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Pequenas e médias empresas em África e o Mercado de Capitais - 10 conselhos para investidores*

24 Aug. 2022 Opinião
Pequenas e médias empresas em África e o Mercado de Capitais - 10 conselhos para investidores*

O século XXI é apontado como o século de África, isto porque, desde o início desta década, as taxas de crescimento africanas finalmente excederam as do mundo em geral - um muito bem-vindo e desenvolvimento positivo. Desde meados da década de 1990 e a primeira década do novo milénio e século, a percentagem da população que vive com menos de US$ 1 por dia e menos de US$ 2 por dia diminuiu entre 2001 e 2008 (data de início da crise hipotecária do sub-prime nos Estados Unidos da América), o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no continente foi em média de 5,9 por cento ao ano. Este crescimento foi acompanhado por fluxos significativos de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) para a região, levando a uma quase duplicação dos stocks de IDE entre 2003 e 2007, de acordo com o Fundo Monetário Internacional. Em 2008, África cresceu uns impressionantes 5,2%; a região da África Subsaariana (SSA) cresceu ainda mais rápido, com 5,5%.

Embora este crescimento tenha permitido que os países africanos reduzissem a pobreza nos últimos anos, os níveis de renda permanecem baixos e ainda há muito a ser feito para alcançar os Objectivos e Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. As taxas de crescimento também continuam a ser muito inferiores às do grupo de países em desenvolvimento da Ásia, uma região que elevou significativamente o padrão de vida de seus cidadãos nas últimas décadas. A crise financeira em todo o mundo também desempenhou um papel, ao travar e piorar muito do progresso alcançado, tendo a crise petrolífera de 2014 gerado um role de períodos de recessão económica, principalmente para os países produtos de petróleo, como a Nigéria e Angola, não descurando a Líbia, em permanente estado de guerra. Por outro lado, devo mencionar a crise pandémica do covid-19 que levou ao encerramento económico de todos os países do mundo por mais de um ano.

No entanto, a recuperação da crise está actualmente em andamento em todo o continente. Pode constatar-se os resultados de políticas macroeconómicas prudentes na última década. Esta foi uma das principais razões pelas quais as questões decorrentes da crise financeira foram reduzidas. O próximo passo temos que tomar é focar em outras reformas necessárias que levarão ao desenvolvimento económico. Uma dessas reformas é criar o ambiente propício que apoiará o sector económico real, que incluem necessariamente as pequenas e médias empresas (PMEs). A nossa história de crescimento precisa continuar e isso pode ser facilitado através da diversificação da nossa economia. Os nossos sistemas financeiros são actualmente dominados pelo sistema bancário, o que significa que há uma necessidade urgente de desenvolver os nossos mercados financeiros.

O aprofundamento financeiro ajuda especialmente as indústrias mais dependentes de financiamento externo e também ajuda a reduzir restrições de financiamento, especialmente para empresas menores em termos de tamanho, regime jurídico e a localização. As PMEs são a “espinha dorsal” de qualquer economia de qualquer país, portanto, um dos papéis-chave que os mercados financeiros podem desempenhar é a provisão de financiamento para as PME.

Quando falo de pequenas e médias empresas, estou a falar com base na lei n.º 30/11, de 13 de Setembro (Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas de Angola), pelo que, escrevendo de pequenas e médias empresas, é uma classificação de empresas que têm de 10 trabalhadores até 200 trabalhadores e volume de negócios superior a 250 mil USD até 10 milhões de USD.

A maioria das empresas instaladas em Angola estão enquadradas nesta classificação acima mencionada e estas também precisam capacitar-se, aumentar a sua dimensão, novas localizações incluindo a externalização, produtos e serviços, mas também precisam de crédito/financiamento. O mercado de capitais é uma das soluções de captação de recursos financeiros e aqui deixo dez (10) conselhos para empresários, gestores e investidores enquadrados nas PMEs.

1) *Compre na baixa, venda na alta*

Investir é uma parte rara da nossa vida financeira e, no mercado de capitais, o que desce geralmente é uma antítese do mercado convencional. O consumidor querer sempre comprar bens e serviços ao preço mais baixo. Neste caso, em sede de Bolsas de Valores, a queda da cotação é geralmente um mau sinal, contudo, dependendo do caso, pode ser uma oportunidade comprar barato e podendo ter um ganho quando vender com os preços das acções estiverem mais altos.

2) *Não existe algo como uma coisa certa*

Como quase nada na vida, nada é garantido e no mercado de capitais segue-me o mesmo. Embora os ganhos de longo prazo para acções em geral tenham sido historicamente uma aposta segura, as empresas individuais e de pequena e média dimensão são inerentemente mais arriscadas.

3) *Familiarize-se com a área financeira*

Enquanto alguns investidores podem pensar que têm um sexto sentido para encontrar boas empresas, o resto de nós tem que fazer o dever de casa. Quanto aos pequenos e médios empresários, é urgente ter o contacto e fomentar as boas práticas de gestão administrativa e financeira.  

Ter relatórios de gestão, de contas, relatórios de auditores externos sem reservas, ausência de dívidas ao fisco e à Segurança Social são pontos cruciais e que fomentam a confiança e menor risco de investimento neste tipo de empresas.

4) *Pense a longo prazo*

Os impostos não são a única razão pela qual a negociação de curto prazo é um jogo de perdedores para a maioria dos investidores. Tentar comprar ou vender acções com base em um relatório trimestral de ganhos ou em um ponto de dados económicos é um jogo para plataformas de negociação automatizadas, não são para qualquer comum dos mortais. 

5) *Os dividendos são o seu amigo*

O que os investidores querem saber e receber são a parte dos lucros depois das formalidades legais. Os dividendos são o melhor amigo de quem quer atrair investimento e financiamento.

6) *Não existe métrica perfeita*

Investidores profissionais e amadores têm as suas medidas favoritas de crescimento e valor, desde relações preço-lucro até rendimentos de dividendos e margens de lucro, mas não existe um número único que divida as acções boas das más acções. Uma acção que parece barata em 10 vezes, o lucro pode subir para 5 vezes num piscar de olhos, e uma startup de tecnologia chamativa que parece cara em 3 vezes, as vendas pode facilmente saltar para 6 em um piscar de olhos.

7) *Uma acção de Kz 10.000 não é cara e uma acção de Kz 1.000 não é barata*

O preço de uma única acção não é o número certo para avaliar ao decidir-se por uma acção, se é uma boa compra ou não. Embora os preços de vários dígitos possam custar muito para um novo investidor com fundos limitados, carregar 100 acções de Kz 100 não é necessariamente uma estratégia melhor. Pense em investir como fazer compras no supermercado – há uma razão para você ir à loja com uma lista em vez de apenas decidir o que comprar com base nas etiquetas de preço.

8) *Os impostos podem afectar os seus lucros*

As acções da FANG – Facebook, Amazon.com, Netflix e Google (Alphabet) – tiveram uma óptima corrida em 2015, com retornos variando de 34% a 134%, mas, do ponto de vista tributário, qualquer investidor que comprou no ano passado e de olho nas saídas quer que elas continuem a subir.

Faça planeamento fiscal. Veja se o seu regime de Imposto sobre os lucros (Imposto Industrial), o regime de IVA é o mais adequado, só para citar a importância que tem a questão fiscal para estar numa Bolsa de Valores e captar investidores.

9) *Saiba o que você precisa e pelo que está a pagar*

Certifique-se de se tem o intermediário financeiro, o agende que recebe orientações de compra e venda de acções e interage directamente no mercado, de acordo com o seu perfil, os custos dessa intermediação.

Saiba o que pretende, estabeleça objectivos e metas e trabalhe com base num plano de acção e cronograma com o seu ‘broker’.

 10) *Pegue as ‘notícias’ do mercado com um saleiro inteiro*

Como investidor, o fluxo de notícias que impulsiona as oscilações do dia-a-dia no mercado deve ser considerado uma leitura interessante, e não uma razão para fazer ou mudar de estratégia. Leia, leia notícias, peça relatórios ao seu ‘broker’, compare a sua área de actividade do seu país e outros países comparáveis. Entenda e peça a especialistas as tendências económicas e financeiras. Vá às assembleias gerais de accionistas. Converse com investidores e accionistas e não imagina o quanto aprenderá.

Para a semana, a última dedicada aos mercados de capitais, vou dedicar-me a um conjunto de cálculos de que necessita para saber se deve investir, desinvestir em acções de uma empresa e como pode calcular o valor de acções, se a sua empresa pretenda abrir o capital a investidores e dessa forma captar capitais para a sua empresa.

Daniel Sapateiro

Daniel Sapateiro

professor doutorado em Economia Monetária e Comparada