O “mano João emocionado” de Proletário
Discursos há que precisam de uma análise profunda. Precisam de passar pela academia. Ser objecto de estudo. Não pelo conteúdo complexo e filosófico, de difícil compreensão, como é o caso dos temas abordados por Immanuel Kant, por exemplo, mas para se perceber o que realmente passa pela cabeça dos que os concebem, porque afinal até o que parece não fazer sentido precisa de ser estudado, compreendido. É o caso dos discursos de João Lourenço, tanto enquanto presidente do MPLA como enquanto Presidente da República. Se ele próprio escreve, se são escritos. Se são revisados ou se ele acha que não precisam. Se é ‘freestyle’, o facto é que dão sempre, impreterivelmente, azo a muita discussão. Ora, no lançamento da agenda política do MPLA, o seu presidente, além de outras pérolas a que já nos vem habituando, vociferou que o seu partido fez mais em 50 anos do que o colono em 500. A comparação por si só já é grosseira e despropositada, na medida em que, como historiador, o líder do MPLA tem a obrigação de saber que o colono não cá veio para melhorar as condições dos nativos, mas, salvo melhor alcance racional, para explorá-los, a eles e aos seus recursos, em beneficio próprio. Elementar.
Mas a comparação consegue ainda ser contraditória, bastando olhar para os vários discursos de João Lourenço em que não só menospreza o trabalho feito pelo seu antecessor como faz sempre questão de lhe passar um atestado de incompetência em todas as áreas, tendo sido feito, inclusive, uma separação da era pré e pós 2017. Em 2022, na campanha eleitoral, chegou mesmo a dizer que, no passado, muito se falava, mas pouco se fazia. Nem mesmo a arquitectura da paz do outro lhe alivia a língua afiada. E como o peixe morre pela boca, João Lourenço, pela primeira vez, deu a mão à palmatória e reconheceu méritos no seu “pai político”. Vá-se lá entender…
Mas esta semana não foi só o peixe graúdo a morrer pela boca. Depois de ter ido à LAC anunciar que não haverá cá terceiros mandatos para quem quer que seja, Rui Falcão foi tundado do departamento de Informação e Propaganda do partido e, em seu lugar, entra Esteves Hilário. Uma exoneração lida pelo próprio exonerado. Outra maka mais… A menos que seja reconduzido para um cargo de maior relevância, é só mais uma peça movimentada pelo xadrezista. Ainda no quadro da reestruturação dos órgãos de direcção do maioritário, Virgílio de Fontes Pereira também saltou da presidência do grupo parlamentar e entrou, para o substituir, o ‘desconhecido’ politico Reis Júnior. Entretanto essas movimentações, discursos e artimanhas não impediram que Angola caísse dois lugares para a posição 115 no ranking internacional sobre o Estado de Direito, que avalia factores como a restrição dos poderes governamentais, a corrupção, a abertura dos governos ao escrutínio ou o cumprimento de direitos fundamentais.
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