A auditória contínua enquanto ferramenta de gestão e impulsionador tecnológico

18 Nov. 2020 Opinião
D.R

O aumento da complexidade das operações, produtos e serviços financeiros, oferecidos pelas instituições bancárias, exige uma presença cada vez mais activa da função de auditoria interna. Esta exigência, aliada a recursos limitados, demonstra a urgência da ocorrência de uma transformação do papel de auditoria interna (AI).

A crescente digitalização dos modelos de negócio tem impulsionado a adopção de abordagens de auditoria contínua nas instituições enquanto ferramenta de gestão. Esta ‘onda digital’ propicia a avaliação contínua dos processos e controlos internos frequentes, à medida que propõe a libertação de recursos humanos para actividades do plano de auditoria que exijam espírito crítico e julgamento, contribuindo, deste modo, para a execução plena da Função de AI, nos termos do art. 17.º do Aviso nº 02/2013, de 22 de Março, do BNA sobre o Controlo Interno.

A ‘auditoria contínua’ caracteriza-se pela execução de actividades de auditoria de forma constante e com monitorização centralizada, constituindo uma modalidade de acompanhamento das instituições cuja importância anda (ou deveria andar) de mãos dadas com o nível de digitalização da actividade. Estas auditorias são geralmente orientadas por tecnologia e concebidas para automatizar a identificação de tendências e potenciais desvios face àquilo que seria expectável.

Dito de outro modo, os sistemas de auditoria contínua devem ser capazes de produzir alertas que forneçam avisos sobre anomalias e potenciais erros. Por exemplo, o sistema valida, de forma automática, a informação (i.e. relatórios) que apresente indícios de inconformidade com as normas e procedimentos da instituição, identificando e reportandoas referidas inconformidades.

A implementação de processos e mecanismos de auditoria contínua, assentes em soluções tecnológicas ajustadas às necessidades da instituição, permite um controlo mais rigoroso, tempestivo e automatizado, potenciando a libertação de recursos para outras iniciativas. Deste modo, a auditoria contínua emerge não só como uma ‘ferramenta de gestão’, mas também como um impulsionador de novas tecnologias e tendências com o foco na automatização e acompanhamento de processos de modo a mitigar falhas operacionais, erros e até mesmo fraudes.

Se é verdade que a auditoria contínua apresenta desafios, como, por exemplo, os custos iniciais com a implementação de sistemas, também não é menos verdade que se apresenta como factor diferenciador e vantagem competitiva da Função de Auditoria Interna dentro e para a instituição, na medida em que permite uma maior cobertura, flexibilidade e tempestividade na (1) identificação e revisão dos riscos e, consequentemente, actualização do plano de auditoria, (2) actuação tempestiva junto das áreas, nomeadamente dos balcões, para a resolução de problemas e reforço contínuo do ambiente de controlo interno, (3) comunicação aos órgãos de gestão e de fiscalização, (4) construção de pilares sustentáveis no processo de tomada de decisão e (5) libertação de recursos humanos para actividades que exijam espírito crítico e julgamento.

A auditoria contínua vem-se assumindo como um mecanismo de acompanhamento contínuo que reforça a capacidade de assurance (3.ª Linha de Defesa) e cuja eficácia e eficiência podem ser maximizadas através de ferramentas de data analytics, inteligência artificial (AI), machine learning e business intelligence (BI) enquanto drivers de optimização de recursos e aumento do valor aportado para a instituição.

 

Nuno Abrantes, Senior Manager EY, Business

Consulting Services 

 

Leonel Fonseca,

Senior EY, Business Consulting Services