E agora pergunto eu...
A actualidade a nível mundial foi marcada esta semana por mais uma daquelas demonstrações de como a tendência do ser humano para procurar as diferenças,
o que o separa dos outros mais do que o que aproxima, pode ser capitalizada por política sem escrúpulos. A guerra de 11 dias em gaza, num dos conflitos mais antigos e mais complexos do mundo que opõe judeus a árabes na Palestina, voltou a reacender, e deixou um rasto de feridos, mais concretamente 1620 e 227 mortos,
64 dos quais crianças. Isto para além da destruição de infra-estruturas que vão desde hospitais a edifícios, estradas fornecimento eléctrico e de comunicação
O Comité de Protecção de Jornalistas, instituição sedeada nos EUA que como outras na Europa vela pela liberdade de imprensa e vida dos jornalistas em todo o mundo, e para que comecei recentemente a trabalhar, reportou a morte de um jornalista e a destruição das instalações de 18 meios de comunicação no que parece evidente ser uma tentativa de calar os media palestinos por parte da política Israelita.
A boa notícia é que foi na semana passada anunciado um cessar-fogo que vai deixar chegar ajuda humanitária à Faixa de Gaza que tem ali encurralados pouco mais de dois milhões de pessoas numa área de 365 km. E, enquanto essa notícia fazia manchete na nossa média pública era manchete mais um abandono de centenas de militantes do partido da Unita. Mas e agora pergunto eu e muita gente que já anda enjoada com o conceito de serviço público ser confundido e atropelado pelo de serviço partidário, porque diabo é que a saída de militantes da Unita ainda é notícia? Quanto mais não seja pela quantidade de vezes que o fenómeno acontece, já deixou de ser novidade com qualquer tipo de relevância noticiosa. Francamente.
Preocupa-me cada vez mais a forma como o sistema político usa e abusa da média pública, que é paga pelo Estado, para a sua agenda “militonta” para usar a expressão tão adequada do jornal Folha8.
E preocupa-me cada vez mais porque a dita agenda ‘militonta’ não se preocupa com a associação de jornalistas que usa com a política reles que faz, e preocupa-me que a populaça que é facilmente agitável, identifique cada vez mais unicamente esses jornalistas com essa agenda militonta, dirigindo-lhes como resultado ressentimentos indevidos. E em Angola, se há algo que ficou provado por João Lourenço, é que o paradigma político pode mudar e com uma rapidez vertiginosa transformar deuses em pedintes e santos em pecadores...
Esta semana numa das reuniões diárias do Comité de Protecção de Jornalistas, uma colega que cobre sobretudo a região oriental de África, explicava que no Quénia está a acontecer uma situação dessas que deve servir de exemplo para a classe em África onde o panorama político é volátil. A situação do Quénia é complicada por etnicidades e por tribalismos, mas afecta os jornalistas locais de forma directa, tudo por causa da política.
Então essa colega explicava que o governo de Tigray que é a região que durante 27 anos controlou o governo federal, composto por 10 estados, foi em Novembro do ano passado, removido por uma coligação de partidos da oposição compostos por membros dos outros estados federais. Eu que sou uma analfabeta da política regional na zona aprendi imenso. Então ela dizia que os jornalistas da média vista como sendo pró-partido (que tinha sido corrido do poder e que até agora se está a combater na guerra de Tigray que conta entre 50 mil e 100 mil mortos), e haviam sido nomeados pelo anterior poder começaram a ser perseguidos pelo novo poder. As vinganças mesquinhas que atrasam o continente. Despedidos, assediados, impedidos de viajar, presos, enfim… a vida tornou-se insustentável para eles no país, um pouco à semelhança do que aconteceu em Angola quando os Santos foram tão automaticamente convertidos em pecadores...
É que, para que os jornalistas, e toda a estrutura de Estado que se comporta como estrutura de um partido, não fossem identificados com a dita agenda ‘militonta’, seria precisa uma maturidade política que o sistema político fez tudo para evitar, infantilizando a população tanto quanto possível para a manter subserviente, obediente e a apoiar o partido no poder. O preço dessa subserviência é sem dúvida a falta de discernimento que leva a ameaças a jornalistas da média pública como se vê por aí e até a ataques a polícias e outras situações a todos os níveis condenáveis.
Estas conferências dos militantes que saem de um partido (em que só aparece gente a sair nunca a entrar mas que mesmo assim o partido sobrevive teimosamente), são nada menos do que acções de infantilização que toldam o discernimento. Como já disse aqui, insultuosas para quem as vê pelo que são, mas também muitas vezes para os próprios jornalistas que são obrigados por ordens superiores a dar-lhes destaque.
O sistema não só os borra completamente associando as suas caras à acções militontas, mas coloca-os também em risco de instabilidade em caso de mudança de paradigma político, que pode acontecer mesmo que se mantenha o MPLA no poder.
E a oposição não está a fazer um bom trabalho a tranquilizar essas estruturas que seguem ordens superiores, não por escolha, mas por falta de alternativa. A oposição tem de fazer melhor para se mostrar mais inclusiva. Mas com uma teimosa esperança em dias melhores, e deixando aqui o recado para que o querido leitor não se esqueça de contribuir com o seu saco de farinha para a campanha do S.O.S Angola Sul, que tem grupo no Facebook, marcamos aqui encontro e na sua Rádio Essencial. P.S. a foto deste espaço muda quando for visivel que as prioridades de Estado que não recebem cobertura mediática mudarem tambem.
JLo do lado errado da história