A NECESSIDADE DO DIÁLOGO
O lançamento do jornal VALOR ECONÓMICO juntou mais de 500 pessoas, em Luanda, para debater uma das prioridades absolutas do país: a compreensão da crise e, mais importante, as medidas necessárias para combatê-la. Quem esteve na conferência ouviu o Nobel ThomasSargent a relembrar como os governos devem prevenir, com políticas económicas correctas, os momentos como este que Angola atravessa. Mas também ouviu o Governo a apresentar os seus ‘argumentos de razão’, sobre o plano de saída da crise, através do ministro das Finanças, Armando Manuel. Ou ainda as propostas do académico Manuel Nunes Júnior, relativamente às verdadeiras prioridades nacionais, num cenário de escassez de recursos, sobretudo financeiros, e de grande exposição à volatilidade externa.
Mas, à semelhança das intervenções dos oradores, elogiadas e criticadas pela audiência, a conferência do VE recordou outras mensagens poderosas. Uma delas é a necessidade do contacto e do diálogo permanentes entre governados e governantes. Não foi por acaso que, no conjunto, a maioria dos presentes reclamou por mais iniciativas que favoreçam o diálogo. A avidez pelo debate foi, aliás, ao ponto de suscitar da parte dos presentes o interesse pelo alargamento da interacção com os oradores, depois de várias horas sentados a ouvir os três conferencistas.
A outra mensagem conexa é o esclarecimento provado de que Governo e governados podem divergir nas ideias, num momento de diálogo, sem necessidade de fracturas que ultrapassem os limites do razoável. E, neste particular, a crítica é, por razões óbvias, mais virada ao Governo do que propriamente à sociedade.
É o Governo que assume a responsabilidade de gerir os interesses do Estado e, neste sentido, cabe aos seus membros prestar contas, nas diferentes vias em que isso se torna possível. Responder a perguntas e dúvidas dos governados em conferências, palestras e debates é, indiscutivelmente, uma das formas de o fazer. Quer em eventos de entidades privadas, como foi o caso da conferência do VE, quer em iniciativas promovidas por organismos públicos.
Daqui saem, por isso, alertas para a atitude do Governo quanto à gestão das várias crises que afectam o país, mais concretamente em matéria de comunicação. Com crises na economia e nas finanças, na saúde e em tudo o que valha, a informação passiva do Governo corrói seriamente as expectativas de qualquer esperança. E a resignação é, indiscutivelmente, o pior que podia acontecer a Angola nesta fase, depois da queda do preço do petróleo, da subida descontrolada dos preços, do agravamento do desemprego, da ruptura de medicamentos nos hospitais, da instalação da febre amarela e das demais febres com e sem nome.
O que sobra, portanto, como referência presente e futura, é precisamente isso: a necessidade do diálogo. As consequências do afastamento entre poder e povo são mais do que conhecidas. E ThomasSargent fez questão de, oportunamente, adicionar outro alerta, recorrendo a dois provérbios chineses. “O Governo tem as suas próprias estratégias e o povo têm as suas contra-estratégias.”
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