E agora pergunto eu...
Bem-vindo, querido leitor, a este seu espaço onde perguntar não ofende e em que olhamos para a semana que passou e que andou muito marcada, pelo menos na pauta dos nossos meios de comunicação social públicos, pelo que o governo chama ‘a diplomacia económica’.
O Presidente esteve no Gana e ‘convidou os empresários’ ganeses a investirem em Angola. Antes esteve na Guiné-Conacri, onde fez o mesmo e recebeu uma condecoração, e antes na Turquia, onde ‘convidou os turcos’ a investirem em Angola... Estas manchetes do “PR João Lourenço convida investidores” são muitas... como se diria no sul muinnntaaaassss mesmo, e vêm de longe, imutáveis, teimosas, repetitivas e quase inconsequentes, porque a aceitação desses convites continua a ser residual.
Em maio de 2017, o então ministro da Defesa Nacional e ainda candidato presidencial garantia já, a boa governação, transparência e combate à corrupção em Washington e ‘convidava os investidores americanos a investirem no país e assim ajudarem na diversificação da economia angolana’.
Em Agosto 2017, já Presidente eleito, João Lourenço, que ia trabalhar para ser o reformador dizia: “As chaves serão a diversificação e as privatizações", e enumerava os quatro sectores que requeriam investimentos: indústria agrícola, indústria mineral, pesca e turismo."Angola tem uma grande extensão, muitas terras cultiváveis, muita água, um clima muito propício que não tem inverno e pode ser uma grande potência agrícola, do tipo do Brasil", destacava o PR, sempre fã destas ‘comparações californianas’. No ano seguinte, falando durante um fórum de negócios, ocorrido em Setembro de 2018, em Nova Iorque, o Presidente da República de Angola convidava os empresários americanos a participarem no concurso público para a gestão do novo aeroporto internacional de Luanda, que, dizia ele em 2018 estar “em fase conclusão” (continua na fase de conclusão a meio de 2021 e que aliviados devem estar os investidores que não se meteram nessa aventura). Em Maio 2019, o PR convidava NOVAMENTE os investidores a investirem, desta feita, no turismo angolano na abertura de um fórum mundial, e o boletim informativo da Aipex de Outubro de 2020 trazia na capa mais um convite do Presidente em letras gordas “convido os investidores a explorarem o pacote de incentivos que oferecemos”. Em Novembro, o PR João Lourenço, por videoconferência, exortava aos ingleses a investirem em Angola. Em dezembro 2020, “João Lourenço 'vende' potencial angolano além do petróleo nos EUA” escrevia a Euronews, dona de um pacote publicitário milionário para a promoção de convites de investimento que já foi alvo de toda a chacota pelos empresários nacionais que, conhecedores das dores do investimento em Angola, se perguntam onde estará aquela Angola maravilhosa descrita pela cadeia internacional. Pelo meio destes múltiplos convites, o PR convidou alemães, japoneses, nórdicos, indianos, portugueses (antes de parecer zangar-se, porque os tugas têm media independentes e que tanto falam da corrupção da Isabel dos Santos como da dos nossos ministros em funções, e) se virar para os convites aos espanhóis. Na semana passada, calhou o convite aos ganeses e antes aos turcos, e certamente haverá muitos convites que escaparam aqui menção, mas que têm em comum os resultados medíocres em termos de aceitação.
Parece ter havido certo ranking dos convites a enviar: primeiro americanos, depois do Norte da Europa, quando não deram resposta vimos convites aos russos, chineses (que a diplomacia económica inicial tinha desdenhado a favor dos americanos), espanhóis e à falta dos outros, e em fim de mandato, fazem-se os convites aos turcos, os ganeses e afins.
E agora pergunto eu, estes convites todos sem resposta não é caso para dizer “Coitado do PR?” Corre o risco de se sentir rejeitado, como uma criança que, depois de meses a preparar os convites a idealizar a festa a prometer maravilhas aos colegas na escola: “vai ter escorrega, vai ter comida, vai ter cantor, vai ter jogos, vai ter palhaço”, mesmo assim se vê sozinha, nenhum coleguinha da escola aparece – o trauma! É que à festa que a diplomacia económica angolana anda a prometer há mais de 4 anos não têm aparecido muitos convidados presenciais.
O que tem havido sim são linhas de crédito e financiamentos diversos que também, na semana passada, levaram o FMI, que se tem esforçado por enaltecer o Governo pelas reformas e que autorizou outro desembolso de 770 milhões de dólares recentemente, a levantar um cartão amarelo em aviso de ‘muito cuidado com o endividamento’. É verdade que as linhas de crédito por si só significam um certo nível de confiança na recuperação da economia angolana ou pelo menos nos seus activos (como o petróleo que, ao contrário de quando PR assumiu o leme do país, andava pelo 40 dólares e que, desde 2019, ronda os 70 dólares). Mas dívida é dívida e tem de ser paga, com juros que hipotecam o país. Os convites de investimento que inclusive levaram o PR a voar, e voar que chega – esses - poucos investidores aceitam, e agora pergunto eu, porque será que não aceitam os convites do chefe? Estará a resposta num dos inimigos cimeiros do investimento? A volatilidade?
A nossa economia com uma inflação acima dos 25%, uma moeda que, desde o início dos convites, vem estando em queda livre, quedando com ela o poder de compra e as reservas vitais num país que importa de tudo; com níveis de desemprego que ameaçam a estabilidade social, serão esses motivos para os investidores desconfiarem da festa prometida? Uma festa de um governo que tem a economia sempre em cafrique da máquina do Estado e das decisões do Governo? Quer através dos contratos que faz e depois vai considerar se honra ou não, ou das decisões de nacionalização que nem passam por tribunais? Esse não parece convite daquelas festas que já todos sabem que sai pancadaria de bêbados? Estará a resposta no simples ouvir o que dizem os empresários locais, alguns com muitos anos de trabalho e que descrevem com experiência in loco as dificuldades de investir, de facto, em Angola? Esta semana, um jovem empresário de Benguela descreveu mais uma dessas dificuldades que se juntam a uma estrutura de impostos de primeiro mundo com oferta de infra-estruturas de terceiro, com falta de básicos como fornecimento sustentado de água e luz – que é a politização da actividade económica. Tri-chu, um jovem empresário que forneceu serviços ao partido Unita, palcos e afins, foi repreendido e ameaçado por pares do partido no poder que está habituado a que a lealdade partidária se sobreponha à necessidade de pagar salários e sustentar empresas. Quem vai aceitar investir numa economia manietada por um partido? Passados quase cinco anos de convites não está na hora de o discurso deixar de estar virado para os de fora para focar nas emergências cá dentro?
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