ANGOLA GROWING
EMPRESAS ANGOLANAS LIGADAS AO AMBIENTE

Muita matéria para pouco hábito

ECOLOGIA. Apesar de lamentarem as dificuldades impostas pela falta de educação ambiental, já há angolanos a criarem empresas ligadas às tecnologias limpas. Entre reciclagens e reaproveitamentos, há quem, inclusive, auxilie o Estado, enquanto outros se focam na família.

Há cada vez mais empresas angolanas a apostarem nas tecnologias limpas e na reciclagem, bem como na produção de materiais com baixo teor de poluição e até no ecoturismo. Foi por isso, aliás, que a exposição do 1.º Salão Internacional da Biodiversidade e Ecoturismo – ECOANGOLA 2016 – decorrida a semana passada, acolheu cerca de 30 empresas ligadas a estes sectores. Uma delas foi a Resurb, empresa angolana criada no Huambo em 2007, numa altura em que se pretendia transformar aquela província na “capital ecológica de Angola”. Empresa especializada em gestão de resíduos, a Resurb elaborou o plano de acção provincial de gestão de resíduos do Huambo, estando actualmente a elaborar o de Benguela.

Preocupada com as “fortes ameaças” que sofre a biodiversidade (variação entre os seres vivos de todas as origens), a administradora da Resurb, Patrícia Gonçalves, alerta que, no país, há uma “produção alarmante” de resíduos. Dados recentes do Plano Estratégico para a Gestão de Resíduos Urbanos em Angola (PESGRU) indicam que, só em Luanda, uma pessoa produz, em média, 600 gramas de resíduos por dia. Para Patrícia Gonçalves, estes dados demonstram que “temos de fazer alguma coisa”, aproveitando o lixo através da reciclagem. E para reciclar, refere a ambientalista, é necessário que se tenha o hábito de “separar lixo”, tarefa que considera ser de “cada um de nós”.

Além da gestão de resíduos, a empresa pretende apostar na reciclagem, tendo criado já, no Huambo, uma fábrica de recauchutagem e reciclagem de pneus, o que permite a produção de placas para parques infantis. Embora admita não haver muitas empresas ligadas a este sector, Patrícia Gonçalves considera “fiável” abrir empresas de reciclagem em Angola “porque o país tem resíduos”, apesar das “dificuldades” impostas pela falta do hábito de se separar o lixo. “E este não é um trabalho apenas do Governo. É importante que o cidadão ganhe a prática de separar o lixo”, recomenda, sem deixar de apelar para a criação, por parte do Estado, de espaços que acumulem os resíduos para “dinamizar a indústria recicladora”. Entre os materiais da Resurb levados à exposição no ECOANGOLA, constavam pára-choques de plásticos moídos que, posteriormente, podem servir de matéria-prima para a produção de caixas plásticas usadas na agricultura. A empresa expôs, igualmente, as técnicas usadas na moagem de grades de bebidas cujo plástico pode ser reutilizado no fabrico de contentores de lixo. Além dos resíduos inorgânicos, a firma aproveita os restos de comida para fazer compostagens usadas na agricultura, por via da fertilização de solos.

 

ASSOCIAÇÃO QUE EDUCA

Fundada em Maio de 2013, a Associação dos Ecologista e Ambientalistas de Angola (AEAA) criou, há dois anos, o projecto ‘Angola Contente”, com o objectivo de “sensibilizar as famílias para o reaproveitamento de materiais inorgânicos e orgânicos desperdiçados”. Materiais como o alumínio, borracha e plásticos, por exemplos, são recolhidos pela AEAA, a partir das famílias, reciclados e entregues às indústrias. Presente em dez províncias, a associação tem um programa de educação ambiental que consiste na distribuição de folhetos e manuais com recomendações sobre como se preserva a biodiversidade. A AEAA possui igualmente parcerias com escolas do primeiro ciclo onde, periodicamente, realiza palestras com temas ligados à matança de animais, ao derrube massivo das árvores, à preservação da fauna e da flora.

França Bango, membro da AEAA, entende que, nas províncias dos Sul, há “índices positivos” sobre os cuidados com o ambiente, a julgar pela experiência vivida através do ‘Angola Contente”. “Entre as populações que se dedicam ao cultivo, há quem já tenha percebido a importância de se evitar as queimadas porque estas poluem o ambiente e, poluindo o ambiente, está-se a criar problemas de saúde para a própria família”.