CHOQUES ELÉCTRICOS
O Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola recordou, na última semana, as estatísticas que ditam a realidade do sector energético no país. Não se podia esperar outra coisa do estudo senão a confirmação das graves insuficiências na oferta de electricidade, situação que se reflecte no verdadeiro drama que as famílias e as empresas vivem no dia-a-dia. Os números, especialmente no segmento da distribuição, não deixam sombra de dúvidas. Pelos cálculos apresentados pelo CEIC, menos de um quinto da população total tem acesso à electricidade. Com a última actualização da população a indicar que os angolanos já estão acima dos 28 milhões de habitantes, o relatório ‘Energia em Angola 2016’ diz que pouco mais de 5,2 milhões de habitantes tem acesso à eletctricidade. Luanda, que, nos mais variados domínios, continua a confundir-se com a totalidade do país, representa 70% do consumo total. Isto significa que o conjunto das demais 17 províncias que reclamam cerca de três terços da população, em termos de electricidade, repartem os restantes 30%. Mas o estudo refresca as memórias com outros indicadores nada reconfortantes. Em termos de distribuição por função, o consumo doméstico representa quase metade (45%) da elecrticidade disponível. Os serviços somam 32%, ao passo que a indústria se fica pelos 8%.
Para o discurso oficial, é muito fácil buscar o argumento da guerra para explicar a razão dos factos, o que não é, no todo, despropositado. Uma semana após a comemoração sobre os 15 anos de paz, deve reconhecer-se, com frieza, que a guerra responde em parte pelo gigantesco défice na produção e fornecimento de energia eléctrica, ao ponto de Angola ser ultrapassada pela generalidade dos países vizinhos e da região que, em média, chegam a canalizar 40% da carga disponível para o sector industrial. Mas, ao mesmo tempo que se admite que o factor guerra não é ignorável, deve apontar-se o impacto da má gestão dos recursos do Estado e do desvio de somas incalculáveis do erário sobre o atraso no arranque de vários projectos hoje em curso e de tantos outros planificados.
Já há algum tempo que se sabe que o Governo projectou a construção de vários aproveitamentos hidroeléctricos no médio Kwanza, além dos três já existentes (Capanda, Cambambe e o mais recentemente inaugurado Laúca). Caculo-Cabaça, Zenzo 1, Zenzo 2, Luíme e Tumulo do Caçador poderão ser os próximos a seguir-se, no conjunto dos mais de 10 aproveitamentos hidroeléctricos possíveis no Kwanza. Houvesse antes maior consciência sobre o papel vital da energia eléctrica em todo o processo de crescimento e desenvolvimento económico e social, alguns desses projectos já estariam, no mínimo, na fase em que Laúca se encontra. Porque, apesar da guerra, nesses 15 anos, o país produziu recursos financeiros suficientes que permitiram a que hoje mais angolanos tivessem acesso à energia e mais indústrias dispensassem as fontes alternativas que encarecem sobremaneira os custos de produção.
Hoje, com a agenda da diversificação económica encalhada, precisamente por factores em que se incluem a incapacidade de oferta de electricidade, nada mais resta do que correr verdadeiramente atrás do prejuízo. Porque a alternativa é mais do que um choque eléctrico. É a falência geral.
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