Brasil – A derrota dos extremos
A segunda volta das eleições presidenciais brasileiras revelam algumas tendências novas e confirmam outras anteriores. Assim, o bolsonarismo e o petismo recuam. No primeiro caso é uma primeira manifestação de tendência, no segundo já vem das municipais de 2016 (poucos meses após o impeachment de Dilma Roussef) e das presidenciais de 2018.
O Presidente Jair Bolsonaro não conseguiu eleger nenhum dos candidatos que nominalmente apoiou e o PT não consegue nenhuma Prefeitura de capital de Estado, perdendo 71 na soma de todo o tipo de município.
Partidos aliados a Bolsonaro, como PP e o PSD, avançaram, porém com nova linguagem e vão tornar-se mais exigentes na atribuição de funções e vantagens para as cidades e estados que dirijam. Ou seja, o Presidente da República pode ficar dependente dos aliados, ao invés do que aconteceu durante o primeiro ano do mandato presidencial. Na base de sustentação presidencial, o partido Republicanos, emanação da Igreja Universal do reino de Deus, ficou num desempenho bastante modesto para as pretensões que tinha e é mesmo esmagado na principal Prefeitura que conquistou em 2016 – a do Rio de Janeiro.
Com o passar do tempo, o governo federal começou a ser percebido pela população como mau gestor e, o inicial negacionismo de Bolsonaro em relação à pandemia, afectou-o muito mais do que julgavam mesmo grandes adversários dele. Isto já obrigou a presidente a dizer que nunca chamou a covid-19 de “gripezinha”.
O voto em Bolsonaro para a Presidência foi de facto um voto contra o PT, visto pela maioria do eleitorado como corrupto. Este sentimento parece manter-se, explicando o contínuo recuo do partido de Lula, mas já não é suficiente para manter os mesmos níveis de apoio a Bolsonaro.
A conhecida colunista Thais Oyama, do mais popular site de notícias do Brasil, escreveu que o enfraquecimento do PT é mau para o bolsonarismo que se apresenta como o oposto do petismo e derrota sempre este, mas tem dificuldades com os demais sectores políticos.
A direita e o centro liberais são os vencedores e, movimentações nessas áreas, visam desde já as eleições presidenciais e parlamentares de 2022.
O Prefeito reeleito de São Paulo, Bruno Covas acentuou que no principal colégio eleitoral do país ( e maior centro industrial) o eleitorado rejeitou o negacionismo e o obscurantismo dando a vitória à ciência, clara referência de oposição ao Presidente Jair Bolsonaro. No Rio de Janeiro, o vencedor, Eduardo País proclamou o regresso da diversidade e da tolerância. Os dois homens pertencem a partidos diferentes, respectivamente PSDB e Democratas (Dem), porém situados numa confluência que pode ser o eixo principal de aliança centro-direita.
Á esquerda, o governador do Maranhão, Flávio Dino, disse em entrevista que a direita ganhou o confronto coma a esquerda mas, acentuou, o bolsonarismo está fora desse campo vitorioso. Como muitos outros líderes de esquerda fez apela a uma frente de esquerda, na qual é vê papel central para o PT.
Ciro Gomes, líder do PDT, também esquerda, discorda e propõe uma frente de centro esquerda tão ampla quanto possível, sem deixar de criticar duramente o PT. Para ele os derrotados nestas eleições foram “o bolsonarismo e o lulopetismo”. Talvez tenha eco em João Campos, do Partido Socialista (PSB), eleito Prefeito do Recife, precisamente contra uma candidata do PT. Estas duas personalidades não aceitam Lula nem o PT como líderes da esquerda.
Ao longo desta semana o Brasil aguarda as medidas económicas que estavam prometidas para depois das eleições pelo Ministro da economia e Finanças, Paulo Guedes. Várias delas com forte incidência social. Por exemplo, o que vai acontecer com a ajuda emergencial a milhões de pessoas para quem tem sido o único recurso de sobrevivência, com alta repercussão no movimento do comércio em geral.
Claro que, como em todo o mundo, o próximo ano será função dos níveis de vacinação alcançáveis e da sua eficácia.
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