que não trabalham, também não fazem a devida contribuição para as receitas do Estado, acabando por ser um peso nas políticas sociais definidas, hoje e no futuro.
A nível individual, a ‘geração nem… nem…’ é um problema porque se tende a perpetuar, dado que os outros jovens estão a desenvolver as suas competências, em contexto escolar ou profissional, tornando-se mais atractivos para o mercado de trabalho, o que tornará cada vez mais difícil a inserção futura dos indivíduos ‘nem… nem…’.
Causas
Se, em alguns casos, fazer parte da ‘geração nem… nem…’ é uma escolha dos jovens enquadráveis neste conceito, para outros acaba por ser uma consequência de uma determina situação. Vários especialistas apontam a crise económico-financeira como um dos principais factores que contribui para o aumento da ‘geração nem… nem…’. A crise, que se generalizou por todas as partes do mundo, fez com que o mercado laboral se tornasse mais complexo, havendo cada vez menos oportunidades de emprego para muita procura. Muitos dos jovens recém-graduados acabam por ser afectados por esta dura realidade do mercado laboral. Por outro lado, aqueles que não possuem, no mínimo, habilitações básicas ou secundárias, ficam numa situação mais delicada – e esta é uma situação que nem sempre depende da escolha individual…
A ‘geração nem…nem…’ são os jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho nem no sistema de ensino. Sabemos que cada uma destas situações poderá levar à outra. Devido à falta de emprego, por parte dos jovens ou dos seus familiares, muitos podem ser obrigados a abandonar os seus estudos. A falta de habilitações académicas, por outro lado, leva à maior dificuldade para encontrar um emprego.
É preciso reflectir sobre esta temática, que é uma realidade presente no contexto angolano, a nível da sociedade, das comunidades, a nível familiar e individual. A consciência da importância da contribuição de todos para uma sociedade mais desenvolvida e mais próspera é fundamental. Mas é também preciso agir, a nível das políticas sociais, de ensino, de formação e de emprego.
Edivaldo João, Counsultant EY, People Advisory Services
Marta Santos, Associate Partner EY, People Advisory Services
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