“É preciso conter a caça furtiva”
PRESERVAÇÃO. Pedro Vaz Pinto é o biólogo angolano que volta a coordenar o processo de contagem das palancas negras gigantes, três anos depois de ter feito o primeiro levantamento. A nova contagem já começou nas imediações do parque nacional de Cangandala e na reserva do Luando, em Malanje. Depois de 2013, havia menos de 100 exemplares. O biólogo conta ao VE a que ritmo estão os projectos de preservação, não só das palancas, mas de outras espécies em Angola
Como é feita a contagem das palancas negras?
Estamos a aproveitar o período de cacimbo pois é a altura mais propícia para realizar este tipo de acção, devido à melhoria dos acessos e às condições de visibilidade no terreno.
Quantos exemplares se estima que existam?
A estimativa aponta para um número total abaixo das 100 palancas nas duas reservas. No entanto, convém sublinhar que esta estimativa baseia-se na última contagem feita em 2013, e complementada com algumas observações e inferências recolhidas no terreno desde essa altura. No final da contagem deste ano, teremos certamente uma estimativa actualizada e muito mais precisa.
Que medidas sugere para a preservação da espécie?
São diversas e vêm sendo discutidas entre os parceiros. Eu apontaria que as mais urgentes deveriam ser a contenção da caça furtiva na Reserva do Luando (que é realizada de forma quase industrial e se destina, sobretudo, a alimentar os mercados de carne seca), e o reforço da capacidade de gestão na Reserva do Luando e no Parque da Cangandala, com melhoria das condições de trabalho dos fiscais. Paralelamente, é necessário implementar medidas para a protecção da integridade física de ambas as áreas protegidas e preparar, aprovar e implementar respectivos planos de gestão.
Há algum projecto sobre a preservação?
O Governo, através do Ministério do Ambiente, lidera o programa de preservação da palanca em colaboração com o Governo Provincial de Malanje. A Fundação Kissama intervém em questões específicas, implementando algumas acções concretas no âmbito dum Projecto de Conservação da Palanca, e sempre numa perspectiva de colaboração e apoio à iniciativa do Governo. É neste contexto que se realiza a campanha de contagem de palancas este ano, assim como as acções de monitorização regulares das palancas. Há mais projectos de preservação de outras espécies? Bem, o projecto de conservação da palanca, como o nome indica, é especificamente dirigido à nossa palanca, muito embora, logicamente, as medidas que são tomadas para a defesa da palanca tenham reflexos positivos na conservação da biodiversidade em geral. Outros projectos dirigidos à conservação de tartarugas-marinhas, por exemplo, ou para a protecção de parques ou ecossistemas em Angola são desenvolvidos noutros locais e noutras modalidades e com outros parceiros.
Como é feita a contagem?
As contagens são feitas por via aérea. É utilizado um pequeno helicóptero bastante manobrável, com o qual são sobrevoadas as regiões onde sabemos subsistirem as últimas manadas de palancas. São feitos sobrevoos dirigidos aos locais exactos onde temos manadas identificadas e sobrevoos por faixas paralelas, buscando exemplares solitários ou dispersantes, ou eventuais manadas desconhecidas. Todos os animais localizados são fotografados, sendo, posteriormente, estimada a sua idade, determinado o sexo, condição física e identificação individual quando possível. Alguns animais serão ainda manuseados, medidos e marcados. Todo este exercício conta com o apoio permanente no terreno das Forças Armadas Angolanas, força aérea e exército, sem o qual não seria possível concretizar as acções.
Teve um prémio de reconhecimento, em 2013 em Portugal, a propósito do estudo sobre a redescoberta de novas palancas. Sente-se reconhecido?
Os prémios individuais são prestigiantes e podem ter alguns reflexos positivos no sentido de divulgar o trabalho internacionalmente e angariar mais apoios. Contudo, trata-se de um reflexo puramente secundário. Nada na nossa acção visa a obtenção de prémios e temos ainda muito trabalho pela frente se quisermos salvar a palanca da extinção e essa é, e tem de continuar a ser, a nossa motivação.
PERFIL
Pedro Vaz Pinto Nascido em 1967, em Luanda, é formado em Engenharia Florestal, com especialização em Gestão dos Recursos Naturais, pelo Instituto Superior de Agronomia (Universidade Técnica de Lisboa).
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