Cresce o avanço tecnológico na guerra da Ucrânia
O desenrolar desta guerra conhece, desde finais do semestre passado, importante alteração no sentido de maior capacidade de ataque das forças ucranianas, em função de dois fatores principais.
O primeiro é o aumento da experiência dos soldados e comando ucranianos com quase um ano de guerra, elemento formativo equivalente ao currículo de uma escola de guerra clássica, potenciado quando parte do efetivo está com coragem. No caso, esta parte representa percentual muito elevado, tudo indicando que bem mais elevado que no contingente russo, com menos motivos para arriscar.
O segundo elemento é a qualidade e quantidade do armamento ocidental. Até certos círculos de estudos estratégicos na Europa e Estados Unidos se surpreenderam com a existência operativa de tal armamento. O sistema de misseis Himars tem largo destaque no poder ofensivo e na ousadia ucraniana. Em termos gerais faz parte da artilharia autopropulsada, porém, é um sistema capaz de lançamento simultâneo de seis projeteis com range de 80 quilómetros e excelente nível de dissimulação, fazendo trajetória baixa e escapando à visão radar.
Neste momento, a Ucrânia possuiria doze desses sistemas, não sendo de admirar se possuir mais. Os números disponíveis são, nestas situações, ainda mais disfarçados que habitualmente. Vamos considerá-los como ordens de grandeza apenas. Mas Zelensky tem razão para acreditar na ausência de retaguardas inalcançáveis do exército russo em território ucraniano. Ainda assim, os Himars não são a última palavra em tecnologia desse tipo fabricado pelos Estados Unidos, pois têm material com alcance de 300 quilómetros. Não entregam até aqui por receio que possa ser usado contra território russo, arrastando confronto direto com a OTAN.
A artilharia autopropulsada (SPA), pela sofisticação e mobilidade já tinha subido ao primeiro plano antes da atual conjuntura. O Global Fire Power situa a Ucrânia em sexto lugar mundial nesse item contra o primeiro lugar da Rússia, ou seja, proximidade específica se considerarmos os rankings de poder militar total, onde a Rússia é a segunda potência e a Ucrânia 22 ª.
No passado fim de semana, o diário francês “Le Monde” referia várias vezes calibre 155mm para material diverso enviado à Ucrânia, desde o Excalibur da Canadá ao Caeser francês, também de guidagem GPS, decorrendo uma precisão que dispensa o fogo de saturação (lançamento de múltiplos projeteis no mesmo alvo para aumentar as chances de acertar).
A logística ocidental revela ao mesmo tempo um nível de gestão muito elevado não só com os fornecimentos, que diminuem a disparidade entre o poder de fogo dos beligerantes, mas também com a rápida formação de pessoal no bom conhecimento da arma, atitude mental de confiança e rapidez de decisão no deslocamento da SPA.
Com este suporte, o peso dos dois orçamentos militares em guerra assume valor relativo. A Rússia tem uma despesa militar prevista para este ano da ordem dos 154 MM de USD, enquanto a Ucrânia fica pelos 11,8 (Global Fire Power), mas o armamento sofisticado recebido por Kiev é adicional grátis ou para pagamento sine die.
A vulnerabilidade da Ucrânia está no espaço aéreo como ficou patente na vaga russa de misseis em retaliação á sabotagem da ponte da Crimeia. As notícias decorrentes de declarações, mais ou menos explicitas, de líderes ocidentais são de fornecimento dos “escudos” a curto prazo. Talvez semelhantes aos existentes em Israel e não será surpresa se a transferência de tecnologia vier de Tel-Aviv, até porque a Rússia está em rota de aproximação com o regime iraniano.
O que é certo é estar em andamento uma corrida de reconhecimento e espionagem em torno das localizações iniciais dessas defesas. Por pouco que seja, leva algum tempo a montar sendo, portanto, momento de vulnerabilidade. Uma corrida que prosseguirá depois em torno das rotas de deslocamento. Uns camuflando e outros procurando descobrir. Já é isso que se passa em torno da SPA, desde o velho binóculo a satélites..
*O autor escreve conforme
o acordo ortográfico
BCI fica com edifício do Big One por ordem do Tribunal de...