E agora pergunto eu...
Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende depois de uma semana em que correram mais imagens de corpos africanos a boiarem numa praia, fazendo referência aos 63 mortos em alto mar que, numa piroga um com 101 pessoas, tentava fugir de África rumo à Europa. A embarcação foi resgatada em Cabo Verde, o que levou a ministra cabo-verdiana da saúde na semana que passou a apelar a uma maior concertação internacional para travar as mortes de migrantes no mar, isto sendo que o presidente de Cabo Verde já tinha pedido ajuda internacional depois de outra piroga ter dado à costa do arquipélago com 90 migrantes, dois dos quais já mortos no início do ano.
O relatório da Cruz Vermelha sobre a embarcação que detalha 41 dias de deriva no mar em que as pessoas, mais de metade dos ocupantes, morreram de fome porque, uma semana depois de embarcarem, as provisões acabaram. A maioria dos migrantes eram senegaleses que tentavam chegar às ilhas espanholas, um dos 38 ocupantes regatados resgatados é guineense, e o mais novo ocupante da embarcação teria apenas 12 anos. Tenra idade para assistir a corpos serem atirados ao mar devido ao estado de putrefacção...
Nos primeiros três meses deste ano foram registadas pelo menos 400 mortes de africanos no mar um número que as Nações Unidas reconhecem estar muito abaixo do real número de mortos em embarcações que levam africanos em busca do sonho de uma vida melhor na Europa.
Entre o Senegal e Espanha são cerca de 1700 km. A viagem deveria ter demorado entre quatro e sete dias e é feita com tanta frequência que na quinta-feira da semana que passou foi resgatada outra piroga ao largo de Marrocos com 75 pessoas sendo que pelo menos uma dezena teve de ser hospitalizada. E agora pergunto eu, se Angola estivesse tão próximo da Europa, quantos desses corpos a boiar seriam de angolanos?
O Senegal como Angola não está em guerra. O que leva a que as pessoas embarquem em pirogas para enfrentar a morte no mar é essencialmente a perda de esperança de uma vida melhor no país que as viu nascer. Se tiverem emprego, condições condignas, segurança as pessoas não embarcam em aventuras mortais, por isso é que a qualidade das lideranças e a sua capacidade de inspirar, de manter a esperança no futuro é tão importante. Estas mortes não são senão o saldo da morte da esperança no continente berço que os viu nascer.
Para ler o artigo completo no Jornal em PDF, faça já a sua assinatura, clicando em ‘Assine já’ no canto superior direito deste site.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...