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Informação – quanto custa?

29 Mar. 2023 Opinião
Informação – quanto custa?

 Com o advento da transformação digital, a informação passou a estar tão presente nas sociedades modernas “quase” como o ar que se respira. Qualquer que seja a nossa ocupação profissional ou social, independentemente da sua fonte e qualidade, a informação é um recurso cuja abundância não lhe retira preciosidade. O acesso à informação credível e tempestiva, capaz de ser usada para diferentes finalidades de acordo com as necessidades de cada um, sempre foi e continua a ser dos maiores desafios que caracterizam esse importante recurso. O que se pode ganhar ou perder com o acesso ou a falta dela é, algumas vezes, a priori, imensurável.

Na fase em que o país se encontra, com os esforços empreendidos para a tão almejada prosperidade económica, a informação joga um papel incontornável para qualquer agente deste processo, quer se trate de estudantes, de profissionais quer de organizações dos mais variados ramos e sectores de actividade.

Como sabemos, a informação é recolhida, tratada e divulgada por diferentes entidades, tais como os departamentos ministeriais, o Banco Central, o INE-Instituto Nacional de Estatística, os órgãos de comunicação social e não só, sendo que, deste conjunto, alguns têm a tarefa e a responsabilidade de produção de informação prospectiva cujo objectivo é proporcionar uma antevisão da evolução de uma determinada variável ou de um conjunto delas. Às citadas entidades podem juntar-se outras cujo papel no processo de produção de informação não deveria ser subestimado, como é o caso dos sindicatos, das ordens e associações profissionais, das associações empresariais, das cooperativas, dos centros de estudo e investigação científica, entre outras.

Consumimos informações de fontes oficiais, como é o caso do INE, procedemos à sua análise crítica com vista a refutar ou, nalguns casos, a confirmar as nossas teses, sendo que, não raras vezes, recorremos a fontes internacionais (FMI, Banco Mundial, agências de rating, Bloomberg, sítios das UN, etc.) para confrontar informações internas, o que é um bom exercício, mas esse cruzamento de informações seria tanto mais rico quanto mais fontes internas independentes contribuíssem para esse desiderato. A título de exemplo, a inflação esperada, por ser uma variável directamente relacionada com o poder de compra, obviamente, excluindo outras para efeitos de simplificação de análise, seria expectável que os sindicatos se pronunciassem no sentido de apresentarem, também, as suas estimativas para a referida variável num determinado momento, de acordo com o seu entendimento; esse estudo muni-los-ia provavelmente de melhores argumentos na mesa de negociações.

Outrossim, as ordens profissionais especializadas existentes no país (saúde, justiça, economia, contabilidade, psicologia, engenharia e outras) e até as universidades também poderiam agraciar com informação estatística valiosa os seus utentes – que não são poucos – principalmente a classe estudantil, que se tem deparado com enormes dificuldades nas pesquisas para os seus trabalhos de fim de curso, quer por falta de dados, quer pela fiabilidade do que se encontra – tratando-se de fontes secundárias – quer pelo preconceito muitas vezes enraizado, por parte de quem a poderia disponibilizar, de encarar informação pública como se de informação confidencial se tratasse. No entanto, é preciso termos presente que o sucesso na utilização da informação depende, em grande escala, do modo como esta é apresentada e pode ser consumida.

Grande parte das vezes, a informação é usada para benefício e vantagem de quem a detém. Com o desenvolvimento dos mercados, como o financeiro e o de capitais, que se verifica em Angola, as empresas e famílias, principalmente nas vestes de investidores, terão, nos próximos tempos, melhor percepção disso e, forçosamente, necessidade de aumentar os seus níveis de literacia, sob pena de a forte assimetria que hoje se verifica nos mercados, mas que parece imperceptível, conduzir sempre a relações comerciais menos equilibradas entre os agentes económicos, como é o caso dos bancos e das seguradoras com os seus clientes.

A título de exemplo, um cidadão que pague o seguro automóvel de responsabilidade civil de Janeiro a Março de um determinado ano, normalmente entende que, depois deste prazo, se não voltar a pagar o seguro e provocar algum acidente, não pode solicitar à seguradora que seja ressarcido; mas é claro que pode e deve, porque apesar do pagamento ter sido trimestral, qualquer contrato de seguro é sempre anual, ou seja, à luz do contrato, o meio está coberto; evidentemente, terá que regularizar o período em falta, mas o valor do dano que causou pode ser bem maior. Este direito verifica-se mesmo que esteja a faltar um mês para completar um ano a contar da data em que contratualizou o seguro.

No reverso da medalha, as instituições que canalizam fundos para o mercado, algumas vezes também aparentam padecer de problemas de informação, pois não são raros os casos em que bancos da nossa praça com alguma tradição financiam projectos implantados em zonas cujas condições objectivas não justificam a existência daquelas unidades e, como resultado, os mutuários encontram dificuldades em cumprir com os termos dos contratos de financiamento, o que também contribui para o aumento dos níveis do crédito malparado.

As instituições financeiras e os mercados, para além de canalizarem fundos dos agentes com capacidade de financiamento para os agentes com necessidade de financiamento e ajudarem a partilhar o risco, devem recolher, tratar, sistematizar e disponibilizar informação, de forma eficiente e a baixo custo, sobre a qualidade dos instrumentos e dos diversos agentes económicos - esta é, indiscutivelmente, uma das suas principais actividades e papéis a desempenhar. Certamente, estamos todos lembrados dos termos e condições gerais descritos em letras “microscópicas” no verso dos contratos, que dificilmente os lemos na íntegra. 

As instituições financeiras monetárias, enquanto intermediários financeiros que conciliam vontades, acabam (por razões óbvias) por dispor de informação privilegiada sobre os demais players, e com os desafios que Angola enfrenta para o fomento do empresariado e da produção nacional, estas instituições constituem a engrenagem necessária para o efectivo arranque e o normal funcionamento de todo um sistema.

Estaríamos a ser meramente teóricos admitirmos que o mercado chegaria a um momento em que a informação se distribuirá uniformemente pelos agentes económicos. Não! Este é um cenário cuja probabilidade de ocorrência é (praticamente) nula. No entanto, como postulam os modelos de concorrência perfeita nos manuais de economia, ela deve existir e a nossa discussão, aqui, prende-se com a sua acessibilidade. No mundo actual enfrentamos desafios que requerem competências com as quais a academia não nos prepara.

Portanto, apesar de não se trazer muito este tema a discussão nos inúmeros fóruns sobre economia que aqui e acolá vão acontecendo, sem descurar as iniciativas de educação financeira por parte de algumas entidades do mercado financeiro, com realce para o Banco Central, possivelmente, em função do estágio de maturidade do referido mercado, a informação assimétrica é uma falha de mercado que normalmente tem maior incidência do lado de quem busca por serviços ou produtos financeiros, contrariamente à selecção adversa e ao risco moral que quando não mitigados afectam as instituições que cedem fundos. Ela deve ser combatida tal como abordamos outros males que criam distorções à economia, pois este está na génese de muitos outros com maior visibilidade, como é o caso da formação dos monopólios. Numa economia que se quer de mercado, problemas de informação assimétrica devem constituir uma preocupação central, sob pena de se verem goradas as expectativas relativas aos resultados das políticas económicas ancoradas no bem-estar social.

Ruben Ndombasi

Ruben Ndombasi

Economista e docente.