LUKOMBO NZATUZOLA, DEMÓGRAFO E SOCIÓLOGO

“O pacote das autarquias nunca se conclui. porque pode ser uma arma na manga

Demógrafo e sociólogo, Lukombo Nzatuzola entende que a nova divisão político-administrativo faz parte de um esquema do MPLA para protelar a realização das eleições autárquicas e até adivinha que o argumento vai ser a falta de infra-estruturas. Alerta que a proposta de criação de 581 municípios deverá agudizar a baixa densidade populacional. Professor universitário, lamenta que os académicos não sejam ouvidos na altura das grandes decisões políticas.

“O pacote das autarquias nunca se conclui. porque pode ser uma arma na manga

Governo argumenta que com a nova divisão político-administrativa far-se-á uma melhor administração e de maior proximidade com a população. Concorda?

Isso é intenção, mas a acção concreta é outra coisa. A intenção é boa, mas quando vamos criar as infra-estruturas? Com que orçamento? Com que pessoal? Não acredito.

Então para que serve a proposta de criação de 581 municípios?

Para contornar as autarquias. Porque o próprio pacote legislativo das autarquias, que pode ser discutido em menos tempo, nunca se conclui. Não avança, porque pode ser uma arma na manga de quem dirige. Agora estão a apresentar a divisão político-administrativa, para depois encontrar uma forma de argumentar que não se realizam as autarquias agora, porque temos as novas entidades administrativas, provinciais e é necessário criar condições de infra-estruturas nestas novas entidades. Se para cento e tal municípios, não conseguiram criar as infra-estruturas, não vejo que consigam criar para 581 municípios. O partido no poder tira sempre proveito disso, porque controla tudo: instituições do Estado, tribunais e imprensa pública. Está tudo sob controlo, até a própria Comissão Nacional Eleitoral. Então vai criar novos administradores que praticamente serão do seu partido. No fundo não vai mudar nada.

 A densidade populacional de Angola é baixa. A nova divisão político-administrativa vai agudizar a situação?

Se consideramos a dimensão do país, é baixa. Mas a se virmos pela maneira como é distribuída, é desequilibrada. A maior densidade está em todo o litoral e nas capitais das províncias. O resto do país, como os brasileiros chamam, é ‘desértico’. Não tem ninguém, não há aldeia, terra cultivada e nem há gado. Como se diz, terra de ninguém, enquanto são terras aráveis. E, por incrível que pareça, importamos quase tudo que consumimos.

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