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A educação precisa de empresas sociais

24 Oct. 2016 Gordon Brown Opinião

cerca de um quarto de milhão de jovens, na Síria, ficou fora do ensino superior devido à guerra civil. Mas o Instituto de Educação Internacional, instituições de caridade, filantropos e fundações uniram-se para ajudar os alunos a encontrar oportunidades de voltar a estudar, como refugiados, e para apoiar palestrantes e professores perseguidos pelo regime sírio.

A Plataforma para a Educação em Situação de Emergência (PESE) vai conectar refugiados sírios com faculdades. Com o tempo, a PEER vai servir de canal para levar o ensino superior a estudantes deslocados em todo o mundo e atender a todos os níveis de ensino, fornecendo informações pela internet e dando pontos de contacto, aconselhamento e um apoio que se torna muito necessário.

A PEER é um projecto da Catalyst Trust for Universal Education (CTUE), uma instituição de caridade ligada à educação fundada pelo ex-presidente da Universidade de Nova Iorque John Sexton. A CTUE apoia também projectos que repensem a escola, que estimulem estudos de impacto social e que invistam na educação, introduzindo programas que incentivem a convivência inter-religiosa. Todos os projectos provam a sua importância e têm como objectivo fornecer uma educação universal, pela primeira vez, a toda uma geração de jovens.

Com 260 milhões de crianças fora da escola em todo o mundo, a educação precisa de mais entusiastas parecidos com os defensores da saúde mundial e dos movimentos ambientais. Para o desenvolvimento internacional, há mais apostas na inovação na educação do que em qualquer outro sector. As tecnologias digitais e a Internet tornaram-se mais acessíveis, mesmo nas regiões mais pobres do mundo.

A educação tem tido, até agora, uma adaptação muito lenta a este mundo em mudança. Apesar dos avanços tecnológicos, as salas de aula - ao contrário dos locais de trabalho ou dos lares - mantiveram-se praticamente inalteradas desde o século XIX. É a hora de haver reformas que capacitem professores a transformar escolas em centros de aprendizagem do século XXI.

Nos últimos anos, as opções de financiamento no sector privado - como capital de risco, fundos de investimento direccionados e novas classes de activos - abriram inúmeras oportunidades para os empreendedores sociais no sector da educação. No entanto, como com a tecnologia, os sectores públicos e sem fins lucrativos têm sido lentos a reagir; ambos ainda precisam de reconhecer o valor das empresas sociais que têm o foco na educação.

Aqui reside uma oportunidade única para elevar o potencial subestimado da empresa social. Para aproveitar esta oportunidade, primeiro, devemos reconhecer que muitas ideias que emanam do sector sem fins lucrativos são nados-mortos ou inviáveis, muitas vezes, por falta de financiamento. Devemos fazer mais para fornecer capital como uma semente para a educação e que pode ajudar a expandir os actuais programas-piloto que tem sido bem sucedidos.

Esta estratégia vai criar um ciclo virtuoso em que inovações iniciais estimulam mais inovações na educação. De facto, a CTUE está já a explorar a melhor forma de medir os resultados no desenvolvimento de sistemas de avaliação escolar de muitos países, que determinam quais as medidas mais relevantes para se criar ambientes educacionais únicas. Uma equipa de professores da Universidade de Nova York - obedecendo a indicações da UNESCO e da Instituição Brookings - vai trabalhar com uma rede global de pesquisadores em universidades locais em vários países para examinar os métodos mais adequados, o sucesso e a falha nos sistemas de ensino em todo o mundo.

A CTUE apoia também projectos-piloto no domínio da educação de direitos humanos em toda a Europa do Leste, Médio Oriente, África e nos EUA para determinar como os currículos escolares podem melhor e incentivar o entendimento inter-religioso. É hora de combater a ideia extremista, actualmente muito popular nas políticas ocidentais, de que a coexistência é impossível. As escolas são os primeiros lugares onde podemos e devemos promover uma cidadania inclusiva.

Fomentar esses currículos deve ir além dos apelos optimistas para ditames religiosos universais, como “amor ao próximo”. Para o efeito, a CTUE espera apoiar o desenvolvimento de currículos que ensinam o valor da diversidade e o reforço da coesão e harmonia social.

Num esforço para ajudar estudantes refugiados, a CTUE examina como empresas, fundações e doadores públicos podem tornar os recursos disponíveis, de uma forma mais consistente, para os deslocados. Toda vez que há uma guerra ou um desastre natural, a comunidade internacional dedica-se a financiar as forças de paz das Nações Unidas ou a doar para o desenvolvimento do Banco Mundial. Mas a educação fica esquecida no quadro da ajuda humanitária, que se concentra nas necessidades imediatas, como comida e abrigos, e na ajuda ao desenvolvimento, que tem como alvo projectos de longo prazo. A CTUE espera moldar um sistema melhor que forneça uma ajuda de emergência de uma forma mais eficaz e responsável para as necessidades negligenciadas, como a educação.

Há muitos projectos dignos que merecem consideração de organizações como a CTUE. Um dos exemplos é um projecto-piloto que vai ajudar os dois milhões de estudantes deficientes visuais e cujas necessidades educacionais têm sido negligenciadas. Com a nova tecnologia, podemos saltar 150 anos no sistema braille e instantaneamente processar textos em gravações de áudio, fazendo todos os tipos de materiais de aprendizagem acessíveis a deficientes visuais. Esta tecnologia está pronta para ser implantada, desde que se possa reunir recursos para treinar professores e alunos com deficiência visual a utilizar as novas ferramentas.

Para quem se preocupa com a educação, a nossa tarefa é clara: ajudar milhões de pessoas pobres, especialmente nas partes mais remotas do mundo, com inovações necessárias que transformam e melhoram as suas vidas através da aprendizagem.

 

 

Ex-primeiro-Ministro e ex-ministro das Finanças do Reino Unido, enviado especial das Nações Unidas para a Educação Global e presidente da Comissão Internacional sobre o Financiamento Global.