Os ganhos adormecidos das novas centralidades
cidade do Kilamba, localizada a cerca de 40 quilómetros a sul do centro de Luanda, Angola, é um dos maiores projectos habitacionais do género em África. Conheceu a sua inauguração em Julho de 2011 e, dada a alteração do modo de acesso, tornou-se habitada massivamente desde 2013.
Segundo dados apurados no site da Imogestin S.A, empresa gestora, esta vistosa urbanização conta com 20.000 apartamentos, construídos de um total inicial previsto de 90.000 até ao fim do ambicioso projecto. Grande parte deste gigante anda adormecida placidamente por culpa de um sector privado bastante passivo, bocejando comodamente para as paredes quiméricas do arco-íris, a ver quais das cores mais se realça e apontar com o dedo trémulo para ‘inglês ver’. Contas feitas, 20.000 habitações podem representar 20.000 trabalhadores domésticos.
Surge assim uma pergunta: por onde circula o salário de homens e mulheres desta nova e quimérica urbe que realiza o sonho Angolano e que capital estes agregam para a Economia do país?
Como veremos mais adiante, um convite faz-se à nossa fértil reflexão para acções financeiras relacionadas que podem contribuir para o desenvolvimento e proporcionar outros factores da inclusão que se almeja, abraçando práticas inovadoras, uma das quais a sistematização das receitas por via da bancarização.
Esta centralidade e outras espalhadas pelo país vieram responder, em primeiro plano, a uma estagnação gritante do sector imobiliário e desafogar a procura, assim como ajudou na redução do custo de aquisição de uma ou mais residências e o valor mensal de arrendamento.
Pode parecer um exagero ao assumirmos por tabela a quantidade de trabalhadores mencionados, dada a segmentação económica dos seus habitantes situar-se entre a classe média-baixa e não permitir dar-se ao luxo de padronizar uma casa a um(a) empregado(a), não sendo possível acontecer por cá tal rácio sonhador, nem noutra parte qualquer do planeta terra!
Com a devida permissão do leitor, mantenho a bitola,porque resta agregarmos a este número o corpo de segurança dos edifícios e os jardineiros que prestam serviços em tempo integral. Somam-se ainda os trabalhadores do sector comercial empregados em 48 lojas de conveniências, cafés e outros negócios da urbe. Há a incluir, nas contas, prestadores de serviços eventuais, que abordam diariamente a cidade de 710 edifícios erguidos na vertical.
O sector educacional exibe, de igual modo, muito força com as suas 24 creches, nove escolas primárias, oito secundárias que, de certa forma, entre o corpo de dirigentes, docentes, pessoal administrativo, embora vinculados aos serviços públicos, gostariam de ver resposta aos seus anseios financeiros cada vez mais próximos, no lugar de andar a galgar milhas para uma simples operação.
Nestes quatro anos, estão instaladas apenas duas agências bancarias na cidade. Olhando para uma proporção de 4,6 membros por agregado familiar, segundo o censo de 2015, estaríamos a falar de cerca de noventa mil famílias. E considerando a taxa de 50,3% de população activa, andaríamos por volta de 69 mil clientes já adicionados os trabalhadores efectivos da cidade, número nunca desprezível para qualquer exercício de captação.
Tendo sido a cidade do Kilamba apenas uma amostra, avaliando todas as demais centralidades pelo país, gostaríamos de juntá-la ao seguinte exercício de somar.Quanta pipa de dinheiro se desperdiça nesta falta de bancarização? Que impostos não se cobram nas operações que se fariam? Qual é a quantidade em valor do fisco que se foge de outras actividades? Que somas se fariam nos relatórios financeirosdos lucros sobre as diversasoperações? Quantos créditos seriam vendidos ao volume da potencial carteira de clientes?
Este quadro confirma a existência de um sector financeiro passivo, vencido pelo sector de alimentação e serviços que respondem de imediato à procura local, um sector bancário conformado à letargia do passado, provocando prejuízos enormes à captação de receitas para si e para o Estado que tanto precisa delas nesta época do petróleo minguado.
Importa aconselhar que bancarizar não é apenas o acto de abrir uma conta, encostar nela alguns tostões e deixá-la dormente. Precisa-se que o sector ofereça outros serviços e produtos que estimulem o cidadão a regressar à conta.
Enquanto se olhar para o pequeno cliente bancário como um favor, a continuar-se neste prisma, estaremos longe de ajudar que o país cresça em paralelo.
Estamos em crer que todas estas e outras acções seriam um grande aliado arquitectónico, bitolado no movimento da ginga dos seus habitantes e vê-los caminhar felizes pelas ruas, com manifesto sorriso de satisfação que se agrupa a um bem-estar, como prossuposto de boa vida, conseguindo responder ontem o que o habitante quereria para hoje.
Laurindo Tchoia, especialista em inclusão financeira
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