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A década de industrialização de África

13 Feb. 2017 Sem Autor Opinião

Na economia global interdependente, África continua a ser o elo mais fraco. Para que o mundo alcance os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, cumprindo a Agenda das Nações Unidas para 2030, deve ajudar-se o continente africano a acelerar o seu desenvolvimento, promovendo uma industrialização rápida e responsável.

África, de modo algum, está destinada a ficar atrás do resto da economia mundial. Pelo contrário. Poderia facilmente tornar-se, dentro da próxima década, numa potência económica global. Mas, para cumprir esse potencial económico, África deve industrializar-se.

A importância disto tem sido enfatizada repetidamente em fóruns internacionais, como na 6.ª Conferência Internacional de Tóquio sobre Desenvolvimento Africano (TICAD VI), em Agosto, e na cúpula do G20 em Hangzhou, China. Pela primeira vez, o G20 colocou a industrialização de África - e de todos os países menos desenvolvidos – na agenda. A Agenda 2063 da União Africana também apoia esse impulso.

A recente resolução da Assembleia-Geral das Nações Unidas, que declarou 2016-2025 a Terceira Década do Desenvolvimento Industrial para África, é mais um empurrão. A Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) foi encarregada de operacionalizar e liderar a implementação do programa, incluindo a mobilização de recursos necessários.

Todas estas declarações e compromissos são passos importantes. Mas significam pouco se não forem traduzidos em acções concretas e efectivas que avancem para a industrialização africana, criem empregos e promovam o crescimento e o desenvolvimento económico inclusivo e sustentável. Mas a questão é saber como.

A resposta mais curta e rápida é… dinheiro e acção. Devemos desafiar a comunidade internacional e os parceiros de desenvolvimento a reforçarem as suas palavras com verdadeiros compromissos financeiros. Temos de construir parcerias para operacionalizar programas que permitam que África se torne o principal motor do crescimento económico do mundo.

Tais programas devem reconhecer e enfrentar os terríveis desafios que o continente enfrenta. O crescimento económico nas últimas décadas não tem sido estruturalmente impulsionado, sustentável ou totalmente inclusivo. Na verdade, as taxas de crescimento variam amplamente em todo o continente e nem todos os africanos beneficiam disso. Embora a classe média se tenha expandido acentuadamente nos últimos anos, gerando um ‘boom’ de consumo e impulsionando o investimento doméstico, muita gente ainda luta para sobreviver. As taxas de desemprego são altas, especialmente para jovens e mulheres - uma realidade que leva muitos africanos a refugiarem-se no Norte.

Para os manter em casa, as economias africanas devem ir além da produção de matérias-primas e construir sectores industriais dinâmicos e competitivos. Aqui, África deve aproveitar as oportunidades apresentadas pela participação em cadeias de valor globais e regionais. Devem ser introduzidas novas e inovadoras estratégias de desenvolvimento industrial, bem como medidas cuidadosamente concebidas para atrair o investimento directo estrangeiro.

É claro que, para desenvolver essas estratégias, os africanos precisam de conhecimento. O investimento em educação e na formação torna-se imperativo para facilitar uma industrialização bem sucedida e duradoura. Ao compreender e aproveitar as inovações de todo o mundo, África poderia ultrapassar tecnologicamente os países mais desenvolvidos, aumentando a capacidade de produzir bens mais sofisticados e de maior valor.

O conhecimento das experiências de outros países também pode ajudar o continente a evitar armadilhas da industrialização desenfreada, particularmente os danos ambientais. África deve assegurar que a estratégia de desenvolvimento industrial salvaguarde políticas ambientais eficazes.

África está bem posicionada para industrializar. Além dos enormes recursos naturais, o continente tem um perfil demográfico favorável (uma população em rápido crescimento significa que, em breve, terá a maior força de trabalho do mundo) e altas taxas de urbanização. Beneficia também de uma diáspora altamente educada.

Mas a industrialização nunca é automática. Os governos devem enfrentar as falhas do mercado, ao mesmo tempo que planeiam, implementam e aplicam políticas industriais que resolvam deficiências. Devem institucionalizar novas políticas nas estratégias nacionais e regionais de desenvolvimento.

Para ter sucesso, os governos precisam de capacidade, competência e legitimidade adequadas para se mobilizarem e interagirem com todas as partes interessadas, criando assim um clima de investimento atraente. As reformas necessárias abrem caminhos para parcerias público-privadas, que podem proporcionar investimentos para o desenvolvimento e manutenção de infra-estruturas. Facilitam também a cooperação com organizações internacionais e instituições de financiamento do desenvolvimento que podem fornecer fundos adicionais, ao mesmo tempo que ajudam os países a melhorar a sua capacidade produtiva.

Um relatório recente, preparado para a Cimeira de Hangzhou, apresenta uma série de recomendações para África. Sugere o apoio ao desenvolvimento da agricultura e do agronegócio e a sua vinculação com outros sectores, bem como medidas para aumentar a resiliência aos choques de preços. Além disso, o relatório enfatiza a necessidade de aprofundar, ampliar e actualizar a base de conhecimento local, investir na eficiência de recursos energéticos e materiais e promover tecnologias e indústrias ecológicas. Outras recomendações referem-se ao comércio e à integração regional, alavancando as finanças domésticas e externas e promovendo o que se denomina ‘Nova Revolução Industrial’.

As minhas numerosas reuniões com os líderes africanos e visitas a dezenas de países em todo o continente convenceram-me de que África está empenhada na industrialização. De facto, o processo já está em andamento em muitos países, como na Etiópia, Gana, Ruanda e Senegal. Ao oferecer o nosso empenho e apoio, podemos permitir que esses países realizem um desenvolvimento inclusivo e sustentável para benefício de todos.

DESTAQUE:

Além dos enormes recursos naturais, o continente tem um perfil demográfico favorável (a sua população em rápido crescimento significa que, em breve, terá a maior força de trabalho do mundo) e altas taxas de urbanização. Beneficia também de uma diáspora altamente educada.

 

Director-geral da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI).