E agora pergunto eu...

06 Sep. 2024 Geralda Embaló Opinião

Seja bem-vindo querido leitor a este espaço onde já sabe - mas em época de 333 -vale sempre lembrar, perguntar não ofende, depois de uma semana em que o chefe de Estado e do estado de coisas desceu das nuvens - qual ave rara do paraíso - para ir às bases lembrar que são elas os alicerces do “grande edifício” que é o partido no poder e para fazer algo que se pareceu um bocadinho com queixumes (daqueles queixumes bem amargos)... Segundo o chefe parece que andam a falar mal dele... E perguntas não faltam. Para além do “quem se atreve a tal coisa?” - que o chefe possivelmente gostaria de ouvir dos seus ‘militontos’ - lembro que a genial expressão “militontos” não me pertence é emprestada do não menos genial e resistente jornal Folha 8 - mas outra pergunta que fica no ar é ‘será que é sério que o presidente se surpreende com falarem mal dele?’ Num país de 35 milhões de almas (mais de metade das quais na pobreza extrema) e num partido que se diz de milhões o chefe surpreende-se que falem mal dele que é o líder e por isso responsável máximo do que quer que corra bem ou que corra mal? No estado em que o país está, com as pessoas a terem dificuldade de comprar a cesta básica, em que mesmo os ‘chefes’ têm dificuldades de pagar salários, em que a economia mais do que nunca parece favorecer cada vez menos pessoas fora do 'inner circle' do poder, o chefe surpreende-se com falarem mal dele a ponto de se vir queixar de que o façam?

 

E agora  pergunto eu...

Porque será que um chefe de Estado convive tão mal com a critica? Mesmo a crítica vinda dos seus pares, a tal ponto de se queixar em público de que falam mal dele? Porque será que pensa que em face de tantos desafios diários que mesmo os seus militantes das bases enfrentam, críticas a si mesmo devem ser tema apropriado para discurso, para queixume? Para um militante das bases, que para além de todas as dificuldades que têm os angolanos: falta de saúde, de saneamento, de educação para os filhos, inflação descontrolada; ainda tem que ser ‘rijo’ o suficiente para dar a cara por um partido que é todos os dias responsabilizado pela desgraça em que
 
está o país; para esse militante que importância terá que outros mais velhos do partido falem mal do chefe a ponto de lhe tomar as dores quando se queixa?

Este tipo de queixume não lembra as crianças que segundo a ciência, devido ao córtex pré-frontal subdesenvolvido, reagem a qualquer estímulo com falta de racionalidade? –"Buááá o Didi falou mal de mi”...

E depois, não seria normal, particularmente em face de limitações estatutárias claras, de limitações constitucionais igualmente claras, e depois de sete anos a mostrar o que vale (e que está à vista dispensa qualquer adjectivação), não seria normal que depois de tudo isto os membros do partido conjecturem o day after? Pensem cenários, vejam quem acham que está à altura de tirar o partido do lamaçal em que se encontra? Não é normal? Porque há de ser motivo de queixume um exercício que faz parte da vida política? Governou depois de alguém e alguém há de governar a seguir, porque é que é motivo de ofensa uma discussão sobre quem vai fazê-lo? Será que a ideia era lá ficar para sempre sem nunca ser questionado? Mais uma vez lembra a criança que o pai deixou ir para o carrossel (no caso daqueles que têm aviõezinhos que provavelmente seria mais adequado), e que acabou a volta, mas não quer sair nem por nada, chora, berra e esperneia, que tem de continuar a girar...

Para ler o artigo completo no Jornal em PDF, faça já a sua assinatura, clicando em 'Assine já' no canto superior direito deste site.

 

Geralda Embaló

Geralda Embaló

Directora-geral adjunta do Valor Económico