Zuneid  Yousuf

Zuneid Yousuf

Depois de, nos últimos anos, ter enfrentado um crescendo de críticas decorrentes do elitismo percepcionado do evento, o Fórum Económico Mundial (FEM) tentou revitalizar Davos como uma plataforma para a inovação e para a acção no sentido do bem comum. O tema deste ano foi a ‘Globalização 4.0: Definir uma Arquitectura Global na era da Quarta Revolução Industrial’; o termo ‘Quarta Revolução Industrial’ pode invocar imagens de fábricas vitorianas fervilhantes e de comboios a vapor a circular pelos campos ingleses, mas, na verdade, descreve a revolução económica que ocorre hoje, impelida pela tecnologia e alimentada pela globalização.

A gestão desta transformação será desafiante para todos, mas não existem dúvidas de que um Reino Unido pronto a separar-se da União Europeia vai enfrentar um grau especialmente elevado de incerteza. À medida que uma Grã-Bretanha pós-Brexit procura o seu lugar no mundo, a atenção sobre África encerra promessas consideráveis.

Para muitos africanos, a globalização representa oportunidades, empreendedorismo e ambição. Com efeito, foi a globalização que me permitiu transformar uma modesta empresa familiar zambiana numa empresa multinacional diversificada – o Grupo MBI – que consegue estar presente em três continentes, nos sectores mineiro, energético, agrícola, dos produtos de grande consumo e dos refrigerantes.

Evidentemente que não estou sozinho. A globalização explica parcialmente porque, no ano passado, seis das dez economias de crescimento mais rápido do mundo se encontravam na África Subsaariana. O Fundo Monetário Internacional (FMI) espera que o crescimento do PIB desta região atinja em média 3,6% em 2019-20.

Historicamente, as economias de muitos países africanos têm recorrido às suas significativas reservas de recursos naturais, a par da agricultura produtiva. Por exemplo, a Zâmbia é o segundo maior produtor de cobre no continente, uma mercadoria usada em muitos produtos tecnológicos no Reino Unido e em mercados de crescimento por todo o mundo. Em 2018, a Zâmbia extraiu mais de 800 mil toneladas de cobre. Com a melhoria das infra-estruturas energéticas, esse valor poderá em breve chegar ao milhão de toneladas por ano.

Actualmente, os países africanos aproveitam cada vez mais os seus pontos fortes – recursos naturais e agricultura – para incentivarem o desenvolvimento de sectores empresariais mais abrangentes, a diversificação da agricultura e a atracção do investimento directo estrangeiro. Os países africanos também estão a melhorar o aproveitamento das necessidades e recursos das empresas privadas locais, do sector público, das instituições multilaterais e das corporações multinacionais, para garantirem os elevados volumes de financiamento necessários para o investimento em estradas, portos, comunicações e outros projectos de infra-estruturas.

Graças a estes esforços, a Zâmbia e outros países africanos têm subido posições no relatório Doing Business, publicado pelo Banco Mundial. Estas são boas notícias para o resto do mundo, que pode agora envolver-se economicamente com África, de um modo mais fácil e eficaz do que nunca. É por este motivo que muitos dos presentes em Davos encaram provavelmente África como uma componente crucial das suas estratégias económicas para os próximos anos.

Os líderes britânicos devem estar neste grupo. No passado mês de Agosto, a primeira-ministra Theresa May visitou a África Subsaariana – na primeira visita de um líder do Reino Unido em cinco anos – durante a qual prometeu que o seu país se tornaria o maior investidor estrangeiro em África no prazo de quatro anos. Mais recentemente, o Reino Unido nomeou novos enviados comerciais para alguns países africanos, de modo a ajudar as empresas britânicas a aproveitarem oportunidades comerciais e de investimento no continente.

Contudo, apesar destes esforços, o Reino Unido ainda fica atrás de outros países – designadamente, da China – que exploram mais agressivamente o que consideram ser alianças económicas estratégicas essenciais em África. Mais terá de ser feito para garantir que as empresas britânicas não serão excluídas.

Davos é um bom lugar para começar. Os representantes britânicos deveriam reservar algum tempo entre as reuniões com os seus homólogos de potências tradicionais, como a Alemanha e os Estados Unidos, para falarem com líderes empresariais e políticos africanos. Essas conversas devem continuar durante as próximas nove semanas, à medida que o Reino Unido se aproxima do prazo para o Brexit.

Durante anos, os líderes africanos têm enviado a mesma mensagem a Davos: África está aberta aos negócios. Agora seria o momento ideal para que o Reino Unido prestasse uma especial atenção a essa mensagem.

Chairmen de MBI Group, da Zâmbia