Bancos ponderam abrir agências no Asa Branca
COMÉRCIO. Três bancos estão a avaliar as vantagens de ter dependências no mercado do Asa Branca, em Luanda, para cobrir as necessidades das peixeiras e travar assaltos.
Face à crescente onda de assaltos de que têm sido vítimas as peixeiras da ´praça´ do ‘Asa Branca’, que ocorrem no regresso a casa, o gestor do mercado pediu aos bancos BFA, BIC, Postal e Económico, a abertura de agências, para que as vendedoras deixem de transportar o dinheiro. Pedro Esteves propõe que os bancos alterem o horário de abertura das agências, antes das 8 horas, dado que as peixeiras precisam “muito cedo” do ´dinheiro vivo´ para a compra do produto, no Porto Pesqueiro de Luanda.
O BFA, o BIC e o Banco Económico garantem estar a realizar um estudo de viabilidade para apurar as vantagens, nas condições requeridas pelas peixeiras. O Postal, por sua vez, propõe que a administração do mercado seja transformada “numa espécie” de dependência, em que um técnico seria destacado na administração para realizar operações com os valores que seriam guardados localmente. Mas Pedro Esteves recusou.
No mercado, já há uma agência do BPC, mas as vendedoras, segundo o gestor, recusam-se a depositar, por causa da hora em que é aberta, bem como pelas alegadas falhas no sistema, associada à ausência “constante” de disponibilidade financeira.
“À semelhança do Banco Postal, as peixeiras também pediram que fizesse a guarda do dinheiro delas cá. Mas não posso aceitar, porque é algo de tamanha responsabilidade. Somos uma administração, não uma instituição bancária”, sublinha Pedro Esteves, que assume poder garantir segurança das vendedoras no interior do mercado. Além da polícia nacional, a praça é patrulhada por operacionais de uma empresa de segurança privada, bem como por fiscais locais.
Enquanto nenhum outro banco se instala na ‘praça’, as peixeiras, que também recusam a escolta policial, por “falta de confiança”, continuarão a levar o dinheiro para casa.
Uma das peixeiras, Teresa, que compra as caixas de carapau a 13 mil kwanzas, e os comercializa a 15 mil ou 14 mil kwanzas, caso o cliente insista com descontos, nunca foi assaltada e foge de passar pelo centro de formação do Cazenga; na Frescangol e na BCA.
“Desejamos que coloquem já um banco aqui, mas tem de abrir cedo e com disponibilidade para ceder o dinheiro, porque onde compramos o peixe, os trabalhadores, muitas vezes, alegam haver falha de sistema no multicaixa”, refere.
Diferente de Teresa, Ana Maria, comerciante há mais de 10 anos, já foi vítima de um assalto, do qual perdeu 80 milhões de kwanzas. Desconfia de alguns colaboradores delas.
Patrícia de Sousa, também peixeira, manifesta-se cansada com a presença de ‘matocheiros’, que, à semelhança do que fazem os lotadores de táxis, conduzem os clientes às comerciantes, forçando a vendedora a aumentar entre três mil ou mesmo 4.500 kwanzas ao preço real, para poder pagar-lhe.
As comerciantes que vendem os produtos nos ‘estrados’ pagam à administração uma taxa de 400 kwanzas/dia. As que vendem em contentores pagam 2.400 kwanzas, o que perfaz 62.400 kwanzas por mês.
Concorrência desleal interna
Para lá das makas de assaltos, as vendedoras de peixe a retalho, e que compram o produto nos grossistas, acusam as colegas de concorrência desleal, por estas passarem também a vender a retalho.
Luísa Domingos compra a caixa de carapau a 14 mil kwanzas, para vender a retalho, sendo que cada monte de seis peixes é comercializado a quatro mil kwanzas. E a corvina preta, cujo preço da caixa tem oscilado entre os 16 e 18 mil kwanzas, é vendida a seis mil kwanzas por quilo.
“Com o antigo administrador, as grossistas eram proibidas de vender a retalho, mas esse novo administrador não quer saber”, lamenta Luísa Domingos, que recorda ter chegado a vender mais de três caixas de peixe num só dia, antes das grossistas passarem também a vender a retalho.
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