A saída de Angola da recessão: guardem os foguetes!
Há economistas que consideram que não é o crescimento económico positivo que define se um país está ou não em recessão. Para estes economistas, um país com uma taxa de crescimento económico inferior ao crescimento da sua população, como será o caso de Angola num futuro previsível, é um país em recessão.
Angola terá saído da recessão de cinco anos em 2021. Pelo menos de acordo com o Governo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM) que apontam unanimemente para as primeiras taxas de crescimento positivas em cinco anos de 0,2%, 01% e 0,4%, respectivamente. Recessão é aqui entendida como um crescimento negativo, isto e uma redução do Produto Interno Bruto (PIB) em termos reais entre dois anos consecutivos.
Para ter a certeza se a economia saiu ou não de recessão em 2021, é necessário esperar por 15 de Abril, dia em que o Instituto Nacional de Estatística deverá publicar as Contas Nacionais do IV trimestre de 2021 que confirmarão ou não se tivemos crescimento positivo em 2021. As CN do INE são a referência para o PIB.
Embora seja necessário esperar, os últimos dados divulgados pelo INE esta semana, referentes ao III trimestre do ano passado são animadores. Comparando os três meses entre Julho e Setembro aos três meses anteriores entre Março e Junho, a economia cresceu 0,5%. O crescimento homólogo, III trimestre de 2021 face ao III trimestre de 2020, o crescimento foi de 0,8%. Se em vez dos três meses, considerarmos os primeiros nove meses, o PIB progrediu 0,04% em relação ao mesmo período de 2020. Ainda assim o crescimento continua negativo nos quatro trimestres terminados em Setembro: A riqueza produzida entre Outubro de 2020 e Setembro de 2021 caiu 1,4% face aos 12 meses anteriores.
A recessão angolana é das mais longas e profundas deste século na África Subsariana.
De acordo com dados do FMI, a recessão angolana de cinco anos é a quarta mais longa da África subsariana no século 21, numa lista liderada pelo Zimbábue com nove anos de crescimento negativo, entre 2000 2 2008 (10 anos se incluirmos 1999, ano em que a economia entrou no vermelho). Congo Brazzaville, sete anos de recessão entre 2015 e 2021 e Guiné Equatorial seis anos entre 2015 e 2020 completam o pódio. Sudão do Sul, com quatro anos de recessão entre 2015 e 2018 e o Lesoto também quatro anos entre 2017 e 2020, fecham o top cinco das recessões mais longas da África Subsariana.
Os cinco anos de recessão fizeram o PIB angolano recuar 10,3%, a quinta recessão mais profunda da África Subsariana no século XXI. Considerando a profundidade da recessão a lista do subcontinente volta ser liderada pelo Zimbábue com um trambolhão do produto de 50,1% nos nove anos de recessão, seguido da Guiné Equatorial com uma queda de 34,5% em cinco anos e do Congo, com uma quebra de 28,5% em sete anos. Com recuo de 20,2% em quatro anos, o Sudão do Sul tem a quarta recessão mais profunda da África Subsariana no século XXI.
Com a quebra de 10,3% em cinco anos de recessão para 1,463 biliões de kwanzasem 2020,o PIB angolano a preços constantes de 2002 andou 10 anos para trás: É necessário recuar até 2011, ano em que a riqueza produzida se fixou nos 1,353 biliões de kwanzas, para encontrar um PIB mais baixo do que o de 2020.
Se considerarmos o PIB em dólares norte-americanos a preços correntes no valor de 58,5 mil milhões de dólares em 2020, em cinco anos de recessão, a economia andou 15 anos para trás: Só em 2006, quando o PIB não excedeu os 52,4 mil milhões de dólares, encontramos um produto inferior ao de 2020.
Comparando os 58,5 mil milhões de dólares de 2020 aos 145,7 mil milhões de dólares de 2014, ano em que o PIB angolano atingiu o máximo de sempre medido na moeda norte-americana, o valor da riqueza produzida em Angola deu um trambolhão de 58,8%, o que é o mesmo que dizer que em seis anos “evaporaram-se” 87,2 mil milhões de dólares da economia angolana.
A saída da economia angolana da longa e profunda recessão é positiva. Por muito que se diga que as recessões podem trazer oportunidades para novos negócios, a verdade é que só a palavra recessão afasta os investidores. Poucos gostam de apostar num país onde a actividade económica geral está em queda.
Embora o regresso de Angola ao crescimento positivo seja positivo, não é propriamente motivo para grandes comemorações face aos números modestos desse mesmo crescimento.
Um crescimento entre 0,1% e 0,4% como avançam as previsões do Governo, do FMI e BM para 2021 não chegam sequer para compensar o aumento da população estimado em mais de 3% anuais. Quando uma economia cresce menos do que a população quer dizer que a riqueza produzida por habitante diminui, ou seja, o país empobrece.
Há mesmo economistas que consideram que não é o crescimento positivo que define se uma economia está ou não a recessão. Para estes economistas, um país com uma taxa de crescimento económico inferior ao crescimento da sua população, como será o caso de Angola num futuro previsível, é um país em recessão.
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