E agora pergunto eu...
Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende numa semana em que a actualidade andou mais uma vez marcada pela obstinação do presidente da República. O presidente João Lourenço é um homem obstinado e um homem obstinado frequentemente bem-sucedido porquanto obtém o objecto da sua obstinação. Vimos essa obstinação recentemente na teimosa inauguração do novo aeroporto, que está longe de ter condições para cumprir a sua função, mas que o homem insistiu que tinha de inaugurar mesmo que não tenhamos aviões internacionais a ali aterrar tão cedo... Vimos, e continuamos a ver, essa obstinação na perseguição sem tréguas a José Eduardo dos Santos e aos seus próximos, vimos essa obstinação ao ponto do macabro na luta com a família para reclamar o corpo de JES antes das eleições... Vemos a mesma obstinação na protecção aos que lhe interessa proteger, como o seu chefe de gabinete, o ex-VPR Manuel Vicente ou o presidente do Tribunal Supremo, que o levam a expor a hipocrisia, parcialidade e falência do seu combate à corrupção, e vimos novamente essa obstinação na concretização do seu sonho de ser recebido na Sala Oval da Casa Branca pelo presidente da nação mais poderosa do mundo que foi o principal acontecimento a marcar a actualidade na semana que passou.
Quanto custou a obstinação com esse sonho, entre pagamentos de lobby, que o serviço de notícias internacional Político colocava em pelo menos 15 milhões de dólares, não incluindo gastos com viagens, contratos multibilionários nos sectores da aviação defesa e afins, o rompimento com o bloco Rússia e China que continua a ser o maior credor de Angola... quanto custou e ainda pode custar essa obstinação ainda está por se saber, mas a obstinação levou o homem à Casa Branca que era o que aparentemente mais queria... E agora
pergunto eu, o que seria se a obstinação do presidente fosse, em vez de aparecer em fotos com poderosos, acabar com a fome em Angola, ou diminuir a pobreza ou resolver a falta crónica de saneamento? Se a obstinação fosse mais para com o serviço a Angola e aos angolanos, para com a criação de empregos, com a melhoria da educação e da saúde? Que país teríamos nestes seis anos de João Lourenço - o obstinado - no leme do país? As críticas à governação soam a disco riscado e dirão os correligionários do presidente que as provas desse comprometimento por parte do presidente são os hospitais inaugurados, o canal de Cafu no Cunene, o perlimpimpim que anda a construir escolas... no entanto temos os indicadores do número de crianças fora do sistema de ensino em Angola em pelo menos 22%, o desemprego a rondar os 40% e Angola continuamente a cair no índice do desenvolvimento humano com os angolanos mais pobres, a viver menos tempo e com menos qualidade de vida. Mesmo soando a disco riscado, não há nada mais importante a ser dito porque só se resolve o que se assume ter necessidade de resolução. Por isso vale voltar a perguntar: que quadro teríamos se em vez de obstinado com aparecer bem (ou tão bem quanto possível) na foto o presidente fosse obstinado com o desenvolvimento de Angola, com a melhoria da qualidade de vida, se fosse obstinado com a saúde e com a educação, com o combate efectivo à fome? Sem qualquer dúvida que o recebimento do presidente na Casa Branca se traduz numa vitória diplomática. No entanto, os EUA não vão desenvolver Angola pelos angolanos, independentemente do aumento da presença americana em Angola. É o pragmatismo da política americana que mantem o país no topo e esse pragmatismo assenta na colocação dos interesses americanos no topo das prioridades, uma prática que, de resto, seria ideal que os nossos governantes aprendessem e adotassem em relação ao seu próprio país. O presidente que privilegia o investimento externo e vira as costas ao empresariado nacional está a menosprezar o factor amor à terra que têm os nacionais e há de sempre faltar um pouco aos estrangeiros.
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