CONTAS OCULTAS II

01 May. 2017 Sem Autor Opinião

Mais uma edição com destaque absoluto para o alegado diferendo que opõe o Instituto Nacional de Estatística (INE), ao departamento ministerial que o tutela, no caso, o Ministério do Planeamento e do Desenvolvimento Territorial (MPDT). Os novos dados que trazemos à estampa apontam que o ministro Job Graça decidiu pela realização de uma auditoria às Contas do INE. A possibilidade de efectivação dessa medida é contestada, entretanto, por especialistas ligados à área das estatísticas que temem um atropelo gritante à Lei, face à autonomia técnica que é salvaguardada ao órgão dirigido por Camilo Ceita.

Mas, olhando para os factos que o VALOR já colocou sob o domínio público em relação a essa matéria, é fácil admitir que os alegados receios do MPDT sobre a fiabilidade das Contas não passam de uma ‘manobra de diversão’ para protelar ao máximo a divulgação oficial da fotografia macroeconómica completa do ano passado. O problema é que, uma vez divulgados os números e as razões de fundo da divergência, pela comunicação social, o MDPT coloca os pés pelas mãos e aquilo que possivelmente mais receava – o aproveitamento político dos dados – torna-se mais do que provável. Os números, afinal, mais do que ‘ajudam’. O produto interno bruto (PIB) de 2016, cuja previsão de crescimento do Governo era de 1,1%, depois de recuar dos 3,3% iniciais, nas contas do INE, registou uma queda de 3,6%. Ainda que se trate de dados preliminares, não deixa de ser uma diferença de tal modo significativa, ao ponto de justificar o tal medo atribuído a Job Graça. Afinal, nesta fase, todo o Governo vive, em certa medida, assombrado pelo medo das eleições. As hesitações que se colocam na gestão da política monetária e cambial são também prova disso. Não fosse o contexto político, era mais do que provável que o Governo tivesse esticado um pouco mais a corda em relação à desvalorização do kwanza. As certezas associadas à derrocada dos rendimentos, sobretudo das famílias, são inquestionáveis, mas não é menos verdade que a manutenção do valor administrativo do kwanza está também a colocar em causa as parcas reservas internacionais líquidas que são fundamentais nesta fase crítica que demanda pela diversificação da economia. Ora, sem divisas para apoiar verdadeiramente os investidores, na nossa condição de importadores absolutos, torna-se impossível impulsionar o investimento privado, logo a diversificação, nos termos em que é desejada, passa a ser uma miragem. De qualquer forma, José Eduardo dos Santos e Archer Mangueira deixaram claro que, por agora, o medo da inflação é maior que tudo o resto, por isso nada de mexer no valor do kwanza. Há mesmo muitos medos espalhados.... pelas eleições.