Escassez de fertilizantes afunda produção agrícola
AGRICULTURA. Para adquirir fertilizantes alguns proprietários de fazendas fazem-no por via de ‘esquemas’ e em quantidades ínfimas para não parar a produção e manter o negócio.
Jorge Simões, proprietário da fazenda JRS-Caro Jamba, no Namibe, descreve o actual cenário na agricultura como “assustador” e “complicado” para os objectivos nacionais de redução das importações de bens alimentares.
Desde que os preços começaram a disparar, em meados do ano passado, o empresário reduziu a compra de insumos em 90%, saindo dos 100 para apenas 10 sacos de fertilizantes por trimestre. “Ainda assim, faço esquemas para conseguir e isto quando alguém arranja”, explica o empresário que antecipa “despedimentos, redução de capital e diminuição da qualidade de vida dos funcionários”.
Os fertilizantes compostos para uso de irrigação (ou seja, os que se aplicam directamente nas folhas das plantas) custavam entre quatro a sete mil kwanzas por saco de 25 quilos até à primeira metade de 2015. Hoje estão a ser comercializados a 20 mil kwanzas e há vendedores que chegam a fazê-lo a 30 mil. “Quem precisa tem de pagar. Estou habituado a ter produções permanentes e agora são temporárias e algumas vezes sem qualidade. Não temos pesticidas, nem inseticidas, nem fungicidas. Não temos adubos e isso encarece a produção”, lamenta o empresário.
Proprietário de duas fazendas, uma em Benguela e outra no Namibe, Inácio Canganji confirma que, ultimamente, só consegue encontrar os fertilizantes, “a preços exorbitantes”, no mercado informal. “O adubo subiu de cinco mil para 20 mil kwanzas e o amónio também”, nota o empresário que gostaria de ter um lugar no mercado formal para vender os produtos que, às vezes, acabam por se deteriorar por falta de escoamento.
Para o director-geral da Acção para o Desenvolvimento Rural (ADRA), Belarmino Jelembi, a situação dos fertilizantes é “muito difícil”, já que o país depende de importações para obter o produto e há “limites sérios” no acesso às divisas. Aquele dirigente não tem dúvidas de que a situação pode prejudicar as próximas produções, principalmente das culturas viradas para o mercado como as hortícolas e algumas leguminosas. Uma fonte da Confederação das Associações dos Camponeses de Angola (UNACA), no Namibe, afirmou, no entanto, que, apesar da crise, a província sempre teve uma procura elevada de fertilizantes, por causa da dependência em relação a Huíla e Benguela.
GOVERNO CRIA TRÊS PROCJETOS
Angola importava, até 2014, cerca de 58 mil toneladas de fertilizantes por ano, 6% das necessidades do país, estimadas em 900 mil toneladas por ano, segundo dados do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural.
Para suprir essa necessidade, em 2015, foram aprovados três projectos para a produção de fertilizantes em duas províncias: os Projectos Integrados de Exploração de Fosfatos, nas regiões de Cacata e Lucunga (no Zaire) e uma central de produção de fertilizantes de amoníaco e ureia em Cabinda.
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