QUE APAREÇAM MAIS CANDIDATOS DE PESO

09 Jul. 2025 Economia / Política

O Valor Económico foi o primeiro órgão de comunicação social de referência que avançou a notícia. Em Julho de 2024, este jornal antecipou detalhes do que será o ‘Manifesto Social’ da candidatura de Higino Carneiro à presidência do partido no poder. No essencial, o manifesto destacava uma agenda de consenso para “mudar Angola”. O diálogo inclusivo, a atenção especial aos cuidados primários de saúde, o investimento significativo numa educação de qualidade, o acesso à habitação condigna, o investimento no saneamento básico e a protecção dos grupos vulneráveis sobressaíam na agenda. Sete meses depois, em Fevereiro deste ano, o Valor Económico voltou a revelar pormenores de algumas das propostas fundamentais do agora pré-candidato à liderança do MPLA. A revisão da Constituição e a mobilização de recursos para o sector produtivo saltavam à vista. Outra proposta destacável era a redução da pobreza extrema e a reestruturação do Estado, com os olhos na redução da máquina pública e no corte dos gastos que esta actualmente exige. 

QUE APAREÇAM MAIS CANDIDATOS DE PESO

Higino Carneiro fez questão, entretanto, de alimentar o espaço mediático com alguma expectativa, recusando-se repetidamente a confirmar os factos pela própria voz. Nesta terça-feira, 08 de Julho, decidiu quebrar finalmente o tabu e deu as caras. Contrariando as leituras de um eventual recuo, ante as ameaças expressas de João Lourenço que desvalorizou o seu percurso no  MPLA e no Estado, Higino Carneiro publicou um vídeo que o colocou num caminho sem retorno na disputa pela cadeira máximo do MPLA. A ameaça de João Lourenço de que muito provavelmente Higino Carneiro chegaria “todo partido” ao Congresso não o fez recuar. Pelo contrário, Carneiro não só formalizou a sua pré-disposição para comandar o MPLA, como juntou às promessas já avançadas por este jornal outras propostas, mantendo a tónica na aposta numa Angola democrática e inclusiva. 

Lidas no seu conjunto, as promessas de Higino Carneiro vão ao encontro das mudanças de fundo que os angolanos têm exigido ao regime. Ainda assim, por muito paradoxal que pareça, este não é o aspecto fundamental do anúncio dessa pré-candidatura. Por uma razão simples. Genericamente, as promessas dos políticos valem zero até que se materializem em alguma coisa concreta que valha alguma coisa. Não é possível, por isso, arriscar, por enquanto, qualquer juízo valorativo  ou de facto a respeito do que poderá fazer ou não o agora formalizado pré-candidato a presidente do MPLA.

A relevância do anúncio de Higino Carneiro está na multiplicidade do seu significado no contexto da luta pela democratização do país. Afinal há muito que se discute em Angola as potenciais vias para a democratização efectiva do país. E um destes caminhos consensualmente partilhado é a hipótese de alguma ruptura que obrigue o partido-Estado a libertar-se do autoritarismo interno. As múltiplas candidaturas podem conduzir a isso. Desde que se apresentem candidatos cujo perfil ponham verdadeiramente em causa os indesmentíveis sinais de João Lourenço desejar perpetuar-se no poder. Contra a vontade de João Lourenço, Higino Carneiro reúne esse perfil. Outro ‘pesos pesados’ que alegadamente pretendem concorrer, mas que se acobardam no medo, deviam seguir-lhe o exemplo. É hora de desenterrarem as cabeças da areia. Apareçam.