Caminhos para a erradicação da fome em Angola

13 Dec. 2024 Opinião

A questão da fome em Angola é apenas uma das consequências da nossa história e dos problemas estruturais da nossa economia até hoje.

Caminhos para a erradicação da fome em Angola

Situações como a guerra e o fraco investimento na agricultura, pesca, avicultura e pecuária contribuem significativamente para o estado actual de pobreza que se vive na sociedade angolana. 
A guerra contribuiu para a migração massiva para as cidades, de pessoas que habitualmente viveram em zonas rurais. Tais pessoas, tendo habitualmente sido camponesas, e com baixo nível de escolaridade, encontraram dificuldades para se inserirem na vida das cidades, ficando relegadas para actividades informais de negócio para a sua sobrevivência. 
Nas zonas rurais, por conta do baixo nível de estímulo à actividade agrícola (facilidades para aquisição de sementes, fertilizantes, adubos, pesticidades) e da dependência de quedas pluviométricas, verifica-se um baixo índice de productividade agrícola, fazendo com que se tenha uma capacidade bastante reduzida para o atendimento da procura global do nosso mercado, ficando o mercado pressionado a importar produtos alimentares, sujeitando-se aos efeitos negativos das flutuações cambiais desfavoráveis. 
As flutuações cambiais desfavoráveis, ao encarecerem os produtos alimentares importados, contribuem significativamente para o aumento do nível geral de preços, dificultando assim o acesso a produtos alimentares a uma franja considerável da nossa sociedade, relegando-os para uma alimentação precária ou mesmo para a fome nos seus mais variados níveis de intensidade. 
Além de mudanças estruturais que devem ser operadas a nível da economia nacional, tais como a redução da dependência a um único recurso natural, a diversificação da economia, a autonomização das cadeias produtivas, o aumento da produção, da produtividade, da eficiência técnica e tecnológica, e valorização da inovação técnica, técnológica e científica como pilares para um crescimento industrial e económico sustentáveis, serão cruciais a materialização das seguintes iniciativas para a erradicação da fome no país: 
1.Promover o treinamento permanente de camponeses sobre as melhores técnicas de produção agrícola no nosso contexto, dado que, actualmente, a agricultura de subsistência é responsável por 80% da produção agrícola nacional; 
2.Implementação de unidades industriais para a produção de fertilizantes e pesticidas à altura das necessidades de todo o País; 
3.Fomento da investigação agronómica visando a produção de sementes melhoradas no território nacional, com capacidade para atender toda a demanda por sementes a nível nacional, nas mais variadas culturas; 
4.Formação de quadros do sector agronómico para a investigação científica, visando o aumento da eficiência das sementes e melhoramento das técnicas e dos processos de produção; 
5.Fomento da criação de empresas que se dediquem à prestação do serviço de nivelamento da terra e preparo do leito da semeadura; 
6.Promover o aumento do número de empresas que se dediquem ao transporte de produtos alimentares, das zonas de produção para as zonas de consumo; 
7.Promover o surgimento de unidades de armazenamento e conservação de produtos alimentares; 
8.Promover o surgimento de unidades fabris de processamento e ou transformação de produtos agrícolas, piscatórios, pecuários e afins; 
9.Promover o surgimento de empresas de implementação de sistemas de irrigação; 
10.Promover o surgimento de empresas vocacionadas para a produção de equipamentos e tecnologias de produção agrícola (tractores, charruas, electrobombas, motobombas, sistemas de irrigação, etc) para a neutralização dos efeitos cambiais desfavoráveis resultantes da importação destes meios; 
11.Promover o surgimento da produção agrícola empresarial de elevado valor, com vista ao aproveitamento das vantagens decorrentes das economias de escala; 
12.Promover o crescimento das actividades do sector avícola, piscatório (incluindo a piscicultura), pecuário e afins; 
13.Promover o surgimento de unidades económicas destinadas à produção de ração (para peixes ou gado), com potencial de crescimento para as necessidades actuais e futuras do País; 
14.Aumento da cabimentação financeira aos organismos públicos vocacionados à promoção e ou financiamento de projectos agrícolas, piscatórios, pecuários e afins; 
15.Implementação de políticas de estímulo financeiro à banca privada, com vista ao incentivo destes ao financiamento de projectos agrícolas, piscatórios, pecuários e afins; 
16.Identificação de centros de produção agrícola e asfaltagem das vias que ligam estas áreas às zonas de consumo, no intuito de reduzir os riscos relativos à transportação de produtos em picadas e vias em mau estado de conservação. 
E, nas cidades, por conta da elevada presença de força de trabalho com baixo nível de escolaridade, que dificilmente é absorvida pelo mercado de trabalho, que requer alguma qualificação ou proficiência técnica, será crucial a promoção ou fomento de indústrias de manufactura, cujo processo de trabalho seja essencialmente mais manual do que mental, com vista à sua absorção e restituição da sua utilidade social. Negócios como indústrias de calçados, de tecelagem, pastelaria, construção, estética, costura e moda, recolha de resíduos, jardinagem e outras são candidatas primárias para o efeito. 
Será ainda essencial, em muitos casos, a disponibilização de kits de trabalho para trabalhadores individuais como sapateiros, serralheiros, carpinteiros, alfaiates e costureiras, floristas, decoradoras, etc.