Explicando um negócio rentável
EXPLICAÇÕES. Com esperança de evoluir para colégios ou escolas comparticipadas, há espaços de explicações de Luanda a somar sucessos. Da mangueira e de salas de chapa, há quem tenha evoluído ao ponto de ‘facturar’ 300 mil kwanzas num mês. Não faltam também os que optaram por ‘zungar’ conhecimento porta a porta.
Nsalambi Samuel parece ter interiorizado a velha frase atribuída ao americano Dale Carnegie: “Se a vida te der nem que for um limão, aproveite e faça uma limonada”. Aos 30 anos, o jovem, que começou com apenas uma dúzia de meninos, possui hoje uma explicação com mais de 300 alunos, da iniciação à 6.ª classe – ‘facturando’ todos os meses quase 200 mil kwanzas com as propinas. Deste valor, 56 mil kwanzas servem para o pagamento dos cinco professores e o restante para os materiais usados na escola. O dinheiro também serve para Nslambi Samuel pagar a propina (15 mil kwanzas) no ISCED de Luanda, onde frequenta o 3.º ano de Sociologia.
Tudo começou em 2010, quando Nsalambi Samuel, ao terminar o ensino médio, decidiu abandonar o colégio em que leccionava devido aos “sucessivos atrasos de salário”. Com a ajuda de um amigo, recolheu chapas no lixo e construiu, no quintal onde mora, em Camama, Luanda, uma sala (de três metros quadrados) a qual escreveu os dizeres “Explicação Waku Samuel”. Em 2011, arrancou com as aulas no ensino primário, cobrando 300 kwanzas mensalmente. No ano a seguir, acrescentou mais uma sala. Em 2014, às duas salas de chapa, juntou mais duas de bloco, o que lhe permitiu elevar para mais de 100 o número de alunos. Foi também nesse período que se sentiu obrigado a contratar três professores e a subir a propina: 500 kwanzas, da iniciação à 4.ª classe, e 800 kwanzas para os alunos da 5.ª e 6.ª classes.
Nem mesmo os bancos de madeira sem encosto impediram o projecto de somar sucesso. Actualmente, com seis professores, a explicação de Nsalambi Samuel possui mais de 300 alunos. E as propinas também são outras: a iniciação paga 700 kwanzas; os alunos da 1.ª, 2.ª e 3.ª classes pagam 800 kwanzas, enquanto os que frequentam a 4.ª classe pagam mil kwanza e os da 5.ª e 6.ª classes 1500.
O “grande objectivo” de Nsalambi Samuel é “alargar o projecto”, embora não esteja “ainda muito confiante”. “O plano é mesmo evoluir para a classe formal, mas isso só vai acontecer se os bancos deixarem de exigir cunhas na obtenção de créditos”, explica.
AULAS NA MANGUEIRA
A história de Nsalambi Samuel assemelha-se com a de António Silva, que começou a dar explicações em 1994. Na altura, com apenas 20 anos, António Silva não podia imaginar que, 22 anos depois, a sala de explicações improvisada debaixo da mangueira pudesse dar lugar à actual escola comparticipada ‘Valor do Saber’.
Se, na década de 1900, trabalhava apenas com o irmão mais novo, tendo apenas dez alunos, a escola de António Silva tem hoje quatro salas e possui mais de 300 alunos divididos em dois turnos. O salário dos 11 professores varia entre os 10 e 15 mil kwanzas e as propinas entre os mil e 1500 kwanzas. Num mês, porque nem todos os alunos pagam com regularidade, ‘Man Tony’, como também é conhecido no Sambizanga, em Luanda, arrecada, em média, 300 mil kwanzas.
A ‘ZUNGAR’ CONHECIMENTO
Enquanto a maior dos explicadores aguarda pelos alunos na escola, Edson Pedro apostou num método de explicações ao domicílio, que consiste em percorrer as casas dos alunos, sendo o horário das aulas definido em função da disponibilidade, não apenas dos aprendizes, como também dos encarregados de educação.
Residente no São Paulo, em Luanda, Edson Pedro, de 35 anos, começou como quase todos os explicadores. Uma aulita aos sobrinhos de casa, outra aulita aos vizinhos, e lá surgiu a necessidade de arranjar um espaço e um nome para a instituição: ‘EP – Explicação’, começando assim uma história de empreendedorismo que já leva quase seis anos.
Da iniciação à 4.ª classe, para os alunos residentes no centro da cidade, cobra 15 mil kwanzas por mês. As aulas, que duram uma hora e meia, decorrem três vezes por semana. Aos alunos da 5.ª e 6.ª classes, que também residam na zona urbana de Luanda, cobra 20 mil kwanzas.
Para os alunos residentes em zonas distantes do centro da cidade, como por exemplo em Viana, Belas ou Icolo e Bengo, Edson Pedro pratica os mesmos preços, mas acrescenta uma taxa de três mil kwanzas referente ao transporte, valor pago semanalmente.
Edson Pedro, como director da ‘EP – Explicação’, emprega cinco jovens professores, remunerados em função da regularidade com que leccionam. Por exemplo, um professor que não falte um único dia recebe, como salário, 80 por cento do valor da propina do aluno, ficando a ‘EP – Explicação’ com os restantes 20 por cento. Por conseguinte, um explicador regular ganha, por cada aluno, entre 12 e 16 mil kwanzas, um salário mensal que oscila entre os 36 e os 48 mil kwanzas, visto que, em média, cada professor tem três alunos em regime de “aulas domiciliares”.
Ao contrário dos donos de outras explicações, Edson Pedro não planeia ‘evoluir’ para colégio ou escola comparticipada. Queixa-se apenas de estar num espaço “que não é muito apropriado” e garante que não sente a pressão de aumentar os lucros, pois, há quatro anos, foi admitido como professor no Ministério da Educação. Sobre as receitas mensais, tem dificuldade de avançar números. “É muito complicado. Os encarregados nem sempre pagam a tempo. Alguns, basta perceberem que o filho já superou a dificuldade que apresentava, cortam logo a propina.”
A ‘EP – Explicação’ possui actualmente sete estudantes sobre o regime de “aulas domiciliares” e quase 30 em regime normal. E são estes últimos alunos que pagam entre três a quatro mil kwanzas de propinas.
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