Formação no Sector Segurador – Uma prioridade

24 Mar. 2020 Opinião

Entre os muitos desafios que o sector segurador e dos fundos de pensões enfrenta em Angola, talvez um dos mais importantes e estruturantes para o futuro do mesmo é o da formação. 

A formação é o pilar fundamental para o desenvolvimento de um país, de uma economia e, por consequência, também o é de um sector. O segurador, sendo um sector financeiro e com uma complexidade que tende a aumentar com o passar do tempo, pois Angola não fica, felizmente, imune à globalização e consequentemente aos avanços que os sectores sofrem para que se adaptem aos desafios que são cada vez maiores, mais exigentes e mais voláteis. Desta forma é fundamental que a entidade reguladora, as companhias de seguros, as sociedades gestoras de fundos de pensões, os mediadores e todos os intervenientes no sector segurador tenham mais e melhor formação, pois só assim poderão estar preparados para enfrentar os desafios futuros.

Embora o sector segurador em Angola ainda tenha de fazer um longo percurso para atingir níveis de maturidade comparáveis com outros mercados, a tendência natural é que o mercado faça um ajustamento para aquilo que são as melhores práticas internacionais, sendo que essa evolução acontecerá não só por uma evolução natural, na qual as pessoas e as empresas procuram diariamente maiores níveis de eficiência e eficácia, mas também por uma questão de sobrevivência do próprio sector. As entidades que não acompanhem esta evolução não sobreviverão e será neste ponto em que às entidades que tiverem as pessoas com melhor formação e mais bem preparadas para fazer frente às exigências de um sector em transformação, assumirão cada vez um papel mais relevante e irão acabar por ocupar de forma natural o espaço daquelas que estão menos preparadas. 

Com um sector segurador a ajustar às melhores práticas internacionais a expectativa é que também os modelos de governação das seguradoras se adaptem o que trará uma maior exigência e colocará uma enorme pressão sobre os recursos humanos, pois áreas como auditoria interna, compliance, risco, actuariado, assim como um upgrade necessário nas áreas de subscrição e gestão de sinistros serão determinantes. O regulador será naturalmente cada vez mais exigente e poderá vir a confirmar o fit and proper das estruturas. 

Face à necessidade urgente de formação no mercado dos seguros, deve a entidade reguladora ter um papel interventivo e exigir que funções chaves nas estruturas das entidades tenham a formação e o currículo adequado para a função que desempenha. Existem disso exemplos concretos: no caso da área financeira o mercado evoluirá, por vários motivos, entre eles as exigências dos investidores internacionais, para o relato em IFRS, desta forma a função financeira deverá ser desenhada tenho por base a formação dos quadros nestes normativos, por outro lado uma função de gestão de risco e controlo interno, deverá ter cada vez mais por base a avaliação dos riscos assumidos pelas entidades, e os impactos desses riscos nos capitais próprios das seguradoras, assim como um aumento da exigências ao nível do controlo interno das entidades, como tal está função que é chave, deverá ser desenhada tendo por base os desafios que as melhores práticas internacionais trazem ao sector.

A necessidade de formação no sector segurador é urgente e será, entre outros factores, com a formação dos quadros que a seleção natural será feita, aqueles que anteciparam e se preparam melhor ocuparão naturalmente o espaço daqueles que não se adaptaram às transformações e exigências do sector.

 

 

 

Ricardo Vinagre

Ricardo Vinagre

Senior Manager EY, Assurance Services