PARA PRESERVAR BIODIVERSIDADE MARINHA, DIZ ESTUDO

Pelo menos 26% dos oceanos terão de ser protegidos

CONSERVAÇÃO DA NATUREZA. Pesquisa sugere que, para que haja uma porção ?de todas as espécies marinhas, é necessária a criação de áreas de conservação. Área total a proteger pode chegar aos 41% da superfície de todos os oceanos.

Pelo menos 26% dos oceanos terão de ser protegidos
D.R.

 

Pelo menos 26% de todos os oceanos terão de ser protegidos para que a biodiversidade marinha da Terra possa ser preservada, defende uma equipa internacional de cientistas num estudo recentemente divulgado.

Para que todas as espécies marinhas tenham uma porção do seu ‘habitat’ preservado será necessária a criação de áreas de conservação (distribuídas por todos os oceanos) com uma área global estimada em 8,5 milhões de quilómetros quadrados”, diz, citado num comunicado da Universidade de Queensland, Austrália, Kendall Jones, um dos autores do estudo internacional coordenado pela universidade australiana.

Segundo o estudo, cerca de um terço de todas as espécies marinhas conhecidas têm actualmente menos de 10% dos seus ‘habitats’ com algum tipo de protecção. “Garantir a protecção das áreas identificadas no estudo poderia dar às espécies marinhas um espaço razoável para viver sem interferência de actividades humanas como a pesca, navegação comercial ou agricultura, que provoca contaminação com pesticidas”, afirmou Kendall Jones, que sublinha a necessidade de esforços globais de protecção dos oceanos para garantir a preservação da biodiversidade.

A comunidade internacional tem agendada para Outubro, em Kunming, China, a 15.ª Conferência das Partes (COP15) signatárias da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, que pretende alcançar um acordo global orientador dos esforços de protecção da vida selvagem na próxima década.

No estudo, os investigadores mapearam os ‘habitats’ de mais de 22.000 espécies marinhas identificadas e utilizaram modelos matemáticos para determinar as áreas mínimas necessárias a proteger para que essas espécies fossem abrangidas.

A conclusão foi a de que a área total a proteger varia entre os 26% e os 41% da superfície de todos os oceanos, dependendo do grau de protecção a atribuir a cada espécie.

Apesar de concluir que todos os oceanos têm de ter zonas de protecção da biodiversidade, o estudo identifica o Pacífico norte na zona da China e do Japão e o Atlântico entre a África ocidental e as Américas como áreas oceânicas cuja protecção é de importância crítica.

James Watson, director científico da Wildlife Conservation Society (WCS, Sociedade para a Conservação da Vida Selvagem), organização não-governamental fundada em Nova Iorque em 1895, é também citado no comunicado, a afirmar que as conclusões do estudo deixam clara a necessidade de intensificar esforços globais no campo das áreas protegidas. “Estas conclusões científicas demonstram que os governos têm de actuar com ambição, tal como fizeram com o Acordo de Paris (sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa), para que seja possível parar a crise de extinção que muitas espécies marinhas enfrentam”, afirma James Watson, também professor na Universidade de Queensland, no Leste da Austrália.

Para o director científico da WCS, a acção urgente que a protecção dos oceanos exige não se pode resumir à simples criação de áreas marinhas protegidas.

“É necessário recorrer a estratégias variadas como a definição de zonas de proibição total de pesca, de áreas protegidas geridas pelas comunidades locais e políticas públicas abrangentes para acabar com a pesca ilegal e insustentável”, afirma James Watson no comunicado da universidade australiana, considerando que um enquadramento global da protecção da vida marinha será também fundamental para assegurar a subsistência de milhões de pessoas em todo o mundo que dependem directamente da biodiversidade dos oceanos como fonte de alimentação e rendimento.