‘Arrumação’ de angolanos no BCP em xeque
BANCA. Novas revelações indicam que a Comissão Europeia terá orientado Portugal a reduzir a presença dos angolanos no Millennium BCP e de africanos no sistema financeiro luso.
As negociações entre os espanhóis do CaixaBank e a empresária Isabel dos Santos sobre a venda da particicipação dos 18,58 da Santoro no BPI chegaram a um impasse. Após o encontro da empresária com o primeiro-ministro português, António Costa, que antecipava a saída do capital angolano do BPI para posterior entrada no Millennium BCP, a administração do banco espanhol anunciou a suspensão das negociações, na última quinta-feira.
À indisposição dos espanhóis, acresce-se a insistência da Comissão Europeia que recomendou a retirada do Millennium BCP do controlo dos angolanos, além de orientar o governo português a reduzir a presença “de africanos no sistema financeiro luso”.
Essas informações foram confirmadas pelo antigo presidente da Associação de Bancos de Portugal, João Salgueiro, que explicou os receios das instituições europeias, pela instabilidade dos capitais angolanos, que acarretam perigo acrescido de descapitalização das instituições portuguesas. O exemplo mais recente é o caso do BESAngola em que, há três anos, foi descoberto um ‘buraco’ superior a cinco mil milhões de dólares, que acabou por expor também o seu par português, Banco Espírito Santo.
As recomendações das instituições europeias divergem, no entanto, dos interesses do governo português a quem interessa a concretização da saída de Isabel dos Santos do BPI, já que o consequente investimento da empresária angolana no BCP permitiria o reembolso de parte do dinheiro público investido na capitalização assistida do banco em 2012 e simultaneamente a ‘arrumação dos angolanos’ numa só instituições.
Do grupo de accionistas do Millennium BCP, consta a Sonangol, com 17,8%, a BlackRock, com 2,2%, o Grupo Interoceânico, com 2,04%, a EDP, com 2,4% e o Grupo Sabell, que detém 5,07%.
Enquanto se instala o impasse, o prazo limite estabelecido para resolução da exposição do BPI a Angola foi 10 de Abril e, segundo o jornal português ‘Negócios’, será aplicada uma multa diária no valor de 5% do volume de negócios.
O braço de ferro entre o BPI, Isabel dos Santos e o CaixaBank já dura há mais de um ano, desde que o Banco Central Europeu (BCE) exigiu que os bancos portugueses reduzissem exposição a Angola. Na base estão os “riscos associados ao sistema financeiro angolano”, sobretudo depois do ‘colapso’ do Banco Espírito Santo Angola (Angola), tendo forçado aquela autoridade a alterar as regras de supervisão bancária para a Europa.
BCP ‘GANHA’ COM ENTRADA DE ISABEL DOS SANTOS
Analistas da banca portuguesa adiantam, para já, duas certezas: o interesse da empresária angolana em manter negócios com bancos portugueses e a necessidade de o Governo português em recuperar os 500 milhões de Euros (559,4 milhões de dólares) da recapitalização ao BCP feita pelo Estado, há quatro anos.
O Haitong Bank considera, por exemplo, “positivo para o BCP” a entrada de Isabel dos Santos no capital do banco, mas alerta para a forma como o negócio deve ocorrer, segundo uma análise reproduzida pelo jornal luso ‘Diário Económico’.
“Há que ser cauteloso acerca do momento em que ocorrerá esse potencial investimento, bem como quanto à potencial dimensão do investimento”, aponta o banco sino-português, que levanta ainda dúvidas sobre a aplicação dos recursos que Isabel dos Santos vai obter com a venda da participação no BPI. Questiona se, entre o BCP e o BFA, qual dos negócios será prioritário na absorção da liquidez saída do BPI.
“Duvidamos que Isabel dos Santos vá reinvestir a maioria do encaixe obtido com a eventual venda da sua posição no BPI. Provavelmente utilizará os recursos para comprar a posição do BPI na subsidiária angolana BFA”, antevê o banco chinês com sede em Portugal, que pondera uma entrada gradual da empresária no capital do BCP.
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