João Lourenço em contagem decrescente (I)

12 Mar. 2025 Opinião

Quando esta edição do Valor Económico estiver acessível aos assinantes e outros leitores, ao Presidente João Lourenço faltarão 933 dias para o final do seu mandato. E mesmo que a Constituição da República de Angola lhe permitisse disputar, em 2027, um terceiro mandato presencial, o que, felizmente, não é o caso, João Lourenço cortará a meta amputado de alguns dos seus principais “ajudantes de campo”.

João Lourenço em contagem decrescente (I)

Alguns serão expelidos pelo tempo e outros saltarão do barco por iniciativa própria. Estão nessa categoria os muito protegidos ministros dos Transportes, da Energia e Águas e da Saúde. Ao trio são atribuídos, já faz tempo, propósitos de saltar do barco antes dessa se espatifar completamente.
Por caducidade de mandatos, Joel Leonardo, presidente do Tribunal Supremo, e Hélder Fernando Pitta Gróz, procurador-geral da República, despedir-se-ão do chefe de ambos em 2026.

Em Março de 2026, o actual procurador-geral da República completará 70 anos de vida, idade limite para o exercício da função.
“Oficial às ordens” de João Lourenço na dita cruzada contra a corrupção, a jubilação do actual PGR deixará o timoneiro sem um bom “cabo de guerra”, embora se reconheça em Pitta Gróz alguma independência de espírito e uma encapotada resistência passiva a determinados desígnios e caprichos do Presidente da República.
Tendo até agora gasto vários milhões de dólares com idas e vindas ao Dubai e a outros destinos onde a primogénita de José Eduardo dos Santos poderia ser localizada, é público e notório que nunca sobrou a Pitta Gróz vontade de oferecer ao Presidente João Lourenço a mais desejada das suas prendas: Isabel dos Santos.
A caça à Isabel dos Santos começou Janeiro de 2020, depois que o Consórcio Internacional de Jornalistas publicou uma investigação, a que deu o nome de Luanda Leaks, em que expôs duas décadas de saque, roubo e favorecimento que alegadamente tornaram a primogénita de José Eduardo dos Santos a mulher mais rica da África.

A mando de João Lourenço, a PGR iniciou, desde então, uma volta ao mundo e arredores identificando e catalogando empresas e interesses ligados à antiga “Princesa”. 
A pedido das autoridades angolanas, o Estado português chamou para a sua tutela os principais activos que Isabel dos Santos tinha neste país, nomeadamente a EFACEC e o Banco BIC e viu congeladas todas as contas bancárias. A perseguição a Isabel estendeu-se a todos os países onde possuiria ou era suposto possuir qualquer interesse. Em Londres e em Haia, perdeu duas milionárias acções judiciais intentadas por Angola.

Mas, apesar de todo o empenho e dinheiro disponível, a Procuradoria-Geral da República não conseguiu, até hoje, colocar as mãos no mais desejado troféu de João Lourenço. 
Fernando Pitta Gróz vai ao Dubai a uma frequência quase mensal com o pretenso propósito de fechar as “rotas de fuga” a que Isabel dos Santos poderia recorrer. E, até, possível que se cruzem em cafés e restaurantes.

No entanto, os vídeos e as fotografias que a antiga Princesa posta quase diariamente nas redes sociais sugerem que ela não tem planos de deixar, de imediato, o Dubai, hoje por hoje feita na capital mundial do jet set.

Hélder Pitta Gróz está a um ano da sua jubilação. João Lourenço tem ainda pela frente pouco mais de dois anos. É cada vez mais improvável que algum dia ambos venham a brindar à detenção de Isabel dos Santos.

Inocência Maria Gonçalo Pinto, vice-procuradora-geral da República e a mais provável sucessora de Pitta Gróz, será capaz de fazer, em apenas dois anos, o que o actual PGR não fez em oito?Não se sabe. O que se sabe, apenas, é que, quando tomar posse, se isso vier a acontecer, Inocência Pinto terá um Presidente da República a prazo.