A fórmula mágica que nunca chega
Bem-vindo ao Dias Andados em 2025… Um ano que se adivinha difícil. Não que os anteriores tenham sido fáceis, mas os vaticínios dos que de facto entendem da matéria antecipam que será um ano pior! Ainda assim, mais um ano de promessas. As mesmas que são feitas há 50 anos. Durante 50 longos anos, os nossos governantes têm repetido um mantra quase musical: "Estamos a trabalhar para melhorar a vida dos angolanos!”, dizem eles… Soa como uma canção de sucesso atemporal. Uma espécie de ‘hit’ que nunca sai da moda, mas que, como muitos hits, apenas ocupa um espaço na nossa playlist sem realmente nos fazer dançar. Dá a sensação de que os nossos governantes coleccionam um caderno de promessas e a cada ano enchem-nos com a mesma ladainha como se ano após ano descobrissem uma nova fórmula para a reinvenção da roda. Este ano não vamos celebrar apenas os 50 anos da Independência, vamos igualmente celebrar os 50 anos das promessas nunca cumpridas. Em cada discurso, um verdadeiro espetáculo! Somos bombardeados com estatísticas, gráficos e prognósticos sobre um futuro brilhante. Aliás, na arte do discurso, os nossos governantes são mestres. Falam com tanto entusiasmo que chega a ser contagiante. Quase acreditamos que a prosperidade está a apenas um passo… Enquanto isso, a vida dos angolanos parece um eterno ciclo da espera pelo milagre. Entretanto, o número de pessoas que se especializou em “ver para crer” parece estar a diminuir. No fundo, o que nos resta é rir, não por excesso de vontade, mas como um mecanismo de defesa contra essa comédia trágica que se desenrola à nossa frente. Então, aceitemos o desafio e celebremos os 50 anos de promessas! Brindemos a mais um ano das mesmas promessas. Ou quem sabe, com alguma sorte, se mude o repertório, e conheçamos algumas novas. Afinal quem precisa de reformas sérias quando se pode ter discursos eloquentes e um espetáculo continuado de promessas vazias?... 2025 adivinha-se um ano atípico.
Não só por já nos ter sido anunciado por um governador que vai contar com o apoio de todos os seres vivo, inclusive dos animais, mas pelo que estes primeiros 10 dias do ano já nos entregou. Já tivemos arranca-rabo entre o governo e os sindicatos. Os trabalhadores, que pensaram que em Janeiro ficariam 25% menos pobres, viram o sonho desfeito com o executivo a adiá-lo para Março e já há ameaça de greve. E quem diria que um surto de cólera seria o efeito colateral mais inesperado de um novo ano? Pois é, cá estamos nós em pleno 2025 com o surto que já conta com 95 casos e 11 mortes.
Para acompanhar o espetáculo, um blackout no início da semana em 11 províncias lembrou-nos que 2025 traz também consigo a habilidade impressionante de nos deixar no escuro – tanto literal quanto filosoficamente. Continuamos este ano a ver empresas a dar ‘lengueno’ com o dinheiro do PIIM.
Segundo a PGR grande parte das empresas que, num país normal, sequer estariam habilitadas a construir uma capoeira no próprio quintal, milagrosamente ganharam os concursos públicos. Todos nós sabemos que não se trata propriamente de um milagre, não é?!... Já tivemos um indultado que devolveu o indulto ao ‘indultador’. Outros quatro que tencionam seguir o mesmo caminho, por considerarem-no um presente envenenado. Sem esquecer a indultada que em menos de uma semana do perdão voltou ao xilindró. Assim, entre desentendimentos, epidemias e escuridão, 2025 já mostrou ao que veio. Será que sobreviveremos aos outros 355 dias deste ano?...
*Crónica do programa ‘Dias Andados’, referente ao dia 10 de Janeiro de 2025
EPAL com escassez de produtos para tratar água da rede pública