E agora pergunto eu...
A novela da IURD, por obra e graça da TPA com uma ‘super’ reportagem focada em ‘horrores’ que não são novidade nenhuma, substituiu o covid, e assuntos mais relevantes para todos, tomando o palco central das discussões entre os angolanos. Mas perguntas esta semana, algumas não são minhas, mas que subscrevo inteiramente, valem a pena colocar novamente. Primeiro algumas perguntas deixadas pelo jornalista Nok Nogueira na sua página como “será que a IURD vai trazer empregos de volta? Será que a IURD vai ajudar a institucionalizar o poder local? É que, como alerta, a Assembleia Nacional, que daqui a poucos dias termina a sessão legislativa, ainda não agendou o início dos debates sobre a institucionalização do poder local. As novelas sempre serviram de distração, de entretenimento enquanto coisas importantes são varridas para debaixo do tapete. Enquanto as eleições autárquicas saíram da agenda, nós vamos falando da IURD como se fosse esse um assunto de Estado, que não é.
Outra pergunta que não é “e que pergunto eu”, mas que subscrevo e vale a pena perguntar novamente é a do editorial do jornal Valor Económico da semana passada: “Umape para quê?”
Para o leitor que não teve ainda oportunidade de ler o jornal online, a UMAPE é o mais novo órgão que o governo criou para, passo a citar “coligir e organizar em tempo real as informações necessárias fidedignas e oportunas sobre o estado de execução dos projectos do executivo de modo a agilizar a tomada de decisões em tempo útil do titular do poder Executivo”. Noutras palavras menos chiques, o PR precisa de um novo monitor que tome conta dos projectos e lhe dê informações confiáveis e rápidas para o ajudar na tomada de decisão. O dito monitor é integrado então por dois dos seus secretários, por três ministros e quatro ministros de Estado”.
O caricato é mesmo que, apesar de um dos ministros de Estado, Adão de almeida, ter afirmado que a Umape não seria mais um sorvedouro do erário público, três meses mais tarde, o presidente autorizou o gasto de cerca de oito milhões de dólares para a equipar a Umape. Vale lembrar que a clínica dentária da presidência, projecto que o PR deixou cair devido às críticas, rondava os cinco milhões de dólares. Pois a Umape já tem um custo de oito, mas mais do que pela factura, vale perguntar de facto para quê que serve?
Com tanto secretário da presidência para isso mesmo, para ajudar o PR a decidir, com tanto ministério que supostamente devia prestar informação fidedigna, com tanta reunião ministerial, com tanto ministro, tanto secretário de Estado, tanto órgão que tem como propósito o levantamento de informação fidedigna, o Instituto Nacional de Estatística, as próprias unidades de estatística e fiscalização de projectos dos ministérios, unidades de fiscalização do Estado e os diferentes órgãos que processam essas informações, um mundo, todo financiado pelo Estado, mas, nada disso chega para dar informação fidedigna e atempada ao chefe. Alguma coisa está mesmo muito disfuncional.
Por último um outro tema obliterado pela novela da Universal foi o da venda, da Universidade Independente e que levou o dono a emitir um comunicado em que se confessa triste com os boatos de que é ‘marimbondo’ e de que a universidade vai ser confiscada pela PGR. Burity da Silva diz-se cansado dos “sobressaltos actuais que os empresários angolanos têm sido obrigados a viver diariamente”, e o saldo desse cansaço são mais 300 desempregados e o pânico justificado de quem já pagou por cursos ou estava a meio deles e é agora apeado a meio do caminho sem saber como vai ser o seu futuro. Uma instituição de ensino superior não é exactamente um supermercado, trata do futuro das pessoas, dos objectivos dos sonhos da esperança de uma vida melhor. Mas nós como gostamos de novelas, gostámos da transformação da justiça nacional numa espécie de carro alegórico de justiça popular em que a destruição de património serve de ameaça e equivale a entretenimento.
Quanto mais se confisca, mais ululamos. Não questionamos o que o Estado pode fazer com tanta coisa que confisca, já que nem o seu aparelho consegue gerir, as empresas públicas estão falidas. Mas mais pernicioso é o efeito confrangedor do investimento. O que acontece hoje é que qualquer um com dinheiro para dar continuidade a projectos que como este e como a Media Nova criam valor e empregam pessoas, corre o risco de ser chamado de marimbondo e até julgado por isso. E agora pergunto eu, que investidor no seu perfeito juízo se arrisca a investir em correndo o risco de amanhã se ver acusado de marimbondo e afins? Pergunto-me se há expressão que tenha retraído mais o investimento nacional? É que nem com “as costas quentes”, porque mesmo os que hoje estão alinhados com os ‘não marimbondos’ (se é que existem), amanhã podem tornar-se marimbondos de pleno direito do dia para a noite. Dificilmente vale a pena arriscar.
Numa fase em que se precisa tanto de investimento, haverá rótulo cuja significância tenha custado mais à economia do país como esta divisão tão flexível e opaca entre marimbondos e não marimbondos?
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