Existe escola de pensamento económico no Governo de JLo?
No artigo anterior, disse e demonstrei, através de dados, que a economia angolana padecia de desaceleração do seu crescimento provocada pela insuficiência de gastos ano após ano, tendo como base a contracção registada ao nível das quatro variáveis fundamentais que denominei de ‘os quatro motores da economia angolana’: (baixo) consumo privado, (baixo) investimento privado, (baixo) investimento público e (baixas) exportações.
Uma economia que não cresce está associada a um maior nível de desemprego . Se ao problema de desemprego associarmos um outro grande problema macroeconómico que é a inflação, diremos que Angola enfrenta uma estagflação (desemprego elevado e inflação elevada). A inflação e o desemprego são das enfermidades mais destrutivas conhecidas pela sociedade moderna, nada destruirá mais cabal e plenamente uma sociedade que deixar que a inflação e o desemprego prevaleçam. A gravidade é maior quando as duas doenças aparecem em simultâneo (estagflação).
Quando o economista mais proeminente do século XX, John Maynard Keynes, surge com o seu Modelo IS-LM na altura da grande depressão, foram obtidas respostas claras que permitiam enfrentar os dois problemas principais de uma determinada economia: inflação e desemprego. Keynes afirma que, no longo prazo, estamos todos mortos e por isso apresenta um modelo de curto prazo, isto é, baseado na procura agregada da economia.
Para Keynes, se o problema de uma dada economia for níveis elevados de inflação, então existe um excesso de procura agregada e o Estado deve intervir no sentido de reduzi-la. Como? Desincentivando o consumo privado através do aumento dos impostos, desincentivando o investimento privado através do aumento das taxas de juro, fazendo corte nos gastos públicos e reduzindo a procura externa através da manipulação cambial (valorização da moeda). Se, ao invés de inflação, o problema da economia for desemprego elevado, existe baixa procura agregada e, por isso, o Estado deve intervir, fazendo o oposto do que faria em contexto de problema inflacionário: estimulando o consumo privado através da redução de impostos, estimulando o investimento privado através da diminuição das taxas de juro, aumentando os gastos públicos e estimulando a procura externa através de uma moeda mais desvalorizada.
Keynes morre como economista na década de 1970 por causa de uma grande insuficiência não prevista no seu modelo: existência de inflação e desemprego em simultâneo (estagflação). O modelo entra em contradição porque, para o problema da inflação, recomenda baixar a procura agregada e para o problema do desemprego propõe aumentar a procura agregada. Desde a altura em que o modelo foi apresentado nos anos 19330 e até ao fim da década de 1960, o modelo funcionou perfeitamente, tudo porque tanto os EUA como a Europa, após o fim da segunda guerra mundial, não experimentaram os dois problemas de forma simultânea, era um outro. No início da década de 1970 ocorreu o grande choque petrolífero que fez com que o preço do petróleo aumentasse em 267% de um ano para o outro (1973 a 1974). Com praticamente o triplicar do custo dessa matéria prima fundamental (petróleo), as economias passaram a ter problemas de inflação resultantes do aumento do custo de produção, e não de excessiva procura agregada, conforme dizia Keynes. Nessa altura, as economias enfrentavam problema de desemprego e, a este, associou-se o problema da inflação por via dos custos. O termo estagflação surge exactamente nessa época e dita a morte de Keynes. A morte de Keynes dá lugar ao surgimento do grande economista Milton Friedman. Para Friedman, a economia deve atingir o equilíbrio sem uma intervenção beligerante do Estado, desde o ponto de vista da política orçamental (fiscal), monetária e cambial. O Estado deve sempre manter os pressupostos da economia equilibrados, os gastos públicos devem ser moderados e devem limitar-se ao essencial. A política económica tem que ver mais com aspectos microeconómicos da economia (economia industrial; investimento privado) do que propriamente macroeconómicos. Competitividade das empresas é a chave.
Friedman começa a dominar a economia em 1973 e entra em descrédito em 2008, altura da crise económica financeira provocada pelas ideias neoliberais da desregulação completa dos mercados. O então recém-eleito presidente Barack Obama decidiu criar um pacote de estímulos para recuperar a economia (combater o desemprego). Ocorre assim a ressurreição de Keynes.
À luz de tudo isso, pergunto: como resolver o caso angolano? Qual deve ser a saída para a estagflação que aniquila a sociedade? Será parte da solução os economistas terem necessariamente uma escola de pensamento económico? Existe alguma escola de pensamento económico no Governo de João Lourenço? Estas e outras questões são a base do meu próximo artigo de opinião dentro de 15 dias neste mesmo espaço. Economista e investigador do CEIC
JLo do lado errado da história