Responsabilidade social Vidas ZAP
Cantinhos de Leitura, refúgios contra a exclusão social
Sete lares de crianças, jovens e idosos de Luanda e Benguela viram nascer, no último ano, um “Cantinho de Leitura”. O projecto de responsabilidade social da Vidas ZAP beneficiou até hoje quase 500 pessoas em situação de risco, que têm nestas bibliotecas de cores vivas uma oportunidade para viajar pelas páginas de centenas de livros e de estimular o gosto pela leitura e escrita.
Sambizanga, 17 horas. Nos becos, música alta soa, vinda de vizinhos que disputam o silêncio. “Kota, estamos quase a chegar”, avisa o guia. Uma ou duas curvas depois, um edifício estampa-se à nossa frente. Junto à porta, um menino estendido, inconsciente, por qualquer droga ingerida. Aparenta ter 10 ou 12 anos. Rosto enrugado, sinais de cortes ao longo das pernas. O carro para. Chegamos à casa de acolhimento Magone, uma das instituições beneficiadas pelo programa “Cantinho da Leitura”, iniciativa promovida pelo Vidas ZAP.
“Estes meninos podem até ser marginais lá fora, mas aqui são apenas os carentes de amor que precisam de um tecto para dormir”, explica Adjane Cadete, Coordenador da Rede de Casas de Acolhimento da Igreja Católica, enquanto empurra a porta da colorida sala do Cantinho da Leitura. “Um livro faz toda diferença numa criança, é um mundo que se lhe abre”, revela.
Osvaldo de Matos, coordenador pedagógico da casa Mamã Margarida, instituição-irmã da Casa Magone, confirma que os livros doados estão a ajudar a alargar o horizonte de centenas de meninos de rua. “O Cantinho de Leitura tem um grande impacto, porque é aqui que muitas dessas crianças contactam pela primeira vez com um livro, às vezes por pura curiosidade, pois muitos não sabem ler. À medida que vão ganhando o gosto da leitura, vão ficando neste cantinho mais e mais tempo”, testemunha.
Horas antes, em Cacuaco, o director do Lar Pequenas Sementes, conhecido por “Casa da Mãe Grande”, também saudava com cordialidade este “efeito multiplicador de conhecimento” do projecto do Vidas ZAP. “As crianças não precisam só de comida. A leitura prepara o espírito, cura as feridas e os traumas do passado. Prepara-as para o futuro e torna-as resilientes”, comentava, com ânimo, Frank Cassule. “O nosso Cantinho de Leitura é a sala VIP do lar, a mais bonita, melhor conservada e protegida, onde as crianças do ensino primário, fora do internato, preferem ficar a ler depois das aulas”, assegurava o director desta instituição com capacidade para 100 internos, que acolhe crianças abandonadas pelos pais e acusadas de feitiçaria.
Um cantinho de futuro
O projecto “Cantinho de Leitura” nasceu em Outubro de 2021 como uma campanha interna da ZAP, com o fim de sensibilizar os colaboradores da empresa a doar livros e material didáctico. Rapidamente alargou as metas. “Os desafios com a escrita e a leitura de muitas crianças em Angola” levaram a empresa a “criar uma minibiblioteca dentro dos lares apadrinhados pelo Vidas ZAP, com o objectivo de promover o hábito pela leitura nas crianças mais necessitadas e carentes”, conta ao Economia & Finanças, Filipa Vera Cruz, Chefe de Departamento de Activação de Marca e Parcerias da ZAP. Hoje, um ano depois do início da campanha, a empresa montou já sete “Cantinhos da Leitura” em sete instituições: Lar Pequenas Sementes, Casa Margarida, Internato Margarida, Lar Remar, Casa Magone, Abrigo de Infância (Benguela) e Lar do Beiral. Entre aquisições de livros, doações de funcionários e parcerias com editoras e livrarias, recolheu-se mais de 1500 livros de vários géneros literários, que foram distribuídos pelas instituições contempladas. Até ao momento, indica Filipa Vera Cruz
“o projecto chegou a 366 crianças e 106 idosos”.
Timago Tilumba é um destes beneficiados. Natural da Lunda-Norte, de onde chegou sem conhecer ninguém na capital, encontrou no espaço rodeado de livros do lar Mamã Margarida “sabedoria das palavras”. “Mais conhecimento, aprendizagem, saber ler e escrever melhor, respeitar a pontuação, isso é o que me inspira a ler”, indica o jovem que prefere os livros de viagens e de lições de vida. “Cada livro é diferente, e em cada um descubro palavras novas. Quando não sei o que significa um termo, pergunto aqui no lar e assim vou aprendendo”, conta.
Este novo mundo da leitura e escrita também se abriu a Daniele Cacunda do lar Mamã Margarida “Foi com os livros do Cantinho de Leitura que aprendi a ler e a escrever bem. Já sabia algo, mas agora estou a aprender muitas coisas novas”, garante.
Motivar as crianças e jovens para que leiam e cresçam no mundo das letras é “um trabalho de todos os dias”, confessa Adjane Cadete. Segundo o Coordenador da Rede de Casas de Acolhimento da Igreja Católica, quando o Vidas ZAP instalou o Cantinho da Leitura na Casa Magone, os educadores criaram “programas de iniciação ao contacto com o livro, dado que a maior parte dos jovens não sabia ler”. Através de “iniciativas como concursos de leitura incutimos o gosto da leitura”. “Gostávamos agora de criar campanhas em que viessem pessoas para acompanhar as crianças e jovens neste processo e de ter a visita, até, de escritores infantis com quem eles pudessem conversar”.
Instalados os “cantinhos”, as instituições parceiras continuam a contar com o apoio do Vidas ZAP. Como forma de garantir o sucesso do programa, a empresa trabalha em conjunto com Projecto, Visão e Acção (VPA) 20/20, uma instituição de responsabilidade social com foco na educação e no incentivo à leitura das crianças mais desfavorecidas. Juntas, desenham programas que incluem a alfabetização, interpretação de textos, formação de bibliotecários e profissionais ligados ao mundo da escrita. Desta forma, comenta Filipa Vera Cruz, pretende-se “estimular e abrir as mentes destas crianças para que se tornem pessoas mais conscientes e auto-confiantes, e para que possam contribuir de forma positiva para a comunidade em que vivem”.
O futuro do programa prevê agora a instalação de mais Cantinhos da Leitura, preferencialmente em todas as províncias do País. O Projecto VIDAS ZAP agrega mais de 70 Lares em toda a Angola e “Estamos neste momento à procura de mais parceiros que abracem o projecto para continuarmos o nosso trabalho e levarmos o projecto a mais crianças e adolescentes”, revela Filipa Vera Cruz. Quando se identificarem os lares a apadrinhar (instituições em bibliotecas e com maiores necessidades de livros), o ciclo repetir-se-á: selecção dos livros a doar, pintura da sala que vai albergar a biblioteca, montagem das estantes, colocação de tapetes e puffs Vidas ZAP, passagem formal da gestão do projecto para a instituição beneficiária e uma breve explicação sobre o uso do espaço.
Os próximos passos passam também por formar pequenos clubes de leitura com escritores e autores conhecidos, que interajam com estes jovens e os incentivem à leitura e à escrita “com o fim de continuar a doar conhecimento para a vida, esperança para um futuro brilhante e imaginação para uma mente mais aberta e criativa” sublinha Filipa Vera Cruz.
BCI fica com edifício do Big One por ordem do Tribunal de...