Enquanto na Assembleia sonham, o Ministério da Saúde está a ‘desconseguir’ lidar com a cólera

24 Jan. 2025 Suely de Melo Opinião

Tal como previmos, na semana passada, já começou o rol de promessas. Depois de prometerem que as crianças das zonas mais recônditas iriam receber tabletes; depois de prometerem que as crianças da 5ª e 6ª classes passariam a aprender Francês e inglês; depois de prometerem que os livros, finalmente, seriam distribuídos a tempo e hora, eis que o leque de promessas foi actualizado. Sim, porque é preciso, de quando em vez, pelo menos, fingir alguma preocupação. 

Enquanto na Assembleia sonham, o Ministério da Saúde está a ‘desconseguir’ lidar com a cólera

Num país onde faltam milhares de escolas e muitas das que existem funcionam sem o mínimo de condições, onde ainda há milhares de crianças a estudarem debaixo de árvores e a sentarem-se em pedras já que andam escassas as latas de leite; num país onde a merenda escolar é mais uma lenda urbana do que uma realidade palpável, o Governo decidiu dar um passo audacioso: prometeu oferecer 35 mil kwanzas aos alunos do primeiro ciclo. 

Afinal, quem precisa de alimento e nutrição quando se pode ter um dinheirinho que, se tudo der certo, poderá até pagar um lanche?! E não pára por aí. Enquanto os alunos aguardam ansiosamente pelo seu 'vale-que-nunca-chegará', na Assembleia Nacional, a criatividade parece estar a todo vapor. Decidiram meter-se com os coitadinhos que não dispensam um bom copo. Ou talvez com os que desafortunadamente decidiram implantar os seus estabelecimentos num raio de 300 metros de escolas, hospitais ou unidades policiais e militares. Agora não se sabe se estes vão ser obrigados a mudar de negócio ou a carregar os estabelecimentos às costas e afastá-los mais uns 300 metros dos locais agora proibidos. Afinal, a estratégia de embriagar a população para distraí-la saiu do controlo e agora é preciso adoptar medidas drásticas. Portanto, a venda de bebidas alcoólicas ao redor de escolas e hospitais etc tornou-se prioridade máxima. Como se fosse esse o maior dos nossos problemas…

Enquanto na Assembleia sonham, acordam e propõem leis para fazer que trabalham, O Ministério da Saúde está a ‘desconseguir’ lidar com o surto da cólera. Para os cépticos que insistem em negar que em Angola haja fome e pobreza, nada poderia soar mais como uma chapada sem mão do que este surto que escancara a inversão de prioridades e a falta de compromisso com os angolanos. Em duas semanas, já há mais de 400 casos suspeitos, 80 confirmados e 24 mortes. Mas, enquanto aqui lidamos com os números crescentes da cólera, com a procura pela água como se de agulha no palheiro se tratasse, com a falta de verbas em várias instituições, com destaque para os hospitais, que caminham já para o nono mês, sector para o qual o PR garantiu que jamais faltaria dinheiro. Enquanto o país parece estar em completa falência, mas só parece mesmo, João Lourenço e ‘sus muchachos’ continuam a não apertar os cordões à bolsa e a não dispensar umas boas viagens que, apesar de mais boa vontade que possa haver, até aqui não serviram para muita coisa.

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