FUNDO IMOBILIÁRIO DO BESA

Banco Económico tenta vender empreendimentos ruinosos do BESA

BANCA. As imparidades geradas pela sobrevalorização dos investimentos foram declaradas perdas dos accionistas do BESA e o encaixe das vendas reverte a favor do Banco Económico que manteve apenas um dos accionistas antigos.

 

Com preços tabelados que rondam os 7000 dólares por metro quadrado, vários empreendimentos construídos através do fundo de investimento imobiliário BESACTIF, no tempo do BESA de Álvaro Sobrinho, estão num mercado que perdeu valor, em grande parte desocupados à espera de comprador. Apesar dos preços tabelados por metro quadrado se aproximarem do previsto nos projectos iniciais, o VALOR soube que são negociados com até cerca de 30% de desconto.

O património em causa inclui espaços nos edifícios da ESCOM, e das Torres Loanda ambos próximos do largo kinaxixi, as Torres Oceano ao lado do Cinetropical, o empreendimento Rosalinda no embarcadouro do Mussulo, o edifício Victória no Serpa Pinto, o empreendimento Acquaville em Talatona, e outros não disponíveis no website da instituição como o KN10 na Maianga.

Junto do Banco Económico, o VALOR tentou confirmar a informação oficiosa de que se tratariam de execuções de hipotecas de alguns dos ‘famosos empréstimos desaparecidos do BESA’, no entanto, a administração do Banco Económico esclareceu que estes e outros empreendimentos seriam parte do fundo do BESA criado para investimentos imobiliários, o BESACTIF. Questionada sobre outros accionistas do fundo, a administração do novo Banco Económico, que terá herdado a gestão dos empreendimentos, evoca o sigilo bancário mas confirma a compra de acções de um segundo fundo também detentor de empreendimentos imobiliários por parte de clientes do banco.

Estes accionistas do fundo imobiliário, bem como o BESA, não vão receber qualquer retorno desses investimentos, já que foram todos considerados perdas, imparidades encaixadas tanto no banco mau do BES português como pelos accionistas do BESA. Apenas um dos accionistas do BESA que se manteve accionista do Banco Económico, a empresa pública Sonangol, poderia receber algum proveito de futuras vendas, o que, graças às actuais condições do mercado imobiliário, se torna improvável.

 

EDIFÍCIOS DE LUXO VAZIOS HÁ ANOS

Alguns destes empreendimentos como as Torres Oceano estão no mercado há mais de um ano, e outros como os edifícios da ESCOM, que segundo fontes se encontram em disputa legal, esses sim por execução de hipoteca por parte do Banco Económico, estarão quase vagos há mais de três anos. Sendo que se trataram de investimentos de longo prazo, muitos iniciados em 2011, e cuja construção também se arrastou graças às dificuldades de importação de material de construção, o longo período de ‘abandono’ dos edifícios de luxo também se deve ao processo que levou à extinção do BESA.

Fontes do ramo imobiliário confidenciaram ao VALOR que a preferência do Banco Económico por vendas de prédios inteiros estaria também a condicionar a comercialização de fracções. O Banco Económico desmente a opção e garante estar aberto a ofertas de compra e mesmo arrendamento de fracções.

Questionada sobre o volume de perdas fruto das imparidades desses investimentos, a diferença entre o valor do investimento e do que é possível recuperar hoje em dia, a administração do Banco Económico reconhece ser elevada e conhecer as previsões, mas recusa divulgar.

No entanto, o mercado imobiliário, que se tem ressentido segundo analistas do sector entre 20% e 30%, tanto do aumento substancial da oferta mas como da crise que levou a que muitas empresas petrolíferas (então as maiores investidoras) deixassem de comprar imóveis, não augura lucros ou esperança de recuperação dos investimentos dos extinto BESA.

Fontes do sector bancário afirmam oficiosamente ao VALOR que “estes empreendimentos se tornaram veículos para fazer desaparecer dinheiro, já que à partida foram fortemente sobrevalorizados e num mercado em que, devido ao aumento substancial de empreendimentos, já se antecipava uma quebra numa lógica de mais tarde se assumirem perdas contabilísticas”. E acrescentam ainda que a discrição usada para aquisição de empreendimentos em fase de construção ou entrada de accionistas no fundo, que por sua vez construiu outros tantos empreendimentos, identificou personalidades da esfera política que, se dentro da estrutura accionista do fundo, poderiam “oferecer segurança em caso de investigação, que poderiam escudar o banco e a sua administração de qualquer problema”. Levando em conta também a desvalorização do kwanza face a um custo de construção à época mais elevado, a recuperação do investimento por parte do Banco económico vai ser várias vezes inferior às expectativas de lucro estimadas pelo BESA.

O BESACTIF, auditado pela KPMG em 2012, detinha um capital de perto de 98 mil milhões de kwanzas (980 milhões de dólares ao cambio da época) e foi o veículo eleito para contornar a proibição legal de aquisição de activos próprios imobiliários por parte de instituições bancárias. Os empréstimos concedidos pelo BESA e a que Álvaro Sobrinho afirmou ter perdido o rasto são alvo de uma investigação por parte da Procuradoria Geral de Angola anunciada na semana passada.

 

TORRES ESKOM 4 EDIFÍCIOS

24 pisos torre comercial 22 pisos torres residenciais Preço por m2 cerca de 7mil USD

TORRES OCEANO 2 EDIFÍCIOS

23 pisos torre comercial 24 pisos torre residencial Preço por m2 entre 6 e 7 mil USD

CONDOMÍNIO ROSALINDA 6 EDIFÍCIOS

8 pisos prédios residenciais cerca de 5mil USD m2

TORRES LOANDA 2 EDIFÍCIOS

28 pisos torre residencial 24 pisos torre comercial cerca de 7mil USD m2

EDIFICIO VICTÓRIA 1 EDIFÍCIO

18 pisos torre residencial Cerca de 7mil USD m2

EDIFICIO KN10 1 EDIFÍCIO

12 pisos escritórios Cerca de 5mil USD m2

ACQUAVILLE RESIDENCIAL TALATONA 8 EDIFÍCIOS

8 pisos edifícios residenciais Cerca de 5mil USD m2