O CASO
João Lourenço, o mais provável Presidente da República a sair das eleições de Agosto, criticou a corrupção no grande comício de lançamento da pré-campanha do MPLA, que decorreu na Huíla. A generalidade dos observadores aplaudiu o discurso do general, mas também houve críticas. Houve quem entendesse que o candidato do MPLA não explicou como se propõe combater a corrupção, o que é verdade. Acontece que essa crítica é facilmente rebatível pela equipa do candidato do partido no poder, pelo menos por agora.
João Lourenço mal começou a apresentar-se em público. Até terminar a campanha eleitoral, terá muito que falar, pelo que, em termos de estratégia de comunicação, é obrigado a dosear o discurso. Por esta perspectiva, é aceitável que Lourenço não tenha jogado todas as cartas na primeira aparição pública de pré-campanha. A forma como se explicou para juntar o tema da corrupção no discurso foi, de resto, notável. Para Lourenço era importante que o MPLA se antecipasse às críticas da Oposição, mergulhando nas águas movediças da prática que mais lesou até hoje os recursos do Estado. A estratégia é clara: jogar pela antecipação, dificultando em certa medida o espaço de ataque do adversário.
Mas, como já referido, esse ‘raciocínio estratégico’ do MPLA tem os dias contados. Só poderá vigorar até ao momento em que todos forem obrigados a mostrar todos os trunfos de campanha. E, quando chegar essa altura, ficará mais claro até que ponto o primeiro grande compromisso assumido por João Lourenço será para levar a sério, porque aí o candidato do partido governante será obrigado a explicar, sobretudo, o como fazer. Será forçado a dizer que leis pretenderá aprovar. Que instituições serão necessariamente criadas ou reforçadas. E, sobretudo, como deverá gerir o ‘pesadelo’ de uma cúpula de poder, com várias das suas figuras relevantes recorrentemente associadas às práticas de corrupção, dentro e fora de portas.
Enquanto escrevíamos estas linhas, aliás, o Governo angolano reagia às notícias sobre a acusação de corrupção contra o vice-presidente da República, em Portugal. Mais do que contestar a veracidade da acusação contra Manuel Vicente, o Governo mostrou-se insultado particularmente por ter tomado conhecimento do caso através dos jornais. E o protesto que saiu de Luanda direcionado a Lisboa elevou a ameaça ao ponto de as relações entre os dois países serem colocadas em xeque. Não estando em causa a presunção de inocência de que goza o engenheiro Manuel Vicente, o facto é que o país mais uma vez é atingido da forma mais humilhante. O país assiste, outra vez, às suas instituições estruturais a serem ridicularizadas em hasta pública, com o Procurador Geral da República também citado numa encruzilhada de interesses que envergonham a justiça. Combater a corrupção em Angola, em termos líquidos, vai ter de significar mudar tudo isso. Vai implicar que, quando se tornar público o encaminhamento de processos à PGR de suspeitas de corrupção ou de branqueamento de capitais, confirmem-se ou não, deverá haver respostas. Porque, em boa verdade, desde sempre que muita gente anda à espera do primeiro caso de condenação por corrupção, em Angola, por investigação da PGR.
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