E agora pergunto eu...

11 Sep. 2024 Geralda Embaló Opinião

Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde já sabe, perguntar não ofende, depois de uma semana marcada entre nós por uma nota do partido no poder informando de que estaria a organizar uma marcha contra os que - dentro do partido - “semeiam a discórdia no seio da organização política e atentam contra o mandato do presidente do partido”... muito bom. “Belzebu contra Belzebu” - diz o sempre espirituoso o Frei Hangalo e que subscrevo. E, perguntas não faltam a começar com quem foi o ‘génio’ que decidiu expor as pudendas, as misérias do partido em asta pública, mais do que por aí já andavam... e depois há perguntas do foro mais administrativo, como será que avisaram a polícia para não bater e prender? É que essa é a reação primária da polícia a manifestações... Ainda não fez uma semana que Angola foi notícia a nível internacional porque a polícia reprimiu uma manifestação em Luanda e deteve - segundo um dos activistas entrevistado - pelo menos 16 pessoas. Pessoas que exerciam o seu direito constitucional de expressarem a sua opinião sobre uma lei também ela repressiva, a do vandalismo, e até jornalistas novamente, depois de em 2021 o presidente ter vindo pedir desculpa pela detenção de jornalistas que estavam a trabalhar depois de profissionais desta casa terem sido detidos por quatro dias durante a cobertura de uma manifestação e outros detidos e libertados no mesmo dia. Nódoas da governação. O governo em vez de reprimir a opinião pública tem obrigação de ouvi-la, e com muita atenção, porque é para as pessoas - e não para os seus interesses - que deve governar.

 

E agora  pergunto eu...

Mas voltando à actualidade e às perguntas sobre as lutas intestinas do partido no poder, imaginando que o outro M, alvo do protesto, também se manifestasse em estilo de contramanifestação, em quem iria a polícia bater? É difícil imaginar a nossa polícia de ordem pública a levantar o bastão para uma manif do maioritário independentemente do apoio ou crítica ao líder, imagino que um cenário semelhante seria causa de muita confusão... Pergunto-me se bastará que os manifestantes enverguem farpelas vermelho, preto e amarelo para a polícia não
 
conseguir bater? E agora pergunto eu, se essa é a receita que salva do porrete, o que acontece se os outros manifestantes, que de vez em quando saem à rua para revindicar direitos humanos, melhores condições de vida e desenvolvimento para a nação que todos amamos, também envergarem as mesmas cores? Será que a polícia bate? O que aconteceria se os manifestantes do M fossem fazer a sua manifestação de apoio ao líder, mas acrescentassem uma adenda ao propósito da manif e apoiassem também... sei lá... melhores decisões por parte do líder? Ou gastos mais racionais por parte do líder? Menos passeios onerosos para o Estado e sem serventia nenhuma por exemplo? Será que a polícia nesse caso iria bater? E em que fase da manif? Pergunto porque isto de expressão da opinião, mesmo em questões óbvias - como o despesismo que lesa o Estado - pode tornar-se problemático em sede de autocracia, a ponto de ser necessária imaginação para os cidadãos encontrarem formas de se expressar. Então se as manifs de apoio ao líder são as autorizadas neste tipo de cenário porque não criar adendas aos propósitos manifestados para evitar prisões e porrada das mãos de instituições que deviam ser apartidárias e servir os cidadãos em vez de um partido que anda em si mesmo tão partido, tão quebrado, fragmentado como confirma a manif convocada...

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Geralda Embaló

Geralda Embaló

Directora-geral adjunta do Valor Económico