Intercontinental promete 13 vezes mais empregos do que a média mundial
HOTELARIA. Número de trabalhadores do Intercontinental é muito inferior ao previsto para o hotel de Luanda. Hoteleiros entendem ser uma promessa “exagerada”. Em média, cada hotel do grupo emprega 67 pessoas. Site do grupo ignora João Lourenço e a inauguração da unidade em Angola.
Os 900 postos de trabalhos estimados para o Hotel Intercontinental, inaugurado recentemente pelo Presidente da República, representam 13 vezes mais funcionários do que a média dos hotéis do grupo Intercontinental em todo o mundo.
O Intercontinental Luanda Miramar é gerido pela cadeia hoteleira mundial Grupo Intercontinental (IHG), uma multinacional britânica com sede em Denham, Buckinghamshire. Tem 5.977 hotéis em quase 100 países e, até ao ano passado, tinha 400 mil funcionários, de acordo com dados consultados pelo VALOR no site oficial e no relatório e contas referente a 2019 do grupo.
É através destes dados que se percebe que a média é de 67 funcionários por cada hotel do grupo que inclui, entre outros, os hotéis Crowne Plaza, Indigo, Intercontinental e Regent.
O número não difere muito do próprio Intercontinental. Em todo o mundo, há 210 hotéis e resorts com marca Intercontinental, com mais de 71 mil quartos. Estes hotéis empregam 36.343 funcionários, o que dá uma média mundial de 174 trabalhadores por cada unidade hoteleira.
NÚMEROS EM DÚVIDA
De acordo com o que foi anunciado por João Lourenço, a 11 de Novembro, o hotel em Angola que o IHG gere pretende empregar de forma directa 900 funcionários. A unidade tem 24 andares e 377 quartos. O hotel é composto por uma recepção, três espaços comerciais, seis cozinhas, restaurantes, cinco salas de reuniões, 11 elevadores, duas escadas rolantes, um salão de eventos com capacidade para 630 pessoas, piscinas, spa, um heliporto, parque temático e um casino.
O número de funcionários em Angola tem despertado a atenção de quem também opera ou está ligado ao sector hoteleiro, reforçado por ser o segundo hotel 'cinco estrelas' em Angola. Até agora, apenas o Epic Sana exibia essa categoria.
Uma fonte da Associação dos Hotéis e Resorts de Angola (AHRA) explicou, ao VALOR, que o número de funcionários de uma unidade 'cinco estrelas', como o Intercontinental Luanda Miramar, varia de acordo com os serviços prestados. E adianta que, mesmo o empreendimento não sendo “de brincadeira”, a verdade é que o número estimado “é um exagero”.
“No contexto de Angola, com absentismo, falta, pessoas doentes… talvez com 300 ou 400 trabalhadores era o ideal. 900 é muito trabalhador. Muitos (hotéis) até nem empregados de limpeza têm. Contratam empresas prestadoras de serviço.”
O membro da direcção da AHRA lembra que, em Angola, não existe nenhum hotel que emprega o número de funcionários que o Intercontinental Luanda Miramar afirma pretender contratar. "A média no país é normalmente de 200 e 300 funcionários. Mas isso naqueles que oferecem muitos serviços", justifica.
O VALOR sabe que a AHRA não foi convidada para estar presente na inauguração do Intercontinental, que contou com a presença do Presidente da República, que aproveitou para assinalar os 45 anos da Independência nacional.
EPIC SANA PROMETEU 500
Em Angola, actualmente, existem dois hotéis com categoria 'cinco estrelas'. O Intercontinental Luanda Miramar e o do Grupo Sana, o Epic Sana, localizado na baixa de Luanda e inaugurado em 2012.
O Epic Sana, com 238 quartos, 131 standard double, 88 standard twin e três suites presidenciais, tem ainda 50 apartamentos. O hotel dispõe ainda de salas de reuniões e de banquetes com capacidade para 700 pessoas, cinco restaurantes, discoteca, piscinas, spa, ginásio e parque de estacionamento com 177 lugares. De acordo com o site oficial do grupo, emprega, em todo o mundo, em 18 unidades, 1.750 pessoas. Uma média de 97 trabalhadores por cada hotel.
No entanto, na inauguração da unidade de Luanda, em 2012, houve a promessa de contratar 500 trabalhadores. Um ano depois, mais de 300 promoveram uma manifestação em protesto pelos baixos salários. As notícias da altura davam conta de um salário-base de 12 mil kwanzas.
JOVENS FORAM COBRAR EMPREGOS
Um dia após a inauguração do Intercontinental, centenas de jovens decidiram, de “livre e espontânea vontade” e convencidos pelo discurso de João Lourenço, deslocar-se, logo nas primeiras horas da manhã, às instalações do hotel, à procura de emprego.
Com currículos nas mãos e outros documentos de habilitações e sem que vissem qualquer anúncio por parte da cadeia hoteleira mundial do IHG, os jovens decidiram “fiscalizar o processo de contratação e assim fazer parte dos quadros do hotel”, exibindo cartazes com escritos: “Estamos aqui porque o senhor Presidente garantiu emprego” e ainda “Só queremos os 900 empregos, senhor Presidente”. Os jovens ficaram várias horas à espera que alguém recebesse os documentos no hotel. As tentativas foram, no entanto, frustradas.
IHG POR DENTRO
A multinacional IHG tem como CEO o norte-americano Keith Barr. O site oficial dá conta que, no total, a cadeia internacional é responsável por 16 marcas: Intercontinental, Regent, Kimpton, Candlewood Suites, Crowne Plaza,Even Hotels, Holiday Inn, Hollyday Inn Express, Hollyday Inn Club Vacation, Six Senses, Hotel Indigo, Staybridge Suites, Avid, Voco e Hualuxe,
IHG IGNORA EVENTO EM ANGOLA
O IHG tem um site onde publica regularmente os eventos e as notícias do grupo. Nesta página, e de forma cronológica, o grupo vai anunciando inaugurações e até o número de vendas. No dia 11, data da inauguração do hotel em Luanda, não há qualquer referência ao acontecimento em Angola. A notícia desse dia é de que o grupo assinou um acordo para abrir um hotel no Qatar. Nos dias seguintes, segue-se uma série de notícias a propósito de inaugurações de unidades nos EUA, Austrália ou na Hungria.
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