Novo paradigma nos financiamentos
As opiniões dos bancários, investidores e promotores do imobiliário convergem sobre o impacto da crise no sector e a redução da disponibilidade financeira por parte da banca para o desenvolvimento de novos projectos.
Os investidores queixam-se das políticas administrativas aplicadas pela banca na obtenção do crédito habitacional e questionam o aumento das taxas de juro. Um ambiente, segundo o consulto financeiro Carlos Baptista, que “desencoraja o desenvolvimento de novos projectos imobiliários”.
A morosidade nos processos e o custo elevado dos imóveis, devido à indexação dos preços ao dólar, segundo analisa, têm contribuído para a retracção do sector que, entretanto, vai resistindo à crise, “graças ao financiamento chinês”.
Para Cleber Corrêa, da Proimóveis, houve “uma retracção e mudança no paradigma do mercado imobiliário”. Mas pensa que a fixação dos preços em kwanzas facilitou o acesso ao imóvel por uma pequena parte da população que possuía poupanças.
Quanto ao papel da banca, Cleber Corrêa diz que se tem assistido a uma redução do crédito e do financiamento. “A maior parte dos bancos reduziu o crédito habitacional e as exigências impostas são maiores, o que inibe os vários clientes (investidores)”, analisa, lembrando que o país “continuará a ser um bom destino de investimento, mas sob pressupostos bem diferentes”, se comparados “aos últimos cinco anos quando o mercado registou o ‘boom’ no sector imobiliário, com destaque para o segmento habitação e escritório”.
O presidente do conselho de administração (PCA) do Banco BIC, em declarações ao VE, caracteriza o mercado imobiliário como “um sector importante por criar empregos e por permitir o acesso da população a habitações com dignidade”. Segundo Fernando Teles, o Banco BIC foi dos primeiros a financiar o imobiliário, sendo também pioneiro no crédito à habitação. “Mas, ao mesmo tempo, somos os primeiros a restringir os financiamentos, por isso não temos muitos problemas graves”, revela, indicando que o banco “está a resolver caso a caso”.
Comparativamente a 2015, Teles aponta que se construiu e se vendeu menos em 2016, daí os bancos terem financiado também menos o sector este ano. “A crise quando aperta, em qualquer país, afecta, de imediato, os projectos imobiliários”, observa o número um do banco BIC, justificando que houve “uma grande diminuição da procura”, com excepção dos apartamentos de renda baixa.
Até ao ano passado, a aposta do banco esteve concentrada nas classes média e média alta, “mas, no último ano, essas classes assustaram-se e o segmento baixo tem procurado mais pelos projectos sociais”, anota Teles para quem “os preços baixaram, de forma significativa, tanto na compra como no arrendamento”.
A carteira de crédito do BIC, juntando o crédito imobiliário e o à habitação, será de cerca de 15% do total concedido em 2015.
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